São Paulo, sábado, 13 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tumulto deixa José Dirceu de fora do velório

LEILA SUWWAN
ENVIADA ESPECIAL AO CAIRO

A delegação brasileira chefiada pelo ministro José Dirceu (Casa Civil) para participar do velório de Iasser Arafat acabou barrada, em meio a um tumulto, no portão da base aérea Al Mazar.
O grupo seguiu o cortejo do caixão, sem saber ao certo o que ocorria, mas só entrou na base em tempo de ver o avião onde o corpo do palestino foi embarcado ligar as turbinas para seguir a Ramallah, local do enterro.
Ficou de fora uma multidão com dezenas de representantes e altas autoridades internacionais. O esquema de segurança foi tão forte que nem mesmo importantes líderes palestinos, como o porta-voz Saeb Erekat e o ativista Mustafa Barghouti, puderam entrar.
Foi aos dois, no meio da confusão, que Dirceu apresentou suas condolências. Em resposta, ouviu que "o Brasil está sempre no coração do povo palestino".
A delegação chegou a receber uma explicação diplomática de que apenas chefes de Estado puderam participar da cerimônia, que seguiu o rito muçulmano. Muitas autoridades, porém, simplesmente se atrasaram, e nem todos tinham permissão para entrar na base.
O momento mais tenso ocorreu quando a viúva de Arafat deixou o local. Os portões foram abertos e 20 seguranças empurraram todos agressivamente para trás. Suha passou de carro, com a filha, cercada de soldados com metralhadoras.
O presidente sírio, Bashar al Assad, entrou após ter sido identificado entre a multidão, em meio a um cordão de seguranças. "Fomos tratados como uma turba até que finalmente um guarda reconheceu Al Assad e nos deixou passar. Mas era tarde demais, a cerimônia tinha acabado", disse um diplomata à agência Reuters.
O presidente do Senegal, Abdulaye Wade, só conseguiu entrar depois que seus seguranças ameaçaram, aos gritos e empurrões, derrubar o portão. Diversas autoridades desistiram.
Dirceu contemporizou a situação. "É normal que isso aconteça numa cerimônia destas." Ficaram visivelmente frustrados os parlamentares presentes -o senador Maguito Vilela (PMDB-GO) e os deputados Maurício Rands (PT-PE), Jamil Murad (PC do B-SP), Paulo Pimenta (PT-RS) e Eduardo Greenhalgh (PT-SP). Tiveram de se contentar em tirar fotos no local, como fizeram outras delegações.
"Temos uma relação de mais de 30 anos com a causa palestina. Lula queria estar aqui, teve uma grande amizade com Arafat, mas está em Brasília recebendo o presidente da China, Hu Jintao", disse Dirceu antes de deixar o local.
Segundo o ministro, Lula o enviou para essa última homenagem lembrando que considerava Arafat "muito alegre, simples, determinado e otimista na causa do povo palestino".
No fim do dia, Dirceu se encontrou com Amr Moussa, secretário-geral da Liga Árabe, na sede da entidade. Estendeu com ele uma bandeira brasileira e assinou o livro de condolências de Arafat em nome do governo brasileiro.


A jornalista Leila Suwwan viajou no avião da delegação brasileira
Com agências internacionais


Texto Anterior: Palestina órfã: Funeral se transforma em ato político
Próximo Texto: Parlamentares "esticam" até as pirâmides
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.