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São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2003

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OPINIÃO

A Doutrina Bush

DO "NEW YORK TIMES"

Leia a seguir editorial do "New York Times" publicado na edição de ontem:

Após a campanha militar de três semanas de duração, a administração Bush pode sentir a tentação de soltar as forças norte-americanas contra o próximo dragão que estiver soltando fogo pelas ventas, quer seja a Síria, o Irã ou a Coréia do Norte. Embora o presidente Bush tenha todo direito de estar satisfeito com a vitória no Iraque, ele não deveria confundir uma conquista militar com a confirmação do acerto de sua doutrina de ataques preventivos.
Não gostamos da doutrina combativa quando ela foi formalmente anunciada, em setembro passado, porque ela parecia nos afastar da histórica tendência dos EUA de cooperar com outros países para preservar a paz, recorrendo à força só quando sua segurança estivesse correndo perigo direto. A derrubada de Saddam não torna essa doutrina mais válida.
Não queremos menosprezar a conquista das forças americanas. Mas sua vitória era o único elemento desta campanha que jamais esteve em dúvida -assim como não há dúvida alguma de que soldados americanos poderiam derrubar estátuas em Damasco, Teerã ou Pyongyang.
O problema é que cada um desses casos possui suas complexidades e consequências próprias. Não existe uma abordagem única aos problemas do mundo, algo que possa ser aplicado em todos os casos, e, mesmo se existisse, está longe de ser certo de que a abordagem adotada no Iraque seria um modelo padrão. A situação no país é caótica, e levará tempo até que se possa avaliar se a intervenção levará democracia e prosperidade ao Iraque ou melhorará a situação no Oriente Médio.
Os falcões na administração americana ainda não sugeriram publicamente nenhuma sequência ao Iraque a ser empreendida, embora avisos tenham sido lançados a outros malfeitores que possam estar contemplando a possibilidade de fazer uso de armas de destruição em massa, tendo sido dito a eles que devem tirar da guerra a ""lição apropriada".
O anseio por corrigir injustiças possui uma tradição nobre na política externa americana, e poucos podem contestar as partes da doutrina Bush que se propõem a estender os benefícios da liberdade, democracia, prosperidade e o Estado de direito para os cantos mais distantes do planeta. Infelizmente, essas metas cederam espaço a uma postura arrogante, à idéia de que os Estados Unidos podem agir sozinhos e à reivindicação agressiva do direito de recorrer à ação preventiva contra países que constituem ameaças.
Para muitas pessoas e muitos países, a maneira como a administração Bush perseguiu Saddam Hussein confirmou os temores levantados pela doutrina. Uma doutrina que afirma espalhar a felicidade mas que acaba espalhando o ressentimento não funciona, por mais estátuas que possam cair. É por isso que é importante mostrar que os EUA têm a confiança e a sabedoria necessárias para guardar sua espada na bainha até o momento em que ela seja realmente necessária.


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