MARCIO AITH
de Washington

A opção do Partido Republicano norte-americano de tentar barrar na Justiça a contagem manual de votos na Flórida e os primeiros resultados dessa contagem, anunciados na madrugada de sábado, deram ontem uma enorme injeção de ânimo ao candidato democrata Al Gore, vice-presidente dos Estados Unidos.
Os novos fatos mudaram a estratégia dos dois partidos verificada desde as eleições, ocorridas seis dias atrás: os democratas, que antes pediam uma apuração cuidadosa e minuciosa dos votos, defendem agora a solução do problema em uma "questão de dias"; já os republicanos, que, anteriormente, criticavam a ameaça democrata de recorrer à Justiça, pediram a um juiz de Miami para interromper uma trajetória que parece lhes ser desfavorável.
A recontagem manual de apenas 1% dos votos no condado de Palm Beach mostrou um ganho líquido de 19 votos para Gore. Como a diferença entre os dois candidatos no Estado teria ficado em apenas 961 votos, de acordo com contas oficiais parciais, a recontagem manual em todo o condado poderia dar a vitória a Gore, garantindo-lhe 1.900 votos a mais que Bush no cômputo final.
Como pelo menos outros dois condados no Estado também estão contando manualmente os votos, a pedido dos democratas, a campanha de Gore ganhou um fôlego que esperava desde a semana passada.
A Flórida vale 25 votos no Colégio Eleitoral norte-americano e transformou-se no fiel da balança da disputa pela Casa Branca.
A disputa no Estado definirá se a Presidência dos EUA será de Gore ou do candidato republicano George W. Bush, governador do Texas.
Os 99% dos votos restantes no condado de Palm Beach seriam recontados a partir de hoje.
Isso só não será feito se os republicanos obtiverem a ordem judicial que solicitaram para impedir essa recontagem.
O juiz que recebeu o processo republicano marcou uma audiência para hoje de manhã.

Definição em dias
Numa entrevista à rede NBC, o ex-secretário de Estado Warren Christopher, enviado especial de Gore à Flórida, disse que a eleição "será definida numa questão de dias, não semanas". No campo republicano, essa virada de eventos causou preocupação.
Na sexta-feira, assessores de Bush declararam que a vitória do candidato estava garantida, mesmo antes do resultado final das apurações.
No sábado, no entanto, eles entraram com uma ação para brecar as apurações manuais, solicitadas pelos democratas, sob o argumento de que elas "não são justas e estão sujeitas a erros".
Ontem, o enviado de Bush à Flórida, o também ex-secretário de Estado James Baker, disse que os democratas contaminaram o processo eleitoral na Flórida ao introduzir o ingrediente da contagem manual num ambiente eleitoral já conturbado.
Baker defende que o resultado das eleições dependa apenas da recontagem automática e eletrônica dos votos, que foi realizada até quinta-feira à noite em todos os condados da Flórida, e do cômputo dos votos enviados pelo correio por militares no exterior, previstos para chegarem até a próxima sexta-feira.
"Afastar a contagem manual seria o melhor resultado para o país. E a atitude mais responsável dos dois candidatos", disse Baker.
De acordo com ele, os republicanos estariam dispostos a retirar a ação judicial que moveram "se os democratas desistirem da contagem manual dos votos".
Os democratas parecem não estarem muito interessados na proposta e acusam os republicanos de hipócritas.
O principal assessor de Gore, William Daley, localizou uma lei assinada por Bush no Estado do Texas determinando que a contagem manual de votos deve preponderar sobre a eletrônica em caso de dúvidas na apuração.


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