São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

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RELIGIÃO

Governo declara luto em memória de uma das crianças que viram aparição de Nossa Senhora em Fátima, em 1917

Morte da freira que viu a Virgem pára Portugal

DA REDAÇÃO

A morte da freira Lúcia de Jesus dos Santos, 97, que, no passado, foi uma das três crianças que declararam ter visto a Virgem Maria em Fátima, parou Portugal. O governo decretou luto oficial hoje, e os principais partidos políticos cancelaram a campanha para as eleições do próximo domingo.
"Lúcia é uma grande figura na história recente de Portugal", disse o premiê Pedro Santana Lopes. Segundo ele, a morte de Lúcia é "um momento impressionante para Portugal e para o mundo, tanto para os católicos quanto para os outros, pois ela teve uma vida impressionante".
A coalizão governamental (o Partido Social-Democrata e o Partido Popular) cancelou suas atividades de campanha até hoje. O Partido Socialista (oposição), que está à frente nas pesquisas, não cancelou todas as atividades, mas anunciou uma redução.
O presidente de Portugal, Jorge Sampaio, declarou que Lúcia "era um símbolo e um ponto de referência para muitas pessoas, em Portugal e no mundo." As bandeiras no país deverão estar hoje a meio pau, em sinal de luto.

Visões da Virgem Maria
Lúcia foi uma das três crianças que declararam ter visto a Virgem Maria em Fátima, uma cidade agrícola a 190 km de Lisboa, uma vez por mês, de 13 de maio até 13 de outubro de 1917. Elas tiveram visões que teriam predito a Segunda Guerra, o fim da União Soviética e o atentado contra o papa João Paulo 2º, em 1981. As outras crianças eram os primos de Lúcia, Jacinta e Francisco, que morreram poucos anos depois e foram beatificadas pelo papa em 2000.
Inicialmente, a Igreja Católica reagiu com ceticismo à aparição, mas, em 1930, reconheceu o acontecimento como um milagre.
A cidade se tornou um dos maiores locais de peregrinação para católicos no mundo. Cerca de 100 mil pessoas viajam a Fátima anualmente para a comemoração do aniversário da aparição. Ao longo do ano passado, 3,75 milhões de católicos de todo o mundo passaram pelo local.
O papa João Paulo 2º declarou algumas vezes acreditar que foi Nossa Senhora de Fátima que impediu sua morte no atentado que sofreu em 1981. "Uma mão disparou o revólver, e outra guiou o tiro", ele disse. O atentado ocorreu no dia de Nossa Senhora de Fátima, 13 de maio. Um extremista turco de direita, chamado Mehmed Ali Agca, disparou três tiros contra o papa, mas as balas não atingiram nenhum órgão vital.
Após o atentado, o papa mandou colocar uma das balas que o feriram na coroa da estátua de Nossa Senhora em Fátima. O Vaticano, recentemente, anunciou que o atentado contra o papa era a última das três visões das crianças, que ficara em segredo por mais de 80 anos. Na visão, Lúcia declarou que aparecia "um bispo vestido de branco, que era morto por um grupo de soldados disparando revólveres e flechas".
Recuperando-se de uma forte gripe que o deixou internado por nove dias, o papa não comparecerá ao enterro, mas será representado pelo cardeal italiano Tarcisio Bertone, arcebispo de Gênova.
"Sinto-me muito honrado por ser enviado ao enterro de Lúcia, uma pessoa privilegiada e amiga da humanidade", disse Bertone.
O Vaticano informou que o papa fez uma oração especial pela freira. Ele esteve em Fátima três vezes e conversou com Lúcia em todas elas. Poucos dias antes da morte dela, ele havia enviado um fax desejando que ela "atravessasse bem esse momento de dor".
Lúcia vivia reclusa no convento. Escreveu dois livros a respeito de suas visões. Nos últimos anos, ela estava surda e cega.
O enterro será realizado hoje no convento carmelita em que vivia, em Coimbra. Ela está sendo velada na capela, e centenas de católicos já passaram pelo velório. Uma fila se formou no convento com fiéis tentando ver o corpo da freira. Segundo o médico que cuidava dela, Lúcia morreu por falência do coração.


Com agências internacionais


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