São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001

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MÍDIA

Governos dos EUA sempre tentaram impor algum tipo de censura a correspondentes

Nas guerras, jornais oscilaram entre patriotismo e crítica

DA REPORTAGEM LOCAL

A cobertura de guerra feita pela imprensa americana oscilou historicamente entre a inserção voluntária dos jornalistas como membros patrióticos do "esforço de guerra" e seu papel de críticos ferozes da conduta de suas Forças Armadas.
Governos e militares sempre tentaram impor alguma forma de censura à cobertura independente dos conflitos, e a imprensa lutou -em variados graus- para se adequar à situação. Existem dois obstáculos básicos para cobrir uma guerra: o acesso ao campo de batalha e a capacidade de transmitir a informação, com ou sem censura prévia.
Na Guerra do Vietnã os correspondentes tinham acesso praticamente ilimitado ao campo de batalha graças a helicópteros nos quais podiam embarcar com facilidade.
Na Segunda Guerra Mundial havia censura militar e os correspondentes usavam o mesmo uniforme do Exército dos EUA.
O general Dwight Eisenhower, comandante supremo das forças aliadas na Europa e presidente americano depois da guerra, afirmou que "correspondentes têm em uma guerra um trabalho tão essencial quanto o pessoal militar; fundamentalmente, a opinião pública ganha guerras".
Publicar fotos de soldados americanos mortos era um tabu poucas vezes quebrado. A revista "Life" publicou em 1943 uma foto de três americanos mortos em uma praia do Pacífico, feitas por George Strock. "Homens morrem em vão se os vivos se recusam a olhar para eles", foi a reveladora legenda. Mesmo assim, as fotos não mostram sangue nem corpos dilacerados.
Um eco recente dessa atitude foi a reduzidíssima divulgação de fotos mais chocantes dos atentados em Nova York e contra o Pentágono. Poucas fotos de cadáveres foram publicadas.
Já durante a intervenção americana na Indochina, a mesma "Life" publicou uma clássica reportagem fotográfica, feita pelo fotógrafo britânico Larry Burrows, da morte de um piloto de helicóptero. Burrows tentou ajudar a tripulação a resgatar um piloto abatido, que morreu.
Um grupo pequeno de jornalistas iniciou uma cobertura crítica da intervenção americana já no começo dos anos 60 -principalmente os americanos David Halberstam e Neil Sheehan e o neozelandês Peter Arnett (o mesmo que depois cobriu a Guerra do Golfo em Bagdá pela CNN).
Sheehan protagonizou depois um dos mais polêmicos episódios da disputa entre o governo e a imprensa, quando uma reportagem dele iniciou a publicação dos chamados Papéis do Pentágono, em 1971. Os documentos mostravam que a visão pessimista dos correspondentes sobre a possibilidade de ganhar a Guerra no Vietnã também era partilhada por membros do governo americana, que, no entanto, insistia em prosseguir a guerra e não divulgava a verdade sobre ela.
O então presidente Richard Nixon tentou bloquear a publicação dos documentos. A Suprema Corte americana deu ganho de causa ao "The New York Times", por 6 votos a 3.
Na Guerra do Golfo (1991), dos cerca de 1.600 jornalistas na Arábia Saudita só uma minoria chegou ao campo de batalha. "Para os 10% de nós que fomos a campo, entretanto, descobrimos que os militares também tinham encontrado maneiras de tornar as condições de trabalho ali mais difíceis. Nós encontrávamos múltiplas camadas de controle", afirmou John Fialka, que cobriu a guerra pelo "The Wall Street Journal". "Barreiras pareciam surgir automaticamente para borrar a realidade", disse ele.
(RICARDO BONALUME NETO)



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