São Paulo, sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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Relação com os americanos explica história recente do Haiti

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A história recente do Haiti é a história da relação com os EUA.
Após ocupar o país por quase 20 anos, os marines se retiraram em 1934. Seguiu-se uma série de governos fracos intercalados por golpes, até que, em 57, após a renúncia do presidente Paul Magloire, um pacato médico apelidado de Papa Doc (papai doutor) foi eleito.
Não demoraria muito para que ele deixasse de ser pacato e desse origem a uma das mais selvagens ditaduras dinásticas do Ocidente. Em 1964 autoproclamou-se presidente vitalício, reinando num regime marcado pelo terror -entremeava culto a personalidade e magia negra. Por não confiar no Exército, apoiava-se em milícias. Estima-se que tenha ordenado a morte de 30 mil opositores.
Os EUA chegaram a ensaiar sanções, mas, depois da crise dos mísseis, recuaram. Era melhor lidar com um tirano tresloucado ao risco de uma nova Cuba nos calcanhares.
Duvalier percebeu as possibilidades desse nicho e converteu-se num anticomunista feroz. Ainda que a contragosto, os EUA toleraram o Papa Doc e, após sua morte, apoiaram o governo do filho, Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc.
Menos hábil e ligeiramente mais liberal que o pai, o governo de Baby Doc foi sacudido por protestos populares em 1985 e 1986. Reagan o convenceu a renunciar e partir para o exílio na França, antes que uma revolução de fato acontecesse. Ele vive até hoje em Paris.
O Haiti retornou assim a sua rotina de governos breves, golpes e rebeliões até que, em 1990, surgiu uma esperança. O ex-padre Jean-Bertrand Aristide, tido como homem correto e preparado, vence as eleições com dois terços dos votos. Ele assume, mas apenas para ser derrubado seis meses depois.
Desta vez, porém, os EUA e a comunidade internacional rejeitam o golpe, e Aristide volta ao poder para terminar seu mandato, encerrado em 1995.
Reeleito em 2000, Aristide acaba revelando-se um mandatário similar a seus antecessores. Acusado de corrupção, foi derrubado por uma combinação de golpe paramilitar e protestos populares. Os marines voltaram ao Haiti para levar Aristide ao exílio, numa ação que ele chamou de sequestro. Cansados de intervir, os EUA passaram o bastão ao Brasil, líder das forças da ONU.


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