São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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POLÍTICA

O presidente espera sair da eleição parlamentar com o controle do Legislativo, o que nenhum republicano consegue desde 53

Bush busca poder raro na política dos EUA

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Enquanto tenta extrair da ONU uma resolução que estabeleça o uso automático da força contra o Iraque, o presidente George W. Bush dedica-se a uma outra batalha, de natureza doméstica, que poderá lhe dar um poder raro na história política americana.
Se seu partido retomar o Congresso nas eleições de 5 de novembro, será a primeira vez, desde 1953, que um presidente republicano terá o controle simultâneo das duas Casas do Legislativo por pelo menos dois anos.
Considerando o alinhamento ideológico que existe hoje entre Bush e a Suprema Corte dos EUA, uma vitória republicana em novembro teria um significado ainda maior: seria a primeira vez desde 1929 que um presidente teria força nos três Poderes.
Ciente disso, o presidente já coletou pessoalmente mais de US$ 136 milhões para os candidatos de seu partido. Além disso, a Casa Branca atrelou a agenda de Bush ao cronograma eleitoral. O presidente estará fora de Washington em duas das próximas três semanas, participando de comícios em oito Estados considerados vitais para definir a balança de poder.
No dia 5 de novembro, estarão em jogo 34 das 100 cadeiras do Senado e todas as 435 na Câmara dos Representantes (deputados).
Os democratas precisam obter sete cadeiras dos republicanos para conquistar a maioria na Câmara. No Senado, basta aos republicanos adicionar um único senador à sua bancada para retomar o controle da Casa, perdido em maio quando um de seus membros tornou-se independente.
Um Congresso totalmente controlado pelos democratas poderia comprometer as chances de Bush de reeleger-se presidente em 2006. Já um Congresso controlado pela Casa Branca poderia dar ao presidente mais um mandato e o poder de reformar o governo federal com uma liberdade não vista desde a desregulamentação econômica feita por Reagan.
A importância das eleições de novembro pode ser comprovada pelo volume inédito de doações eleitorais até agora. Os candidatos democratas arrecadaram US$ 228 milhões, e os republicanos, quase o dobro: US$ 404 milhões.
Os republicanos têm a vantagem financeira, mas lutam contra uma tradição que lhes é desfavorável. Desde 1913, quando o voto direto foi implemento para o Senado nos EUA, o partido que controla a Casa Branca perdeu cadeiras no Congresso em 75% das "midterm elections", como são chamadas as eleições que não coincidem com a presidencial.
Há várias teorias para explicar esse fenômeno. Uma delas seria a disposição dos eleitores de reforçar o sistema de freios e contrapesos, "amarrando" o presidente por meio do fortalecimento da oposição no Congresso.
Os republicanos reconhecem essa tendência histórica, mas preferem traçar comparações com as exceções, e não com a regra. Eles apontam para as semelhanças entre o quadro político atual, dominado pelas discussões sobre o Iraque e sobre a guerra contra o terror, e aquele da crise dos mísseis em Cuba, em 1962, na qual o Partido Democrata, do então presidente John F. Kennedy, conseguiu aumentar sua bancada nas eleições parlamentares.
"O Iraque tem sido tema central dos discursos de Bush porque é isso que os eleitores querem ouvir. Mas não podemos nos iludir: Bush aponta para Saddam Hussein, mas seus olhos miram as urnas", disse Jennifer Duffy, analista política do "Cook Political Report", uma respeitada newsletter sobre política americana.
Estrategistas democratas apostam que a preocupação máxima dos eleitores na hora do voto será a fragilidade da economia. Pesquisas são conflitantes sobre a prioridade número um dos eleitores. Algumas mostram a guerra contra o terror. Outros, a manutenção dos empregos.
Para reforçar sua tese, os democratas realizaram anteontem um fórum para debater formas de reativar a economia. O líder democrata no Senado, Tom Daschle, definiu assim a visão de seu partido sobre a opinião pública americana: "No ano passado, tínhamos medo de abrir a caixa de correio por causa do antraz. Hoje, temos medo de abrir a caixa de correio porque os extratos de 401k [planos de aposentadoria individuais baseados em ações] vão mostrar quanto dinheiro já perdemos."



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