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Cabul hoje tem mais pipas e menos burcas
DO ENVIADO A CABUL
Se não vão cantar a "Marselhesa" contra aqueles que consideram nazistas ocupantes e
certamente sem saudade do regime do Taleban, os cabulitas
ao menos têm mais opções para
se divertir do que em 2001. Até
a semana passada, antes de um
toque de recolher às 23h pelas
eleições, a chamada Chicken
Street funcionava 24 horas por
dia com quiosques de todo tipo
de comida apimentada e encharcada em óleo.
Se o consumo de álcool continua restrito, um dos símbolos
da era Taleban não é mais tão
onipresente: a burca. O tradicional pano pashtun que cobre
o rosto e o corpo das mulheres
continua sendo amplamente
usado. Mas as integrantes de
outras etnias agora usam lenços soltos sobre a cabeça -ou
até nada.
As pipas também são uma
constante. Há até uma rua especializada no produto, e os garotos de Cabul realmente brincam com elas o tempo todo. Nada disso existia há oito anos.
Moradores se queixam dos
EUA e do presidente Hamid
Karzai, mas não se encontra
um apoio aberto aos insurgentes do Taleban -quando muito,
elogios à resistência ao invasor,
mas não nostalgia dos cinco
anos de trevas sobre o país.
O comércio é muito mais variado. Cinco empresas de telefonia celular disputam mercado com serviços baratos, há salões de beleza em abundância e
uma estranha multiplicação de
casas de fisiculturismo.
Só que eles se esgueiram por
ruínas dos conflitos que se abateram sobre o país nas últimas
décadas. Se agora há água corrente, ela não é potável. Muito
esgoto corre a céu aberto.
A eletricidade agora dura 22
horas diárias, contra sete na última passagem da Folha. Mas é
inexistente fora da fortaleza
Cabul, em que muros de proteção contra carros-bomba ornam todos os prédios públicos
e os locais de serviço para estrangeiros. A pousada em que a
reportagem achou vaga está
cercada por arames farpados.
São todos sinais de que, se
não morreram 14 pessoas como em ataques no sul afegão
ontem, Cabul está longe de ser
uma cidade pacificada. O avião-robô Predator circundando o
morro que concentra as antenas de TV e o balão de vigilância instalado pela Otan, permanentemente no horizonte, são
lembretes disso.
(IG)
Folha Online
Ouça podcast de Igor
Gielow sobre as eleições
no Afeganistão
www.folha.com.br/092259
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