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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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ORIENTE MÉDIO

Partido de Sharon agora fala em retirada unilateral de áreas palestinas para manter caráter judaico de Israel

Demografia faz Likud mudar de posição

JAMES BENNET
DO "NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM

Num país frequentemente centrado em seu passado, é o futuro que de repente está pesando.
Dentro do partido de centro-direita Likud (governista), líderes que antes defendiam a retenção de toda a Cisjordânia e a faixa de Gaza -e que em três anos de Intifada (revolta palestina) argumentavam que Israel não podia fazer concessões por não haver com quem negociar do outro lado- agora debatem como e quando devolver áreas palestinas.
O Likud está publicamente lidando com uma perspectiva há muito levantada pela esquerda israelense: a de que, em poucos anos, os árabes devem se tornar a maioria em Israel e nos territórios ocupados e podem mudar de estratégia, passando a exigir, em vez de seu Estado, o direito de votar em Israel, ameaçando sua identidade judaica. O fator demográfico é inquestionável. Cerca de 5,2 milhões de judeus e 1,3 milhão de árabes são cidadãos israelenses, enquanto mais cerca de 3,5 milhões de árabes vivem nos territórios. E a taxa de natalidade árabe é muito maior que a judia.
O resultado é uma mudança surpreendente. Apesar de a plataforma do Likud se opor a um Estado palestino a oeste do rio Jordão como uma ameaça a Israel, alguns líderes do partido dizem que concluíram que somente a criação desse Estado pode salvar o país e a democracia judaica.
O debate ocorre em meio a uma espécie de trégua de dois meses na violência que trouxe com ela uma série de iniciativas pela paz, oficiais ou não.
Enquanto o premiê palestino, Ahmed Korei, luta para cimentar um cessar-fogo entre as facções palestinas, o premiê israelense, Ariel Sharon, age como se tivesse pressa, ansioso por encontrar seu colega palestino, reunindo-se com membros da oposição trabalhista e até falando em remover colonos que ele lutou duramente, por muitos anos, para instalar em Gaza e na Cisjordânia. Sharon diz que irá esclarecer suas intenções em breve, talvez já nesta semana.
Muitos na direita e na esquerda crêem que as insinuações de Sharon podem ser meros gestos políticos e diplomáticos para satisfazer a administração Bush -que quer a retomada das negociações-, restaurar sua popularidade em queda ou mesmo distrair a atenção pública de uma investigação de corrupção.
Shimon Peres, o líder trabalhista que encontrou Sharon na semana passada, está cético. Ele diz que houve uma mudança no Likud, uma aceitação da necessidade de um Estado palestino, mas que o partido ainda precisa formular uma política com esse fim.
Assessores de Sharon afirmam que ele está comprometido com o plano de paz patrocinado pelos EUA, mas que formula passos unilaterais, em cerca de seis meses, se a iniciativa fracassar.
Os palestinos afirmam que qualquer gesto unilateral seria uma tentativa cínica de despejar o máximo de palestinos na menor faixa territorial possível. Os EUA também são contra atos assim.
Estimulado por Sharon, o debate sobre uma retirada unilateral explodiu após declarações do vice-premiê Ehud Olmert. Antigo defensor da Grande Israel, ele sugeriu que pode ser necessário deixar até mesmo áreas de Jerusalém Oriental, vista antes como "capital indivisível" do país.


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