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Xeques em SP exortam
levante contra Israel
ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL
"A batalha que hoje travamos é
a batalha entre duas culturas. De
um lado, a nossa crença, que adora o Deus único, prega a verdade e
incentiva os valores humanos. Do
outro, a crença deles, que adora o
ouro e incentiva a imoralidade.
Não há libertinagem que não esteja do lado de lá. Se Deus quiser,
nossa crença vencerá."
Empolgado, o xeque Salah Sleiman, 35, um paulistano de ascendência libanesa, traduziu assim o
discurso em árabe do parceiro
egípcio Mustafa Chukri Ismail. Os
dois líderes religiosos conduziram ontem o tradicional culto das
sextas-feiras na Mesquita Brasil
(região central de SP).
Cerca de 1.300 muçulmanos
participaram da cerimônia, que
começou às 12h15 e durou uma
hora. O xeque egípcio a presidiu.
Como ele não fala português, o
paulistano traduzia-lhe os pronunciamentos -e os reiterava.
Os islâmicos consideram a sexta-feira um dia sagrado. A de ontem tornou-se ainda mais significativa por ser a primeira desde os
bombardeios no Afeganistão.
Raras vezes, porém, os xeques
mencionaram diretamente o assunto. Preferiram se concentrar
na atual Intifada, a revolta palestina contra a ocupação israelense
que teve início em setembro do
ano passado. Era disso que Ismail
tratava quando se referiu à "batalha entre duas culturas".
Para extremistas árabes, o apoio
que Israel recebe dos norte-americanos justifica ataques terroristas nos Estados Unidos. O próprio
Osama bin Laden fez a associação
em recente depoimento à TV Al
Jazeera, de Qatar.
Se não relacionaram a Intifada
com os atentados, os xeques da
Mesquita Brasil -a mais antiga
da América Latina- tampouco
adotaram retórica pacifista. Afirmavam coisas como:
* "Nosso dever é lutar até recuperarmos Jerusalém e as terras
abençoadas, que os israelenses
nos usurparam."
* "Os judeus pensaram que a
bendita Intifada seria apenas um
lampejo que iria se apagar rapidamente. Entretanto, já entrou no
segundo ano. A revolução das pedras apavora os judeus. Eles se escondem atrás dos carros blindados, mesmo possuindo armas pesadas. Que serventia têm tais armas? Alá, por intermédio das
crianças, está arremessando as
pedras contra os judeus."
Somente depois de discorrer sobre o conflito árabe-israelense é
que os xeques abordaram a guerra antiterror. Lembraram que o
governo norte-americano resolveu, agora, defender explicitamente a criação de um Estado palestino para atrair o apoio de países do Oriente Médio.
"Vejam vocês: eles aceitam nos
dar a terra em troca da paz", discursou Ismail. "Mas a terra que
querem nos dar é de quem? Deles?
Não. Aquela terra já é nossa. Ninguém estará nos dando nada."
Por fim, em razão do Dia das
Crianças, os líderes religiosos pediram a proteção de Alá para meninos e meninas do Afeganistão e
da Palestina.
Seis fiéis que assistiram à cerimônia disseram à Folha concordar com as palavras dos xeques.
Todos repudiaram os atentados
sofridos pelos EUA e rechaçaram
o terrorismo, mas também classificaram de injustas as represálias
contra os afegãos.
Indagado se pregações como as
de ontem não poderiam estimular mais violência, o cardiologista
Adil Fares, 41, de origem libanesa,
respondeu: "Não estimulam, não.
Apenas exortam os muçulmanos
a defender e recuperar o que lhes
pertence".
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