São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001

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Para especialistas, ONU falha contra Aids

DO "THE INDEPENDENT"

Kofi Annan, 63, secretário-geral da ONU, foi elogiado pelo comitê do Nobel por ter "encarado novos desafios, como o HIV e a Aids". Mas especialistas em medicina e militantes por tratamentos acessíveis dizem que a ONU tem um histórico negativo no combate à propagação do vírus.
Críticos dizem que, nos anos 80 e início dos 90, quando claras evidências epidemiológicas indicavam que o vírus da Aids estava se propagando nos países em desenvolvimento, a ONU aceitou alegações de governos africanos segundo as quais os índices de HIV em seus países eram baixos ou equivalentes a zero.
No último ano, a Unaids (Programa das Nações Unidas para a Aids) admitiu que 34,3 milhões de pessoas estavam infectadas pelo HIV. Dentre elas, 24,5 milhões viviam na África subsaariana.
Zackie Achmat, representante da ONG Campanha Sul-Africana Ação e Tratamento, aplaudiu o anúncio do secretário-geral da ONU, em junho, de que um fundo global de luta contra a epidemia será criado.
Mas Achmat disse que havia poucas evidências de que a iniciativa ofereceria tratamento ao alcance das pessoas mais pobres do mundo.
"Nós temos receio de que o fundo global vá ser usado simplesmente para subsidiar companhias farmacêuticas. Não está claro, por exemplo, que o fundo usará medicamentos genéricos, mais baratos", disse.
"A ONU tem também frequentemente representado os interesses da parte rica do mundo. Ela não tem sido suficientemente representativa para a maioria dos países pobres", afirmou Achmat.

Fundo global
Segundo o representante da ONG, "enquanto Annan tem dito que o fundo global contra a Aids precisa de US$ 10 bilhões anuais, a arrecadação chegou a meros US$ 400 milhões".
"A Aids mata mais de 6.000 africanos toda semana, e os Estados Unidos deram US$ 200 milhões para o fundo. Depois que 6.000 pessoas morreram nos atentados nos EUA, o governo americano disse que bacará os US$ 40 bilhões do custo para a reconstrução das torres gêmeas do World Trade Center", disse Achmat.
Em Paris, a organização Médicos Sem Fronteiras, Nobel da Paz do ano passado, preferiu não criticar a Unaids. "Nós temos de questioná-los quando não estão cumprindo seu papel, mas não é apropriado criticar seu trabalho no dia em que o Nobel é anunciado", disse a porta-voz do grupo médico.

Trabalho insuficiente
O especialista em Aids Michel Lavollay, consultor para assuntos de saúde na Embaixada da França em Washington D.C., disse que o trabalho da ONU tem sido insuficiente para lidar com a epidemia de Aids.
"Kofi Annan está pessoalmente interessado e envolvido na luta contra a Aids. Infelizmente, isso não significa que tenha tido sucesso. A OMS [Organização Mundial da Saúde" tem muito o que fazer, e a ONU, de um modo geral, não tem respondido satisfatoriamente aos desafios consideráveis que a epidemia representa", disse Lavollay, antigo funcionário da OMS.
Apesar das críticas, Annan foi elogiado pelo governo norte-americano no que diz respeito à ação da ONU contra a Aids. Segundo o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, o secretário-geral exerce uma "notável liderança" e trouxe um "novo foco" para o combate à epidemia.


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