|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Obtenção é difícil, mas não impossível
WILLIAM J. BROAD
DO "THE NEW YORK TIMES"
Da mesma maneira que cultivar
uma espécie particularmente exótica de planta requer a semente
certa, cultivar antraz virulento a
ponto de matar pessoas requer os
recursos básicos certos.
Os especialistas disseram ontem
que as sementes bacterianas de
esporos de antraz que mataram
um homem e infectaram um segundo, na Flórida, poderiam ter
vindo, em ordem decrescente de
probabilidade, da natureza, de
um banco científico de germes ou
de um dos programas clandestinos de armas bacteriológicas existentes no mundo.
O germe que causa o antraz, o
bacillus anthracis, vive na terra
em todo o mundo e às vezes infesta animais e pessoas. Especialistas
em armas dizem que surtos naturais como esse podem ter sido
uma maneira básica para que um
terrorista obtivesse germes iniciais, ou sementes bacteriológicas. Com sorte e determinação na
obtenção do germe inicial, seria
relativamente fácil cultivar bilhões de derivados para criar uma
arma grosseira.
Mas o antraz também pode ser
obtido de bancos de germes, casas
de materiais científicos que fornecem tecidos orgânicos e outros
fornecedores. Mais de 1.500 bancos de germe em todo o mundo
têm estoques de cerca de 1 milhão
de microorganismos, muitos dos
quais mortíferos. Os hospitais os
encomendam para testar a precisão de seus procedimentos de
diagnóstico, e cientistas e médicos
os empregam para investigar novas terapias.
Nos últimos anos, os Estados
Unidos dificultaram o acesso a esses bancos e seus estoques de germes perigosos, tornando difícil
para terroristas a obtenção de patógenos junto a estabelecimentos
instalados no país.
Raymond H. Cypess, presidente
da American Type Culture Collection, de Manassas, Virgínia, o
maior banco de germes do mundo, diz que sua empresa desde
1997 vem bloqueando o envio a
cientistas de quaisquer patógenos
humanos que possam ser convertidos em armas entre os quais o
antraz.
Mas especialistas norte-americanos dizem que a rede mundial
de bancos de germes é muito menos cautelosa na verificação de
credenciais e que as regras de
transporte são irregulares ou rudimentares.
A Federação Mundial de Coleta
de Culturas, uma organização de
bancos de germes, têm 472 membros registrados, em 61 países.
Quarenta e seis desses membros
oferecem antraz para venda ou
gratuitamente, em troca de outros
organismos.
Cada país define suas regras
quanto a que patógenos podem
ser enviados a que interessados e
sob quais regras de segurança.
"Tudo depende do país", disse
um especialista norte-americano
que não quis que seu nome fosse
mencionado. "Há pouca ou nenhuma coordenação" de regras e
procedimentos que visem a manter germes perigosos longe das
mãos dos terroristas.
Os especialistas dizem que uma
última, se bem que improvável,
fonte de antraz poderia ser um
dos programas clandestinos que
produzem armas bacteriológicas
no mundo.
Ao menos 82 países registraram
casos de antraz em animais, e milhares de casos humanos ocorrem
a cada ano, em geral nos países
em desenvolvimento. A doença
afeta a América do Norte há séculos, infectando animais e pessoas
com frequência decrescente nos
últimos anos.
Mas um terrorista que desejasse
usar germes obtidos em um desses surtos para matar pessoas teria de encontrar uma variedade
virulenta.
Texto Anterior: Saiba mais: Casos naturais da doença são raros no Brasil Próximo Texto: Alerta: Ásia e Europa vivem medo do antraz Índice
|