São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

Caso prova que há critérios políticos para santificação

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Bento 16 matou ontem dois coelhos com uma cajadada só. Sinalizou mais uma vez a orientação política de seu pontificado e neutralizou a impressão de que apenas gasta energia para se defender das acusações de pedofilia na hierarquia eclesiástica.
Seu antecessor João Paulo 2º (1920-2005) será declarado beato em 1º de maio. Qualquer católico militante argumentaria que existem razões teológicas de sobra para isso.
Mas a questão é outra. A beatificação -que colocará o papa ao lado do jesuíta José de Anchieta, que morreu em 1597, e de outro papa, João 23 (1881-1963)-queimou etapas para satisfazer o catolicismo mais tradicional.
Bento 16 adotou a mesma exceção à regra que levou João Paulo 2º, em 2003, a não cumprir prazos processuais para beatificar madre Teresa de Calcutá.
O atual papa foi um auxiliar fundamental do ex-papa na tarefa de neutralizar a chamada "igreja progressista", promovendo a cardeal os bispos de orientação mais conservadora, ou evitando que se tornassem bispos os padres que defendiam a Teologia da Libertação.
Ou seja, há um critério político, que também vale para a promoção do católico já morto à condição de beato ou de santo.
Os exemplos frequentemente citados são, de um lado, a demora de agora 40 anos para beatificar o bispo Oscar Romero, assassinado em El Salvador sob a suspeita de simpatizar com a guerrilha de esquerda.
De outro, a rápida canonização, 27 anos depois de sua morte, de Josemaria Escrivá de Balaguer, fundador do grupo conservador Opus Dei.
A rigor, toda instituição tem o direito de sinalizar suas orientações. E João Paulo 2º, tanto quanto Bento 16, ampliaram a possibilidade numérica de sinalizar.
O papa morto em 2005 foi o que mais mais beatificou (1.340 católicos), depois da definição das atuais regras, no final do século 16. O atual papa, em 2007, beatificou de uma só vez 495 espanhóis.
A Igreja padronizou os critérios de beatificação e canonização apenas por volta do século 12. Antes disso, valiam os santos aclamados pelos cristãos.
A historiadora francesa Régine Pernauld cita exemplos de aclamação primeiramente de mártires e, em seguida, de nobres locais que abriram mãos de suas fortunas para a construção de conventos, orfanatos ou leprosários.


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