São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Vice de Saddam afirma que inspetores podem ir aonde quiserem; religiosos decretam fatwa anti-EUA em Bagdá

Iraque diz admitir inspeções de palácios de Saddam

DA REDAÇÃO

O vice-presidente do Iraque disse em entrevista publicada ontem que o seu país está disposto a permitir a entrada dos inspetores de armas da ONU nos palácios do ditador Saddam Hussein.
"Até onde sabemos, os inspetores podem procurar e inspecionar em qualquer lugar que queiram", afirmou Taha Yassin Ramadan à revista alemã "Der Spiegel", indagado sobre os palácios presidenciais -um dos motivos de controvérsia entre Bagdá e os EUA.
Washington acusa Saddam de utilizar seus gigantescos palácios para esconder armas de destruição em massa. O Iraque nega possuir ou estar desenvolvendo armamentos dessa natureza.
Segundo um acordo feito em 1998 entre o regime iraquiano e a ONU, as inspeções desses oito palácios devem obedecer alguns procedimentos excepcionais. As visitas não podem ser feitas de surpresa: os inspetores precisam alertar o governo com antecedência sobre a data e o horário. Também são obrigados a revelar a composição das equipes de inspetores que irão aos palácios.
O presidente americano, George W. Bush, exige agora a retomada das inspeções seguindo regras mais rigorosas. Segundo proposta de resolução dos EUA em discussão no Conselho de Segurança (CS) da ONU, nenhum lugar estaria fora do alcance dos inspetores.
A declaração de Ramadan não deixa claro, porém, se o seu regime está disposto a abrir os palácios aos inspetores sem restrições ou se as visitas seriam realizadas de acordo com aqueles procedimentos determinados em 1998 e rejeitados por Washington.
O Reino Unido, aliado dos EUA na campanha contra o Iraque, sugeriu ontem que a probabilidade de haver uma guerra estaria diminuindo já que, diante das ameaças de um ataque, Saddam estaria fazendo concessões.
"Há apenas quatro semanas, eles diziam que não receberiam os inspetores de volta de jeito nenhum", disse o chanceler Jack Straw. "Só há uma razão para eles terem ido tão longe -mas ainda não suficientemente longe. E essa razão é a ameaça do uso da força."
Ele acrescentou: "Estamos nos deparando aqui com um paradoxo. Quanto mais firmes e duros formos sobre o fato de que usaremos a força contra o Iraque (...), maiores as chances de haver uma resolução pacífica."
Na sexta-feira, o Iraque declarou estar pronto para receber de volta os inspetores a partir de 19 de outubro, como ficou acertado durante reunião entre diplomatas iraquianos e o chefe dos inspetores de armas da ONU, Hans Blix.
Blix, disse depois, porém, que a primeira equipe só seria enviada ao país após a aprovação no CS de uma resolução determinando diretrizes mais rigorosas para as inspeções. Um debate sobre a questão no Conselho está marcado para a próxima quarta-feira.

Fatwa
Cerca de 450 líderes muçulmanos do Iraque reunidos ontem em Bagdá declararam uma fatwa (decreto religioso) convocando a uma "guerra santa" contra os EUA e seus aliados em caso de um ataque ao país. "Se uma agressão for lançada, a "guerra santa" contra a administração americana do mal se transformará em um dever de todo muçulmano", diz a fatwa.
O Parlamento iraquiano faria ontem uma sessão de emergência, possivelmente para aprovar uma resposta à decisão do Congresso dos EUA, que autorizou Bush a usar força militar contra Bagdá.

Kuait
Autoridades kuaitianas disseram ter prendido 26 suspeitos que teriam formado uma "célula" semelhante às organizadas pela rede terrorista Al Qaeda para atacar alvos americanos. Dois membros do grupo morreram na terça-feira após matarem um fuzileiro naval dos EUA durante exercícios militares no Kuait.


Com agências internacionais


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