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VENEZUELA
Presidente eleito mantém equipe econômica do governo anterior e diz que não vai mexer na política cambial
Chávez defende "cautela econômica"
da Redação
O presidente eleito da Venezuela,
Hugo Chávez, 44, venceu nas urnas prometendo reformas profundas. Na área econômica, porém, o
futuro líder venezuelano prefere
ser cauteloso -anunciou que irá
manter o titular do Ministério da
Economia no cargo e fala em mudanças na política financeira, mas
não especifica quais seriam.
Chávez, em entrevista ao "El
País", garante que não vai mexer
na política cambial do país. Afirma, porém, que, "no fundo", tem
um projeto de transformação do
modelo econômico venezuelano.
O presidente eleito volta a exigir
a instalação de uma Assembléia
Constituinte e diz apoiar a criação
de um bloco latino-americano.
Chávez, que liderou tentativa de
golpe em 1992, foi eleito no último
dia 6 e deve assumir o cargo no
próximo 2 de fevereiro. Desde o último final de semana, ele está visitando vários líderes europeus. Hoje, Chávez deve se reunir com o
premiê da Itália, Massimo D'Alema. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
JOSÉ MIGUEL LARRAYA
do "El País"
Pergunta - O sr. diz ser bolivariano em memória de Simón Bolívar (1783-1830), que lutou contra
o império espanhol. Contra qual
império o sr. luta?
Hugo Chávez Frías - Não. Sou bolivariano porque foi Bolívar que
elaborou o primeiro projeto de
país-nação da América Latina. Bolívar, junto com Miranda e outros
líderes, foi um construtor de repúblicas. Sou bolivariano quando
Bolívar diz que o sistema de governo democrático devia fazer feliz a
um povo e, se não o faz, não é democrático. Bolívar em seu conceito de que o Exército e o povo devem estar unidos na construção de
um projeto nacional.
Pergunta - O sr. afirma que tem
um projeto para a Venezuela. Por
onde esse projeto vai começar?
Chávez - Antes de mais nada, não
se trata de um projeto pessoal. Trata-se de um projeto coletivo. Deveria dizer, como Bolívar, que o homem é como uma palha fraca arrastada por um furacão, ou, como
diria o barão de Montesquieu, o líder deve montar sobre a onda e
tratar de conduzi-la. E há uma onda descontrolada, o poder constituinte.
Pergunta - E essa onda, para onde vai?
Chávez - Uma das primeiras coisas, como dissemos na campanha
eleitoral, será convocar um referendo democrático e perguntar ao
país qual o caminho a seguir: se seguimos esse mesmo modelo político, dando voltas ao redor de nós
mesmos e afundando mais a cada
dia, ou se damos um salto adiante,
convocando uma Assembléia
Constituinte.
Pergunta - O sr. acha que tem
apoio suficiente para mudar a
Constituição?
Chávez - Antes de virmos à Europa, vimos uma pesquisa feita em
Caracas (capital da Venezuela) na
qual 78% dos moradores consultados na cidade diziam sim a eleições
constituintes já. Tudo indica que
haverá uma resposta positiva ao
referendo.
Pergunta - A permanência, em
seu futuro governo, da ministra da
Economia do governo anterior é
um gesto de continuidade e pretende dar confiança aos investidores estrangeiros?
Chávez - Não tanto de continuidade -vamos transformar o modelo econômico-, mas de reconhecimento da grande capacidade
técnica da ministra Mari Fe Izaguirre no trabalho feito nos últimos meses, o equilíbrio das contas
macroeconômicas. Nós temos dito
que vamos continuar com o sistema de bandas cambiais. Não vamos utilizar a desvalorização com
fins ficais. Não vamos estabelecer
um controle de câmbio. Mas, para
além do macroeconômico, no fundo, temos também um projeto de
transformação do modelo econômico da Venezuela, já que o atual
não está servindo para satisfazer as
necessidades da população.
Pergunta - Como o sr. se coloca
em relação aos EUA?
Chávez - Acredito que devemos
ser grandes aliados. Nesta semana,
recebi uma ligação do presidente
argentino, Carlos Menem, que estava com o presidente Clinton em
Washington. Estamos planejando
a viagem para lá (programada para
o final deste mês). Seremos aliados, sem dúvida.
Pergunta - E com Cuba?
Chávez - A mesma coisa. Somos
amigos de Cuba.
Pergunta - O sr. vai a Havana (capital cubana) no domingo?
Chávez - Amanhã à noite.
Pergunta - O sr. está à mesma
distância de Washington e de Havana?
Chávez - Ponha-me à mesma distância da Espanha, de Washington, de Havana, de Moscou, da Índia e da China. À mesma distância
de todos.
Pergunta - Sua primeira visita como presidente eleito foi ao Brasil
e, depois, a Argentina, Colômbia e
México. O sr. apóia a criação de um
bloco latino-americano?
Chávez - O mundo não é mais bipolar, nem unipolar. Temos a necessidade, e boas chances, de formar um pólo de poder na América
Latina e Caribe. Acelerarei como
puder os projetos de integração
que temos com a América Latina.
Pergunta - Qual o maior risco que
ameaça seu projeto político?
Chávez - O maior risco que enfrentamos na Venezuela é o da ingovernabilidade na que caiu o sistema venezuelano. Por isso a necessidade da Assembléia Constituinte. É um necessidade imperiosa. A Constituinte é o mecanismo
para reordenar o sistema que caiu
em uma etapa de entropia. Nada
funciona. Precisamos dar viabilidade e governabilidade ao sistema.
Se não tivermos uma Constituinte
logo, corremos o risco de fracassar.
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