São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001

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Obtenção é difícil, mas não impossível

WILLIAM J. BROAD
DO "THE NEW YORK TIMES"

Da mesma maneira que cultivar uma espécie particularmente exótica de planta requer a semente certa, cultivar antraz virulento a ponto de matar pessoas requer os recursos básicos certos.
Os especialistas disseram ontem que as sementes bacterianas de esporos de antraz que mataram um homem e infectaram um segundo, na Flórida, poderiam ter vindo, em ordem decrescente de probabilidade, da natureza, de um banco científico de germes ou de um dos programas clandestinos de armas bacteriológicas existentes no mundo.
O germe que causa o antraz, o bacillus anthracis, vive na terra em todo o mundo e às vezes infesta animais e pessoas. Especialistas em armas dizem que surtos naturais como esse podem ter sido uma maneira básica para que um terrorista obtivesse germes iniciais, ou sementes bacteriológicas. Com sorte e determinação na obtenção do germe inicial, seria relativamente fácil cultivar bilhões de derivados para criar uma arma grosseira.
Mas o antraz também pode ser obtido de bancos de germes, casas de materiais científicos que fornecem tecidos orgânicos e outros fornecedores. Mais de 1.500 bancos de germe em todo o mundo têm estoques de cerca de 1 milhão de microorganismos, muitos dos quais mortíferos. Os hospitais os encomendam para testar a precisão de seus procedimentos de diagnóstico, e cientistas e médicos os empregam para investigar novas terapias.
Nos últimos anos, os Estados Unidos dificultaram o acesso a esses bancos e seus estoques de germes perigosos, tornando difícil para terroristas a obtenção de patógenos junto a estabelecimentos instalados no país.
Raymond H. Cypess, presidente da American Type Culture Collection, de Manassas, Virgínia, o maior banco de germes do mundo, diz que sua empresa desde 1997 vem bloqueando o envio a cientistas de quaisquer patógenos humanos que possam ser convertidos em armas entre os quais o antraz.
Mas especialistas norte-americanos dizem que a rede mundial de bancos de germes é muito menos cautelosa na verificação de credenciais e que as regras de transporte são irregulares ou rudimentares.
A Federação Mundial de Coleta de Culturas, uma organização de bancos de germes, têm 472 membros registrados, em 61 países. Quarenta e seis desses membros oferecem antraz para venda ou gratuitamente, em troca de outros organismos.
Cada país define suas regras quanto a que patógenos podem ser enviados a que interessados e sob quais regras de segurança. "Tudo depende do país", disse um especialista norte-americano que não quis que seu nome fosse mencionado. "Há pouca ou nenhuma coordenação" de regras e procedimentos que visem a manter germes perigosos longe das mãos dos terroristas.
Os especialistas dizem que uma última, se bem que improvável, fonte de antraz poderia ser um dos programas clandestinos que produzem armas bacteriológicas no mundo.
Ao menos 82 países registraram casos de antraz em animais, e milhares de casos humanos ocorrem a cada ano, em geral nos países em desenvolvimento. A doença afeta a América do Norte há séculos, infectando animais e pessoas com frequência decrescente nos últimos anos.
Mas um terrorista que desejasse usar germes obtidos em um desses surtos para matar pessoas teria de encontrar uma variedade virulenta.


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