São Paulo, sexta-feira, 14 de agosto de 2009

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Cabul hoje tem mais pipas e menos burcas

DO ENVIADO A CABUL

Se não vão cantar a "Marselhesa" contra aqueles que consideram nazistas ocupantes e certamente sem saudade do regime do Taleban, os cabulitas ao menos têm mais opções para se divertir do que em 2001. Até a semana passada, antes de um toque de recolher às 23h pelas eleições, a chamada Chicken Street funcionava 24 horas por dia com quiosques de todo tipo de comida apimentada e encharcada em óleo.
Se o consumo de álcool continua restrito, um dos símbolos da era Taleban não é mais tão onipresente: a burca. O tradicional pano pashtun que cobre o rosto e o corpo das mulheres continua sendo amplamente usado. Mas as integrantes de outras etnias agora usam lenços soltos sobre a cabeça -ou até nada.
As pipas também são uma constante. Há até uma rua especializada no produto, e os garotos de Cabul realmente brincam com elas o tempo todo. Nada disso existia há oito anos. Moradores se queixam dos EUA e do presidente Hamid Karzai, mas não se encontra um apoio aberto aos insurgentes do Taleban -quando muito, elogios à resistência ao invasor, mas não nostalgia dos cinco anos de trevas sobre o país.
O comércio é muito mais variado. Cinco empresas de telefonia celular disputam mercado com serviços baratos, há salões de beleza em abundância e uma estranha multiplicação de casas de fisiculturismo. Só que eles se esgueiram por ruínas dos conflitos que se abateram sobre o país nas últimas décadas. Se agora há água corrente, ela não é potável. Muito esgoto corre a céu aberto.
A eletricidade agora dura 22 horas diárias, contra sete na última passagem da Folha. Mas é inexistente fora da fortaleza Cabul, em que muros de proteção contra carros-bomba ornam todos os prédios públicos e os locais de serviço para estrangeiros. A pousada em que a reportagem achou vaga está cercada por arames farpados.
São todos sinais de que, se não morreram 14 pessoas como em ataques no sul afegão ontem, Cabul está longe de ser uma cidade pacificada. O avião-robô Predator circundando o morro que concentra as antenas de TV e o balão de vigilância instalado pela Otan, permanentemente no horizonte, são lembretes disso. (IG)


Folha Online
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