São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

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ANÁLISE

A revolução egípcia não precisa seguir o caminho iraniano

ANTHONY SHADID
DO "NEW YORK TIMES", NO CAIRO

Dois líderes egípcios foram derrubados em 30 anos: um deles pelas balas de um assassino islâmico, outro pelo clamor de centenas de milhares de manifestantes. O primeiro fato, a morte do presidente Anwar el-Sadat, foi uma manifestação da vertente mais militante do islã político. A derrubada de Hosni Mubarak pode anunciar o surgimento de outra coisa.
Existe no Ocidente um temor, raramente ecoado no Cairo, de que a revolução do Egito possa seguir o caminho do Irã, onde islâmicos radicais acabaram assumindo o controle. Mas Egito e Irã são países bastante diferentes.
No Egito, o levante traz a possibilidade de uma conciliação com o islã político que é rara no mundo árabe -a possibilidade de que, sem a repressão que acompanhou o governo de Mubarak, o islã possa apresentar-se sob um viés mais moderado.
A revolução egípcia foi uma revolução da diversidade, uma proliferação de vozes -da juventude, das mulheres, dos trabalhadores, dos religiosos-, todas as quais vão lutar por influência. O mais provável é que o islã político enfrente um novo desafio: comprovar relevância e popularidade em um país em transformação.
É claro que a Irmandade Muçulmana, grupo já consolidado que representa o mais venerável dos movimentos islâmicos do mundo árabe, é um dos candidatos a liderar um novo Egito. A Irmandade é, de longe, a oposição mais organizada e digna de crédito contra Mubarak.
Mas também ela terá que preparar-se para participar da disputa política em um sistema democrático emergente, testando seu poder de permanência num sistema regido por eleições e pela lei. Em uma campanha política, a Irmandade vai sem dúvida moderar sua mensagem, procurando atrair a base mais ampla possível.
E essa diversidade emergente pode mostrar-se ainda mais incômoda do que o confronto direto contra os policiais de Mubarak que ajudou a definir a atração exercida pela Irmandade.

Tradução de CLARA ALLAIN


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