São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

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ORIENTE MÉDIO

Em entrevista ao "New York Times", líder palestino diz que libertação de presos é prioridade; saída de Jericó é adiada

Abbas aponta fim do conflito com Israel

DA REDAÇÃO

O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, disse que a guerra com Israel efetivamente acabou, mas afirmou que depende de Israel a consolidação desse quadro. Abbas declarou que o premiê israelense, Ariel Sharon, está falando com os palestinos "numa linguagem diferente".
As afirmações foram feitas em entrevista publicada ontem pelo jornal americano "The New York Times", a primeira concedida pelo líder palestino a um veículo ocidental desde que foi eleito, em janeiro deste ano.
Abbas qualificou como "bom sinal" o compromisso de Sharon de fazer a retirada de Gaza e de desmontar todos os assentamentos naquele território, além de outros quatro na Cisjordânia, considerando-se "quanta pressão está sobre ele por parte dos direitistas do Likud [partido de Sharon]".
"E agora ele tem um parceiro", disse Abbas, referindo-se a si mesmo. Na semana passada, na primeira reunião de alto nível entre israelenses e palestinos em quatro anos, em Sharm el-Sheik (Egito), Sharon e Abbas anunciaram um cessar-fogo.
Abbas disse que Israel tem de cumprir o acordo feito em Sharm el-Sheik. Da parte dos palestinos, afirmou: "Nossos camaradas no Hamas e no Jihad [Islâmico] disseram que estão comprometidos com a trégua, com o esfriamento de toda a situação, e acredito que vamos começar uma nova era".
Questionado sobre sua prioridade, Abbas não hesitou: "Os prisioneiros são nossa prioridade, e já dissemos isso a todos". "A situação será estabilizada e vai esfriar em Gaza e na Cisjordânia" à medida que Sharon "nos ajude a libertar os prisioneiros."
Segundo a Autoridade Palestina, Israel mantém cerca de 8.000 palestinos presos. No último domingo, o país concordou em libertar 500 prisioneiros, o que deve ocorrer nos próximos dias.
Apesar de se dizer contente por coordenar a retirada de Israel de Gaza, Abbas afirma que os palestinos precisam de um horizonte político para a criação de um Estado. "Ele [Sharon] foi positivo em todas essas coisas, mas o que realmente queremos saber é como vai ser a implementação."
O líder palestino disse ainda que, se depender dele, rejeitará a opção mencionada no "Mapa do Caminho" (plano de paz patrocinado pelos EUA) de declarar um "Estado palestino dentro de fronteiras provisórias" até o final das negociações.
Segundo Abbas, os palestinos verão uma solução provisória como uma armadilha, um substituto ao acordo final, e "a paz não irá prevalecer mais na região".
"Disse a Sharon que é melhor para ambos os lados estabelecer esse canal para lidar com o status final, e paralelamente seguir as fases do mapa do caminho." Segundo ele, Sharon "não respondeu" à proposta.
Apesar de otimista, Abbas disse que os palestinos "estão observando, estão vendo progressos e estão contentes, mas querem mais". "Eles querem a criação de empregos, eles querem comer e eles querem segurança", afirmou.
Em Gaza, milhares de pessoas receberam ontem os corpos de 15 palestinos mortos pelo Exército israelense nos últimos dois anos, devolvidos por Israel num gesto político de apoio à trégua.
Porém, num retrocesso, a entrega do controle de Jericó (Cisjordânia) aos palestinos, prevista para hoje, foi adiada devido a divergências sobre questões de segurança e o tamanho do território.
Em Hebron (Cisjordânia), tropas israelenses mataram um palestino que, segundo eles, havia tentado esfaquear um soldado. Militantes lançaram morteiros contra um posto militar no sul de Gaza, sem fazer vítimas.
A polícia israelense prendeu 50 manifestantes de extrema-direita envolvidos em protestos contra o plano de retirada de Gaza.


Com agências internacionais

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