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MÍDIA
Governos dos EUA sempre tentaram impor algum tipo de censura a correspondentes
Nas guerras, jornais oscilaram entre patriotismo e crítica
DA REPORTAGEM LOCAL
A cobertura de guerra feita pela imprensa americana oscilou
historicamente entre a inserção
voluntária dos jornalistas como
membros patrióticos do "esforço
de guerra" e seu papel de críticos
ferozes da conduta de suas Forças Armadas.
Governos e militares sempre
tentaram impor alguma forma
de censura à cobertura independente dos conflitos, e a imprensa
lutou -em variados graus- para se adequar à situação. Existem
dois obstáculos básicos para cobrir uma guerra: o acesso ao
campo de batalha e a capacidade
de transmitir a informação, com
ou sem censura prévia.
Na Guerra do Vietnã os correspondentes tinham acesso praticamente ilimitado ao campo de
batalha graças a helicópteros nos
quais podiam embarcar com facilidade.
Na Segunda Guerra Mundial
havia censura militar e os correspondentes usavam o mesmo
uniforme do Exército dos EUA.
O general Dwight Eisenhower,
comandante supremo das forças
aliadas na Europa e presidente
americano depois da guerra, afirmou que "correspondentes têm
em uma guerra um trabalho tão
essencial quanto o pessoal militar; fundamentalmente, a opinião pública ganha guerras".
Publicar fotos de soldados
americanos mortos era um tabu
poucas vezes quebrado. A revista
"Life" publicou em 1943 uma foto de três americanos mortos em
uma praia do Pacífico, feitas por
George Strock. "Homens morrem em vão se os vivos se recusam a olhar para eles", foi a reveladora legenda. Mesmo assim, as
fotos não mostram sangue nem
corpos dilacerados.
Um eco recente dessa atitude
foi a reduzidíssima divulgação de
fotos mais chocantes dos atentados em Nova York e contra o
Pentágono. Poucas fotos de cadáveres foram publicadas.
Já durante a intervenção americana na Indochina, a mesma
"Life" publicou uma clássica reportagem fotográfica, feita pelo
fotógrafo britânico Larry Burrows, da morte de um piloto de
helicóptero. Burrows tentou ajudar a tripulação a resgatar um piloto abatido, que morreu.
Um grupo pequeno de jornalistas iniciou uma cobertura crítica da intervenção americana já
no começo dos anos 60 -principalmente os americanos David
Halberstam e Neil Sheehan e o
neozelandês Peter Arnett (o mesmo que depois cobriu a Guerra
do Golfo em Bagdá pela CNN).
Sheehan protagonizou depois
um dos mais polêmicos episódios da disputa entre o governo e
a imprensa, quando uma reportagem dele iniciou a publicação
dos chamados Papéis do Pentágono, em 1971. Os documentos
mostravam que a visão pessimista dos correspondentes sobre a
possibilidade de ganhar a Guerra
no Vietnã também era partilhada
por membros do governo americana, que, no entanto, insistia em
prosseguir a guerra e não divulgava a verdade sobre ela.
O então presidente Richard Nixon tentou bloquear a publicação dos documentos. A Suprema
Corte americana deu ganho de
causa ao "The New York Times",
por 6 votos a 3.
Na Guerra do Golfo (1991), dos
cerca de 1.600 jornalistas na Arábia Saudita só uma minoria chegou ao campo de batalha. "Para
os 10% de nós que fomos a campo, entretanto, descobrimos que
os militares também tinham encontrado maneiras de tornar as
condições de trabalho ali mais
difíceis. Nós encontrávamos
múltiplas camadas de controle",
afirmou John Fialka, que cobriu
a guerra pelo "The Wall Street
Journal". "Barreiras pareciam
surgir automaticamente para
borrar a realidade", disse ele.
(RICARDO BONALUME NETO)
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