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Brincadeira de marine revolta bagdalis
Os ânimos entre invasores (autoproclamados libertadores) e invadidos continuam exaltados.
O soldado Brian, que já visitou
Rio de Janeiro, São Paulo e Recife,
queria apenas fazer uma brincadeira. No painel frontal externo
do veículo que conduz, um trator
anfíbio do Exército norte-americano, pregou uma placa que pertencia a um carro iraquiano e que
achou jogada na rua, uma das tais
"lembranças" que o presidente
George W. Bush pediu que os marines devolvessem.
Nem cinco minutos se passaram, e bagdalis foram parando
em frente ao veículo e comentando. Aos poucos, um grupo de pelo
menos dez pessoas gritava slogans anti-Estados Unidos e exigia
que a chapa fosse retirada. O soldado desceu, arrancou a placa e a
devolveu aos que reclamavam
sem nem tentar argumentar.
Por essa e outras, ninguém anda
com bandeiras norte-americanas
ou britânicas à vista. Ontem, o
sargento Pitonias, marine, desfilava com uma flor branca na lapela. "Pela paz", disse.
O fato é que, até agora, apenas
uma minoria entre os habitantes
de Bagdá se manifestou. Foi uma
minoria que saiu às ruas para derrubar as estátuas de Saddam Hussein e comemorar a queda do regime, é uma minoria que continua saqueando os prédios públicos (e, agora, muitos privados),
assim como muito poucos protestam contra a presença dos norte-americanos na cidade.
A maioria dos bagdalis continua
esperando silenciosamente.
Por falar em Saddam Hussein,
muito tempo vai passar até que a
população consiga derrubar todas as estátuas, queimar todos os
quadros e arrancar todas as faixas
com o rosto do ex-ditador iraquiano que se espalha pela cidade.
São milhares e milhares, em literalmente todos os lugares públicos, muitos ainda intocados.
Ontem, pela primeira vez desde
quinta-feira, o primeiro comboio
da imprensa vindo de Amã (Jordânia) foi proibido de entrar em
Bagdá pelos marines. Por enquanto, diz o Exército norte-americano, a cidade (leia-se os dois
hotéis que têm geradores próprios) não conta com infra-estrutura para receber mais jornalistas
estrangeiros.
Na terça, horas antes de a cidade
ser tomada pelos marines e de toda a equipe do Ministério da Informação iraquiana desaparecer
do mapa, o diretor de imprensa,
Udai al-Tai, reuniu todas as emissoras de TV estrangeiras presentes em Bagdá e as ameaçou de cortar a energia caso não pagassem o
que deviam pela "licença de trabalho" do governo.
Como já explicado neste diário,
o regime de Saddam Hussein cobrava entre US$ 250 e US$ 750 por
dia por jornalista estrangeiro para
permitir que este trabalhasse em
solo iraquiano. Havia uma taxa de
manutenção, uma de utilização
de telefone por satélite, outra de
utilização de câmera fotográfica
ou de TV etc. etc.
Pois bem. Uma hora depois da
reunião de terça-feira, Udai al-Tai
subiu para seu quarto do hotel Palestine pela última vez carregando
uma maleta com US$ 200 mil em
dinheiro vivo. Somente notas de
dólar.
Os que não pagaram estão comemorando até hoje.
Uma das únicas sedes de ministérios iraquianos não atingida por
bombas e mísseis em Bagdá? A do
Ministério do Petróleo.
Uma das únicas sedes que não
foram saqueadas e incendiadas
pela população, pois conta com
um grupo de marines protegendo-a desde quarta-feira? A do Ministério do Petróleo.
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