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Chile vê ascensão de "nova direita"
Movimento seria centrado na figura de Sebastián Piñera, empresário favorito ao pleito de domingo
O candidato se moveu ao centro e incorporou temas morais da esquerda, mas causou fricção com setores conservadores da aliança
THIAGO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
O Chile, que elege novo presidente no domingo, viu surgir,
na campanha do segundo turno, um debate sobre a ascensão
de uma "nova direita" no país,
centrada no empresário Sebastián Piñera (Renovación Nacional), favorito ao pleito.
Homem mais rico do país,
com fortuna estimada em
US$ 1 bilhão (a 701ª do mundo)
pela revista "Forbes", Piñera se
moveu ao centro como nunca
na eleição. Assumiu a agenda
da esquerda em temas morais
-como na defesa da entrega
gratuita da pílula do dia seguinte- e fez uma campanha afastada dos partidos.
O debate foi alentado a partir
da própria Concertação, a
aliança de centro-esquerda que
governa o Chile há 20 anos. Em
artigo, o sociólogo Eugenio Tironi, da equipe de campanha do
ex-presidente Eduardo Frei,
candidato do governo, cunhou
a expressão "piñerismo".
"Com o piñerismo nasce um
novo tipo de liderança na política chilena. Piñera está em
múltiplas atividades, em especial em quatro que excitam a
imaginação do povo: viagens,
futebol, TV e política. Transpira êxito e otimismo, à diferença
de políticos tradicionais, que se
mimetizam às misérias das
pessoas", escreveu Tironi.
Para o sociólogo, Piñera mostra sua riqueza como prova de
capacidade, e não de privilégios
-é dono da rede de TV Chilevisión, de 26% da LAN, a maior
empresa aérea do Chile, e de
14% do Colo-Colo, o clube de
futebol mais popular do país.
Rompe, diz, uma "anomalia" da
democracia chilena: ter uma direita controlada por filhos da
ditadura do general Augusto
Pinochet (1973-1990).
Um forte ativo político de Piñera é o fato de ter atuado pelo
"não" no plebiscito de 1988, que
rejeitou mais oito anos de ditadura. Mas foi senador de 1990 a
1998 com apoio dos militares e
tem na UDI -braço conservador de sua coalizão- um aliado.
"O projeto de Piñera é encabeçado por jovens de perfil
mais liberal. Mas conservadores e liberais vão ter que conviver em um eventual governo de
direita, e essa luta mal começou", disse à Folha o analista
político Cristóbal Bellolio.
A defesa de propostas liberais por Piñera gerou tensões
na direita. Ruídos minimizados
pelo senador Juan Coloma,
presidente da UDI, partido que
mostrou força ao eleger 40 deputados em dezembro -a melhor votação de uma sigla na
Câmara desde 1990. "Houve
uma certa forma de ver as coisas que exigiu ajustes. Mas fazem intrigas porque não entendem que Piñera vai ganhar e
que a UDI teve uma excelente
votação", disse ele à Folha.
Embora tente se afastar do
pinochetismo, Piñera deixou
aberta a possibilidade de incorporar ex-ocupantes de cargos
na ditadura a seu possível governo. Para o analista Bernardo Navarrete, é cedo para falar
de "nova direita" no Chile. "A
direita está consolidada não só
no Congresso, mas no mundo
financeiro e econômico. E não
renovou lideranças."
Na última pesquisa, Piñera
obteve 50,9% das intenções de
voto e Frei, 49,1%. As campanhas terminaram ontem.
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