São Paulo, quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Desastre põe em risco estabilidade política

Avaliação é de Ricardo Seitenfus, chefe do escritório da OEA em Porto Príncipe e ex-enviado especial do governo brasileiro ao Haiti

Para especialista brasileiro, as mortes e a destruição de infraestrutura podem inviabilizar as próximas eleições; "é um retrocesso"


GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

A destruição da infraestrutura e os danos causados pelo terremoto põem em risco os esforços da comunidade internacional para estabilizar politicamente o Haiti, diz o representante da OEA (Organização dos Estados Americanos) no país, o brasileiro Ricardo Seitenfus. Chefe do escritório da OEA em Porto Príncipe e ex-enviado especial do governo brasileiro ao Haiti, ele diz que as eleições parlamentares previstas para fevereiro podem ser inviabilizadas por causa das mortes e das perdas materiais.
Ele conversou com a Folha por telefone ontem enquanto voltava às pressas ao Haiti após interromper férias no Rio Grande do Sul.

 

FOLHA - Como o Haiti, país mais pobre das Américas, vai lidar com essa tragédia?
RICARDO SEITENFUS
- As informações que temos até agora são muito graves. Há muitos mortos e desaparecidos. O país não tem condição nenhuma de responder a esse desafio. Se não houver uma mobilização urgente da comunidade internacional, haverá centenas de milhares de vítimas.

FOLHA - O que deve ser priorizado?
SEITENFUS
- A mobilização precisa ser extremamente rápida. O primeiro passo é o envio de todas as equipes possíveis para resgatar vítimas dos escombros e garantir atendimento médico, remédios, alimentos, água. O segundo é a reconstrução. Só depois poderá ser reiniciado o esforço de estabilização.

FOLHA - Como o terremoto afeta a estabilização política do país?
SEITENFUS
- É um retrocesso enorme. Do ponto de vista da estabilização, o terremoto faz o Haiti voltar 10 ou 15 anos ao passado. A eleição parlamentar deveria ser realizada em fevereiro, e a presidencial, em novembro. Mas agora há risco.

FOLHA - As eleições podem ser suspensas?
SEITENFUS
- É uma decisão que cabe às autoridades eleitorais do Haiti. Mas, pelas informações que temos sobre a situação atual, a eleição de fevereiro não deve acontecer porque as condições objetivas [para realizá-la] estão descartadas. A OEA trabalhava para enviar 80 observadores para a eleição de fevereiro e 200 à de novembro.

FOLHA - O sr. recebeu orientações do secretário-geral da OEA?
SEITENFUS
- Falei com ele pelo telefone e estou voltando para o Haiti em um avião da Força Aérea Brasileira. Preciso estar lá para ver o que a OEA pode fazer e orientar o secretário.


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