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CÚPULA IBERO-AMERICANA
Líder dos protestos que derrubaram Sánchez de Lozada convidou presidente para evento paralelo
Morales critica Mesa e corteja Lula e Fidel
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Principal nome da oposição boliviana, o líder cocaleiro e deputado federal Evo Morales, 45, quer
marcar sua presença na 13ª Cúpula Ibero-Americana, que reunirá
21 chefes de Estado a partir de
amanhã em Santa Cruz de la Sierra, no leste da Bolívia.
Junto com o seu partido, o MAS
(Movimento ao Socialismo), Morales organiza uma "cúpula social" paralela, para a qual convidou Luiz Inácio Lula da Silva
(Brasil), Fidel Castro (Cuba), Hugo Chávez (Venezuela) e Néstor
Kirchner (Argentina).
O Itamaraty confirmou o convite, mas disse que Lula não deverá
participar do encontro.
Morales e o MAS, que tem a segunda maior bancada do Congresso, tiveram participação ativa
nos protestos que culminaram na
renúncia do então presidente,
Gonzalo Sánchez de Lozada, no
mês passado, e deixaram cerca de
80 manifestantes mortos.
Segundo colocado na eleição
presidencial de 2002, Morales disse que o novo presidente boliviano, Carlos Mesa, é um "neoliberal" que não demonstra disposição para mudar o atual modelo
econômico. Caso isso não ocorra,
disse o socialista, em entrevista à
Folha por telefone, Mesa não terminará seu mandato.
Folha - Qual é a proposta do Encontro Social Alternativo?
Evo Morales - Como a cúpula oficial de chefes de Estado é sobre inclusão social, todo o sofrimento e
o pensamento dos movimentos
sociais têm de estar incluídos no
documento final do encontro. Pela conjuntura política em que vive
o povo boliviano, é uma cúpula
social contra a oficial. Não é uma
cúpula contra o governo boliviano, mas de complementação à cúpula oficial. Não haverá protestos.
Folha - Esse encontro terá a participação de outros países?
Morales - Virão movimentos de
todos os países latino-americanos. Do Brasil, vem o MST.
Folha - Quem foi convidado?
Morales - Os convidados especiais são Chávez, Fidel, Lula e
Kirchner. Eles não confirmaram.
Folha - Quando Lula foi convidado?
Morales - Eu falei com o seu
chanceler [Celso Amorim] no dia
do aniversário de Lula, 27 de outubro. Meu aniversário foi na véspera. Eu pedi pessoalmente a sua
participação porque o movimento sindical tem muita vontade de
ouvir um ex-operário, um torneiro mecânico, hoje presidente do
Brasil. É uma oportunidade para
ele contar as suas experiências,
sobre como os líderes surgem das
lutas sociais em vez de universidades. Quando saem das universidades são, com o perdão da expressão, tecnocratas para servir
ao modelo dado pelo Banco Mundial ou FMI.
Folha - Ele respondeu ao convite?
Morales - Ainda não.
Folha - Chávez e Fidel já se manifestaram sobre o convite?
Morales - Eu conversei pessoalmente com eles, estão dispostos a
participar.
Folha - Haverá outros 17 chefes
de Estado em Santa Cruz. Por que
não convidá-los?
Morales - É impossível que possam participar, são os representantes das multinacionais, com
uma posição definida dentro dos
limites do neoliberalismo. Além
disso, os mais conhecidos são Lula, Chávez e Fidel. Os outros são
desconhecidos, não? Como se
chama o presidente da Nicarágua,
Guatemala? Do Chile, há [Ricardo] Lagos, mas temos problemas
históricos [o país tirou o acesso ao
mar da Bolívia em 1879], e ele é
um presidente socialista que governa para o capitalista.
Folha - Mesa vai participar?
Morales - Ainda não é oficial,
mas se trata de uma iniciativa do
presidente. Se ele quer participar,
o que nós podemos fazer?
Folha - Qual é a sua avaliação das
primeiras semanas do governo Mesa?
Morales - É um empresário neoliberal, mas agora quer ser um homem popular, no limite do neoliberalismo. O que quero dizer é
que não tem nenhuma intenção
de mudar o modelo econômico
-até agora, pelo menos. Ele tem
de governar para os movimentos
sociais e sindicais, não para as
multinacionais.
Folha - O sr. crê que Mesa fique
até o fim do mandato, em 2007?
Morales - Se o governo tiver resultados na mudança do modelo
econômico e do sistema político,
com certeza fica.
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