São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001

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Testemunhas falam em dezenas de mortes

RICHARD LLOYD PARRY
DO "INDEPENDENT", EM PESHAWAR

Até dois dias atrás, quando bombas começaram a despencar, o vilarejo de Karam era um lugar sem importância: 60 casas a 16 quilômetros de Jalalabad.
Danish Karwakhel, correspondente afegão de um jornal paquistanês, passou por lá a caminho do Paquistão. Os camponeses criam gado; umas poucas famílias nômades páram ali de tempos em tempos. Nada de especial.
Mas, segundo Karwakhel, que foi entrevistado em Peshawar (Paquistão) ontem à noite, muitos civis inocentes foram mortos por bombas britânicas ou norte-americanas em Karam, no distrito de Surkhurude, na manhã de quinta-feira. Outras testemunhas, ouvidas ontem em Peshawar pelo "Independent", falaram de outras tragédias causadas por bombas que erraram seus alvos.
Porta-vozes do Taleban fizeram afirmações semelhantes na quinta-feira, e elas foram negadas pelos EUA e pelo Reino Unido.
Ainda há poucos relatos, mas eles são consistentes ao narrar aquilo que os aliados da coalizão contra o terrorismo estão desesperados para negar: os ataques ocorreram, e muitos civis foram mortos. Eles sugerem, contradizendo relatos iniciais, que os bombardeios estão causando um número tragicamente alto de mortes de civis inocentes.
Karwakhel, segundo seu depoimento ao jornal paquistanês "Dawn", chegou a Karam no início da tarde de quinta-feira. Nas poucas horas de sua estadia, ele viu dois funerais -um de um grupo de dez pessoas e outro de um grupo de cinco. O vilarejo inteiro estava ocupado em enterrar seus mortos. Disseram-lhe que 150 civis haviam morrido naquela área, incluindo vilarejos vizinhos.
O clima era mais de tristeza do que de raiva, disse, e as razões do ataque, ou erro trágico, não eram difíceis de identificar. Até poucos anos atrás, segundo os habitantes do vilarejo, campos de treinamento de terroristas da rede de Osama bin Laden operavam nas colinas do vale onde fica Karam.
A segunda tragédia ocorreu em Jalalabad, onde Mohammed Rahim, 19, parou ontem em seu caminho para o Paquistão e viu dezenas de caixões enfileirados na Mesquita de Sultanpur.
Rahim iniciara sua viagem no vilarejo de Darunta, também próximo de Jalalabad, onde destruição semelhante foi relatada por vários refugiados. Jan Mohammed, 43, disse que dois civis morreram no vilarejo e que muitos feridos agonizavam no hospital Sehat-e-Ama, em Jalalabad, que não tem recursos para tratá-los.
Parece improvável que uma bomba cujo alvo é uma instalação militar atinja um vilarejo remoto. Mas diplomatas ofereceram outra explicação ontem. Segundo eles, funcionários afegãos de agências estrangeiras que retornaram recentemente de Cabul disseram ter visto instalações militares do Taleban sendo deliberadamente transferidas para áreas residenciais -seja para desencorajar bombardeios, seja para aumentar o número de civis mortos e, assim, a repulsa moral aos ataques.


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