|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Tropas chegam sem intérprete e são recebidas com desconfiança
LAURENT LOZANO
DA FRANCE PRESSE, EM TIKRIT
Quando uma moradora de Tikrit avança cautelosamente até a
barreira de controle, levando uma
criança nos braços, o soldado
americano grita: "Para trás, para
trás!". A mulher obedece. A cena é
indicativa da desconfiança mútua
que reina no reduto do ex-ditador
Saddam Hussein ocupado pelas
forças americanas.
Na praça central, ao pé da estátua equestre de Saddam, cercada
por sete blindados americanos, o
oficial que comanda o batalhão de
reconhecimento explica que os
quase 900 homens que chegaram
à cidade durante a noite estão ali
"para ajudar as pessoas".
Todos os soldados dizem estar
aqui "em missão de paz" e parecem não ter consciência do alcance simbólico de sua "vitória". Mas
é evidente que a comunicação entre os soldados e a população ainda não foi estabelecida. E aqueles
que receberam ou viram as saudações e os abraços em Bagdá podem notar a diferença entre a situação na capital e o ambiente
que reina nesta cidade situada 180
km ao norte. Para complicar as
coisas, o oficial reconhece: "Infelizmente, não temos intérprete".
Todos os habitantes de Tikrit
mantêm distância dos americanos ou são mantidos à distância.
Dois iraquianos usando aventais
brancos que caminham até a barreira de controle são advertidos.
Entretanto, mesmo sem intérprete, os soldados acabam percebendo que são médicos e lhes dão um
salvo-conduto para o hospital.
O trajeto até o centro de assistência é feito ao lado de uma coluna de blindados americanos.
De seu lado direito, os militares
vigiam um local onde paramilitares fiéis a Saddam tinham seu
quartel-general. Do lado esquerdo, os soldados cochilam ao sol
diante dos veículos que vigiam a
entrada monumental do palácio
do ex-ditador. Situado ao final de
uma entrada rodeada de palmeiras, ele é de um luxo extravagante,
mas parece estar intacto. Quando
chegamos mais perto, porém, podemos ver que foi destruído de
dentro para fora. Os revestimentos de madeira e mármore foram
arrebentados, e as grandes escadarias, quebradas. Mas a vista para o rio Tigre continua magnífica.
Ecoam ao longe algumas explosões, muito menores que as da
noite. Alguns helicópteros continuam a sobrevoar a cidade.
No interior do palácio, que dá a
impressão de nunca ter sido ocupado, as esculturas de madeira e o
revestimento de ouro falso dos
banheiros continuam ali -os saqueadores ainda não chegaram
ao ponto do que fizeram seus colegas em Bagdá, Kirkuk e Basra.
Nem os moradores nem os
americanos derrubaram a estátua
de Saddam. Nem dispararam
contra seus retratos. Ele está em
todo lugar e lugar nenhum, e os
moradores da cidade dizem que
não o viram mais desde que a
guerra começou, em 20 de março.
Texto Anterior: Dois porta-aviões recebem ordem de voltar aos EUA Próximo Texto: Diário de Bagdá: Polícia volta às ruas, sem armas e com marines Índice
|