São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

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AMÉRICA LATINA

Para a Casa Branca, não há outra saída pacífica possível; presidente ignora apelo e diz que crise está "na oposição"

EUA pedem que Chávez antecipe eleição

DA REDAÇÃO

Os EUA pediram ontem ao governo da Venezuela que convoque eleições antecipadas, dizendo que essa seria a única saída pacífica possível para a crise enfrentada pelo presidente Hugo Chávez.
A oposição promove desde o dia 2 uma greve geral que paralisou totalmente as exportações de petróleo, produto que responde por 80% das vendas externas do país. Inicialmente, o objetivo da paralisação era pressionar Chávez a aceitar um referendo sobre seu mandato, mas, com o acirramento das posições, seus líderes já exigem a renúncia imediata do presidente, cujo mandato vai até 2007.
"Os EUA estão convencidos de que o único caminho pacífico e politicamente viável para sair da crise é por meio de eleições antecipadas", disse a Casa Branca ontem em um comunicado.
Pouco depois, a agência de classificação de risco norte-americana Standard & Poors rebaixou a nota da dívida pública venezuelana, dizendo que a crise ameaça provocar desordem econômica. Os papéis da dívida venezuelana passaram a ser classificados como de "alto teor especulativo".
Um alto funcionário do governo americano disse que a Casa Branca não estava atuando em favor de nenhum dos dois lados e que os EUA não aprovam a atuação da oposição venezuelana, que pede a renúncia de Chávez.
A pressão americana por eleições busca evitar a repetição dos acontecimentos de abril, quando os EUA apoiaram um golpe cívico-militar que tirou Chávez da Presidência por dois dias.
A divulgação do comunicado da Casa Branca coincidiu com o primeiro dia de visita a Caracas do vice-secretário-assistente do Departamento de Estado para o hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, que tenta ajudar no diálogo entre o governo e a oposição.
A OEA (Organização dos Estados Americanos), cujo secretário-geral, César Gaviria, está há mais de um mês em Caracas para tentar mediar uma mesa de diálogo, com resultados pífios, reuniu ontem seu conselho permanente em Washington para discutir a situação venezuelana.
Gaviria traçou ontem um panorama pessimista das negociações. "Os dois lados estão longe de encontrar uma solução", disse. "Se não encontrarmos uma solução na mesa, há o risco de o país ficar mais polarizado, o que traz um enorme risco de violência."

"Guerra"
A pressão americana foi ignorada pelo governo. Chávez disse que a crise está "do lado da oposição" e que a solução está "em progresso". Para ele, a oposição "tenta conduzir o país a uma guerra".
Chávez disse estar disposto a importar pessoal para substituir os funcionários grevistas da estatal petrolífera, a PDVSA.
"A situação vem evoluindo de maneira progressiva para a normalidade, até a recuperação do nível ótimo em todos os âmbitos", disse. "Os que fizeram tudo o que puderam para roubar o Natal, a paz e a alegria do país fracassaram estrondosamente."
"Estamos dispostos a discutir politicamente, mas sob o marco da Constituição da República", disse. Chávez alega que a Constituição só permite a realização de um referendo sobre seu mandato a partir de agosto, quando seu governo chega à metade.
Nos últimos dias, deputados governistas e de oposição vêm discutindo a possibilidade de aprovar uma emenda constitucional que permita a realização de um referendo ou de eleições antecipadas, mas o governo ainda não se pronunciou sobre o assunto.

Manifestações
Simpatizantes e opositores de Chávez fizeram chamados ontem por novas manifestações de rua, após a polícia dispersar, na noite de anteontem, um confronto entre grupos adversários com gás lacrimogêneo em Caracas.
Os chavistas fizeram uma passeata até o palácio presidencial para comemorar os oito meses da volta de Chávez ao poder após o golpe de abril. Líderes da oposição disseram que a manifestação era uma tentativa do governo de formar um escudo humano para proteger o presidente no palácio.
A oposição promete manter a paralisação até a convocação de eleições. "A greve está só começando", afirmou Carlos Fernández, presidente da Fedecámaras (principal associação empresarial do país), um dos organizadores.


Com agências internacionais


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