São Paulo, sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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Chile vê ascensão de "nova direita"

Movimento seria centrado na figura de Sebastián Piñera, empresário favorito ao pleito de domingo

O candidato se moveu ao centro e incorporou temas morais da esquerda, mas causou fricção com setores conservadores da aliança


THIAGO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

O Chile, que elege novo presidente no domingo, viu surgir, na campanha do segundo turno, um debate sobre a ascensão de uma "nova direita" no país, centrada no empresário Sebastián Piñera (Renovación Nacional), favorito ao pleito.
Homem mais rico do país, com fortuna estimada em US$ 1 bilhão (a 701ª do mundo) pela revista "Forbes", Piñera se moveu ao centro como nunca na eleição. Assumiu a agenda da esquerda em temas morais -como na defesa da entrega gratuita da pílula do dia seguinte- e fez uma campanha afastada dos partidos.
O debate foi alentado a partir da própria Concertação, a aliança de centro-esquerda que governa o Chile há 20 anos. Em artigo, o sociólogo Eugenio Tironi, da equipe de campanha do ex-presidente Eduardo Frei, candidato do governo, cunhou a expressão "piñerismo".
"Com o piñerismo nasce um novo tipo de liderança na política chilena. Piñera está em múltiplas atividades, em especial em quatro que excitam a imaginação do povo: viagens, futebol, TV e política. Transpira êxito e otimismo, à diferença de políticos tradicionais, que se mimetizam às misérias das pessoas", escreveu Tironi.
Para o sociólogo, Piñera mostra sua riqueza como prova de capacidade, e não de privilégios -é dono da rede de TV Chilevisión, de 26% da LAN, a maior empresa aérea do Chile, e de 14% do Colo-Colo, o clube de futebol mais popular do país. Rompe, diz, uma "anomalia" da democracia chilena: ter uma direita controlada por filhos da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990).
Um forte ativo político de Piñera é o fato de ter atuado pelo "não" no plebiscito de 1988, que rejeitou mais oito anos de ditadura. Mas foi senador de 1990 a 1998 com apoio dos militares e tem na UDI -braço conservador de sua coalizão- um aliado.
"O projeto de Piñera é encabeçado por jovens de perfil mais liberal. Mas conservadores e liberais vão ter que conviver em um eventual governo de direita, e essa luta mal começou", disse à Folha o analista político Cristóbal Bellolio.
A defesa de propostas liberais por Piñera gerou tensões na direita. Ruídos minimizados pelo senador Juan Coloma, presidente da UDI, partido que mostrou força ao eleger 40 deputados em dezembro -a melhor votação de uma sigla na Câmara desde 1990. "Houve uma certa forma de ver as coisas que exigiu ajustes. Mas fazem intrigas porque não entendem que Piñera vai ganhar e que a UDI teve uma excelente votação", disse ele à Folha.
Embora tente se afastar do pinochetismo, Piñera deixou aberta a possibilidade de incorporar ex-ocupantes de cargos na ditadura a seu possível governo. Para o analista Bernardo Navarrete, é cedo para falar de "nova direita" no Chile. "A direita está consolidada não só no Congresso, mas no mundo financeiro e econômico. E não renovou lideranças."
Na última pesquisa, Piñera obteve 50,9% das intenções de voto e Frei, 49,1%. As campanhas terminaram ontem.


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