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Relação com os americanos explica história recente do Haiti
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
A história recente do Haiti é a
história da relação com os EUA.
Após ocupar o país por quase
20 anos, os marines se retiraram em 1934. Seguiu-se uma
série de governos fracos intercalados por golpes, até que, em
57, após a renúncia do presidente Paul Magloire, um pacato médico apelidado de Papa
Doc (papai doutor) foi eleito.
Não demoraria muito para
que ele deixasse de ser pacato e
desse origem a uma das mais
selvagens ditaduras dinásticas
do Ocidente. Em 1964 autoproclamou-se presidente vitalício,
reinando num regime marcado
pelo terror -entremeava culto
a personalidade e magia negra.
Por não confiar no Exército,
apoiava-se em milícias. Estima-se que tenha ordenado a
morte de 30 mil opositores.
Os EUA chegaram a ensaiar
sanções, mas, depois da crise
dos mísseis, recuaram. Era melhor lidar com um tirano tresloucado ao risco de uma nova
Cuba nos calcanhares.
Duvalier percebeu as possibilidades desse nicho e converteu-se num anticomunista feroz. Ainda que a contragosto, os
EUA toleraram o Papa Doc e,
após sua morte, apoiaram o governo do filho, Jean-Claude
Duvalier, o Baby Doc.
Menos hábil e ligeiramente
mais liberal que o pai, o governo de Baby Doc foi sacudido
por protestos populares em
1985 e 1986. Reagan o convenceu a renunciar e partir para o
exílio na França, antes que uma
revolução de fato acontecesse.
Ele vive até hoje em Paris.
O Haiti retornou assim a sua
rotina de governos breves, golpes e rebeliões até que, em
1990, surgiu uma esperança. O
ex-padre Jean-Bertrand Aristide, tido como homem correto e
preparado, vence as eleições
com dois terços dos votos. Ele
assume, mas apenas para ser
derrubado seis meses depois.
Desta vez, porém, os EUA e a
comunidade internacional rejeitam o golpe, e Aristide volta
ao poder para terminar seu
mandato, encerrado em 1995.
Reeleito em 2000, Aristide
acaba revelando-se um mandatário similar a seus antecessores. Acusado de corrupção, foi
derrubado por uma combinação de golpe paramilitar e protestos populares. Os marines
voltaram ao Haiti para levar
Aristide ao exílio, numa ação
que ele chamou de sequestro.
Cansados de intervir, os EUA
passaram o bastão ao Brasil, líder das forças da ONU.
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