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HAITI EM RUÍNAS
Desastre põe em risco estabilidade política
Avaliação é de Ricardo Seitenfus, chefe do escritório da OEA em Porto Príncipe e ex-enviado especial do governo brasileiro ao Haiti
Para especialista brasileiro, as mortes e a destruição
de infraestrutura podem inviabilizar as próximas eleições; "é um retrocesso"
GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
A destruição da infraestrutura e os danos causados pelo terremoto põem em risco os esforços da comunidade internacional para estabilizar politicamente o Haiti, diz o representante da OEA (Organização dos
Estados Americanos) no país, o
brasileiro Ricardo Seitenfus.
Chefe do escritório da OEA
em Porto Príncipe e ex-enviado
especial do governo brasileiro
ao Haiti, ele diz que as eleições
parlamentares previstas para
fevereiro podem ser inviabilizadas por causa das mortes e
das perdas materiais.
Ele conversou com a Folha
por telefone ontem enquanto
voltava às pressas ao Haiti após
interromper férias no Rio
Grande do Sul.
FOLHA - Como o Haiti, país mais
pobre das Américas, vai lidar com
essa tragédia?
RICARDO SEITENFUS - As informações que temos até agora são
muito graves. Há muitos mortos e desaparecidos. O país não
tem condição nenhuma de responder a esse desafio. Se não
houver uma mobilização urgente da comunidade internacional, haverá centenas de milhares de vítimas.
FOLHA - O que deve ser priorizado?
SEITENFUS - A mobilização precisa ser extremamente rápida.
O primeiro passo é o envio de
todas as equipes possíveis para
resgatar vítimas dos escombros
e garantir atendimento médico, remédios, alimentos, água.
O segundo é a reconstrução. Só
depois poderá ser reiniciado o
esforço de estabilização.
FOLHA - Como o terremoto afeta a
estabilização política do país?
SEITENFUS - É um retrocesso
enorme. Do ponto de vista da
estabilização, o terremoto faz o
Haiti voltar 10 ou 15 anos ao
passado. A eleição parlamentar
deveria ser realizada em fevereiro, e a presidencial, em novembro. Mas agora há risco.
FOLHA - As eleições podem ser suspensas?
SEITENFUS - É uma decisão que
cabe às autoridades eleitorais
do Haiti. Mas, pelas informações que temos sobre a situação
atual, a eleição de fevereiro não
deve acontecer porque as condições objetivas [para realizá-la] estão descartadas. A OEA
trabalhava para enviar 80 observadores para a eleição de fevereiro e 200 à de novembro.
FOLHA - O sr. recebeu orientações
do secretário-geral da OEA?
SEITENFUS - Falei com ele pelo
telefone e estou voltando para
o Haiti em um avião da Força
Aérea Brasileira. Preciso estar
lá para ver o que a OEA pode fazer e orientar o secretário.
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