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Testemunhas falam
em dezenas de mortes
RICHARD LLOYD PARRY
DO "INDEPENDENT", EM PESHAWAR
Até dois dias atrás, quando
bombas começaram a despencar,
o vilarejo de Karam era um lugar
sem importância: 60 casas a 16
quilômetros de Jalalabad.
Danish Karwakhel, correspondente afegão de um jornal paquistanês, passou por lá a caminho do
Paquistão. Os camponeses criam
gado; umas poucas famílias nômades páram ali de tempos em
tempos. Nada de especial.
Mas, segundo Karwakhel, que
foi entrevistado em Peshawar
(Paquistão) ontem à noite, muitos civis inocentes foram mortos
por bombas britânicas ou norte-americanas em Karam, no distrito de Surkhurude, na manhã de
quinta-feira. Outras testemunhas,
ouvidas ontem em Peshawar pelo
"Independent", falaram de outras
tragédias causadas por bombas
que erraram seus alvos.
Porta-vozes do Taleban fizeram
afirmações semelhantes na quinta-feira, e elas foram negadas pelos EUA e pelo Reino Unido.
Ainda há poucos relatos, mas
eles são consistentes ao narrar
aquilo que os aliados da coalizão
contra o terrorismo estão desesperados para negar: os ataques
ocorreram, e muitos civis foram
mortos. Eles sugerem, contradizendo relatos iniciais, que os
bombardeios estão causando um
número tragicamente alto de
mortes de civis inocentes.
Karwakhel, segundo seu depoimento ao jornal paquistanês
"Dawn", chegou a Karam no início da tarde de quinta-feira. Nas
poucas horas de sua estadia, ele
viu dois funerais -um de um
grupo de dez pessoas e outro de
um grupo de cinco. O vilarejo inteiro estava ocupado em enterrar
seus mortos. Disseram-lhe que
150 civis haviam morrido naquela
área, incluindo vilarejos vizinhos.
O clima era mais de tristeza do
que de raiva, disse, e as razões do
ataque, ou erro trágico, não eram
difíceis de identificar. Até poucos
anos atrás, segundo os habitantes
do vilarejo, campos de treinamento de terroristas da rede de
Osama bin Laden operavam nas
colinas do vale onde fica Karam.
A segunda tragédia ocorreu em
Jalalabad, onde Mohammed Rahim, 19, parou ontem em seu caminho para o Paquistão e viu dezenas de caixões enfileirados na
Mesquita de Sultanpur.
Rahim iniciara sua viagem no
vilarejo de Darunta, também próximo de Jalalabad, onde destruição semelhante foi relatada por
vários refugiados. Jan Mohammed, 43, disse que dois civis morreram no vilarejo e que muitos feridos agonizavam no hospital Sehat-e-Ama, em Jalalabad, que não
tem recursos para tratá-los.
Parece improvável que uma
bomba cujo alvo é uma instalação
militar atinja um vilarejo remoto.
Mas diplomatas ofereceram outra
explicação ontem. Segundo eles,
funcionários afegãos de agências
estrangeiras que retornaram recentemente de Cabul disseram ter
visto instalações militares do Taleban sendo deliberadamente
transferidas para áreas residenciais -seja para desencorajar
bombardeios, seja para aumentar
o número de civis mortos e, assim, a repulsa moral aos ataques.
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