São Paulo, domingo, 14 de julho de 2002

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Jogo faz revanche nas Malvinas

DA REDAÇÃO

A produção de videogames na América Latina ainda é incipiente se comparada à produção dos EUA e da Ásia. Vem da Argentina, entretanto, um dos melhores exemplos de uso dos jogos eletrônicos como instrumento político.
Em dezembro de 1999, um grupo de jovens trabalhava na criação de um game de estratégia militar. Ao imaginar como retrataria uma guerra, o estudante de engenharia da informática Javier Otaegui, 22, pensou no conflito armado mais recente da história de seu país, a Guerra das Malvinas (1982), contra o Reino Unido.
Nasceu assim Malvinas 2032, um game em CD-ROM para PC que leva aos micros uma causa nacionalista argentina. A introdução do jogo não deixa dúvidas sobre o que pensam seus idealizadores sobre quem deve reter a posse das ilhas Malvinas, atualmente território britânico: "Ano 2032: meio século se passou desde a Guerra das Malvinas. Agora é chegada a hora da Argentina recuperar o que é seu. Ilhas Malvinas, para sempre argentinas!".
Otaegui disse à Folha, por e-mail, que sua equipe não tinha intenção de promover idéias belicistas. "Nossa intenção era utilizar o videogame como meio para lembrar aos jovens que, como eu, eram muito pequenos em 1982 ou nem haviam nascido, sobre a existência do conflito. Queríamos combater o processo de "desmalvinização" pelo qual passa a Argentina", argumentou.
"Ao nosso entender, as Malvinas são parte indivisível do território argentino", diz texto no site oficial do jogo, onde é possível baixar uma versão "demo" para testá-lo antes de comprar (www.malvinas2032.com.ar). Otaegui admite que, além dos objetivos "patriotas", também teve motivações econômicas ao inserir o game no mercado. "Mas não conseguimos ganhar nem um centavo com ele."
Ao tocar numa ferida ainda aberta da história da Argentina, Otaegui e a sua equipe geraram algum desconforto tanto em seu país quanto no exterior. Segundo ele, certa vez teve de entrar em contato com a Chancelaria argentina, e o funcionário com quem falou "não gostou muito da idéia [do jogo sobre as Malvinas]".
Malvinas 2032 possui versões em espanhol e inglês. É vendido, via internet, para todo o mundo. "Chegamos a receber alguns insultos de ingleses irritados [com o viés político apresentado no jogo]", contou Otaegui. Atualmente, seus criadores trabalham num novo projeto: um jogo de estratégia militar que terá as guerras de independência das Américas como tema. (MS)


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