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ARGENTINA
Lei inédita na América Latina estende benefícios sociais da cidade a casais não-casados, sem distinção de preferência sexual
Buenos Aires reconhece união civil homossexual
MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES
Buenos Aires tornou-se ontem a
primeira cidade da América Latina reconhecer a união entre pessoas do mesmo sexo. A Legislatura da capital argentina -que tem
mais autonomia que as Câmaras
Municipais no Brasil- aprovou
projeto de lei apresentado pela
CHA (Comunidade Homossexual Argentina) que, entre outros
direitos, permitirá que casais homossexuais possam usufruir de
benefícios sociais concedidos pelo governo da cidade.
Apenas dez países têm alguma
legislação, seja de abrangência nacional ou regional, que reconheça
uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, segundo a Ilga (sigla em
inglês para Associação Internacional de Lésbicas e Gays). De
acordo com pesquisa da entidade,
apenas nos EUA, no Canadá e em
oito países europeus casais homossexuais podem ser reconhecidos legalmente. No Brasil, um
projeto apresentado em 1995, pela
então deputada federal Marta Suplicy, ainda não foi votado.
Em Buenos Aires, o projeto
avançou depois que o deputado
Roque Bellomo resolveu, em
agosto do ano passado, defendê-lo. "Parecia que era a maneira
ideal de evitar uma forma de discriminação e, ao mesmo tempo,
de fazer com que a sociedade começasse a discutir a questão [da
garantia de direitos dos homossexuais]", afirma Bellomo.
O projeto foi discutido durante
a última sessão ordinária do ano,
quando foram aprovadas dezenas
de leis. A estratégia dos opositores
do projeto foi votar apenas no final da sessão, na expectativa de
que não houvesse tempo para discuti-lo. Caso isso tivesse ocorrido,
a união civil só voltaria ao plenário em março do próximo ano.
Os militantes do movimento
gay, no entanto, acompanharam
toda a sessão e, a cada tentativa de
atrasá-la, interrompiam as discussões. Os trabalhos começaram
às 14h de quinta-feira, e o projeto
de união civil foi aprovado às
6h30 de ontem, com 29 votos a favor e 10 contra -a Legislatura
tem 60 deputados.
Na avaliação de Bellomo, apenas os representantes "mais reacionários" da Legislatura se opuseram ao projeto. "Isso nunca
muda. Há 126 anos, pessoas com
as mesmas idéias se opunham ao
casamento civil."
"Para nós isso é muito importante. Seremos reconhecidos como casais e poderemos viver com
amparo da legalidade", comemorava César Cigliutti, presidente da
CHA.
O projeto original sofreu algumas alterações para diminuir a resistência de grupos opositores.
Segundo Bellomo, tentou-se evitar qualquer confusão entre o termo "união civil" e casamento ou
constituição de família.
A lei aprovada reconhece relações estáveis entre duas pessoas,
sem distinção de preferência sexual. Duas pessoas que vivem
juntas por pelo menos dois anos
poderão solicitar um registro de
união civil emitido pela cidade de
Buenos Aires. Os benefícios sociais concedidos pela cidade serão
estendidos às uniões civis.
Ontem pela manhã, os manifestantes, que acompanharam todas
as discussões por mais de 15 horas, comemoravam a decisão em
frente ao edifício da Legislatura,
na região central.
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