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São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2003

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CASO DAVID KELLY

Jornalista da rede diz que foi pressionada para mudar matéria

Depoimento agrava situação da BBC

DA REDAÇÃO

A BBC viu ontem sua situação se complicar no caso da morte do cientista David Kelly. Susan Watts, uma jornalista da rede pública de rádio e TV, disse no inquérito sobre as circunstâncias do suicídio de Kelly que seus chefes a pressionaram para adequar as informações que tinha às de Andrew Gilligan, também jornalista da BBC que acusou o governo britânico de inflar o dossiê que justificou a Guerra do Iraque.
O diretor de noticiários da BBC, Richard Sambrook, outro a depor ontem, negou a pressão. Watts também havia conversado com o cientista, que era conselheiro de armas do Ministério da Defesa e cortou o pulso em julho depois de o órgão vazar seu nome como a fonte da reportagem de Gilligan.
Até a revelação de Watts, o desgaste com o episódio estava mais concentrado no governo, considerado por 41% dos britânicos como culpado pela morte de Kelly.
Ao mesmo tempo, gravações com o cientista apresentadas à corte pela jornalista reforçaram a avaliação de que a administração do premiê Tony Blair teria inflado seu dossiê sobre o Iraque.
Watts declarou que até falou com seu advogado por causa da pressão que alega ter sofrido. Ela contou que Kelly não lhe disse que Alastair Campbell, o diretor de Comunicação de Blair, havia alterado o dossiê -a acusação de Gilligan foi creditada ao cientista em seu depoimento anteontem.
"Ele [Kelly] não falou que o trecho sobre os 45 minutos [tempo que o Iraque precisaria para fazer um ataque com armas de destruição em massa] havia sido inserido por Campbell", afirmou Watts.
O diretor de noticiários da BBC também admitiu que Gilligan não se baseou no cientista para alegar que o governo sabia que o trecho sobre a ação em 45 minutos estava errado. Sambrook, no entanto, defendeu o trabalho do jornalista.
Trechos das conversas com Kelly apresentados por Watts, porém, se mostraram contraditórios com o seu depoimento. O cientista diz que a assessoria de imprensa de Blair, que é da alçada de Campbell, havia distorcido o trecho do ataque em 45 minutos.
Kelly afirma que o governo "estava desesperado por informação que fosse útil". Ao atribuir isso à assessoria de imprensa de Blair, ele definiu essa equipe como "sinônimo" de Campbell. Outro jornalista da BBC, Gavin Hewitt, contou ontem que ouviu do cientista que houve "manipulação".


Com agências internacionais

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