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Para especialistas, ONU falha contra Aids
DO "THE INDEPENDENT"
Kofi Annan, 63, secretário-geral
da ONU, foi elogiado pelo comitê
do Nobel por ter "encarado novos
desafios, como o HIV e a Aids".
Mas especialistas em medicina e
militantes por tratamentos acessíveis dizem que a ONU tem um
histórico negativo no combate à
propagação do vírus.
Críticos dizem que, nos anos 80
e início dos 90, quando claras evidências epidemiológicas indicavam que o vírus da Aids estava se
propagando nos países em desenvolvimento, a ONU aceitou alegações de governos africanos segundo as quais os índices de HIV em
seus países eram baixos ou equivalentes a zero.
No último ano, a Unaids (Programa das Nações Unidas para a
Aids) admitiu que 34,3 milhões de
pessoas estavam infectadas pelo
HIV. Dentre elas, 24,5 milhões viviam na África subsaariana.
Zackie Achmat, representante
da ONG Campanha Sul-Africana
Ação e Tratamento, aplaudiu o
anúncio do secretário-geral da
ONU, em junho, de que um fundo
global de luta contra a epidemia
será criado.
Mas Achmat disse que havia
poucas evidências de que a iniciativa ofereceria tratamento ao alcance das pessoas mais pobres do
mundo.
"Nós temos receio de que o fundo global vá ser usado simplesmente para subsidiar companhias
farmacêuticas. Não está claro, por
exemplo, que o fundo usará medicamentos genéricos, mais baratos", disse.
"A ONU tem também frequentemente representado os interesses da parte rica do mundo. Ela
não tem sido suficientemente representativa para a maioria dos
países pobres", afirmou Achmat.
Fundo global
Segundo o representante da
ONG, "enquanto Annan tem dito
que o fundo global contra a Aids
precisa de US$ 10 bilhões anuais, a
arrecadação chegou a meros US$
400 milhões".
"A Aids mata mais de 6.000 africanos toda semana, e os Estados
Unidos deram US$ 200 milhões
para o fundo. Depois que 6.000
pessoas morreram nos atentados
nos EUA, o governo americano
disse que bacará os US$ 40 bilhões
do custo para a reconstrução das
torres gêmeas do World Trade
Center", disse Achmat.
Em Paris, a organização Médicos Sem Fronteiras, Nobel da Paz
do ano passado, preferiu não criticar a Unaids. "Nós temos de
questioná-los quando não estão
cumprindo seu papel, mas não é
apropriado criticar seu trabalho
no dia em que o Nobel é anunciado", disse a porta-voz do grupo
médico.
Trabalho insuficiente
O especialista em Aids Michel
Lavollay, consultor para assuntos
de saúde na Embaixada da França
em Washington D.C., disse que o
trabalho da ONU tem sido insuficiente para lidar com a epidemia
de Aids.
"Kofi Annan está pessoalmente
interessado e envolvido na luta
contra a Aids. Infelizmente, isso
não significa que tenha tido sucesso. A OMS [Organização Mundial da Saúde" tem muito o que fazer, e a ONU, de um modo geral,
não tem respondido satisfatoriamente aos desafios consideráveis
que a epidemia representa", disse
Lavollay, antigo funcionário da
OMS.
Apesar das críticas, Annan foi
elogiado pelo governo norte-americano no que diz respeito à
ação da ONU contra a Aids. Segundo o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, o secretário-geral exerce
uma "notável liderança" e trouxe
um "novo foco" para o combate à
epidemia.
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