São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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Al Sadr é pressionado por líderes xiitas a recuar para evitar invasão de Najaf, cercada por soldados dos EUA

Sitiado, radical xiita cede e aceita negociar

DA REDAÇÃO

Sitiado por 2.500 soldados americanos em Najaf, sul do Iraque, o clérigo radical Moqtada al Sadr recuou e aceitou negociar com os EUA sem impor condições após ser pressionado por outros líderes xiitas. A coalizão liderada por Washington prometera prender ou matar o clérigo, líder da milícia que iniciou um levante contra as tropas de ocupação neste mês.
Segundo assessores, Al Sadr deixou seu gabinete, onde passou os últimos dias, e se refugiou na casa de seu pai. O gabinete fica perto do templo do imã Ali, um dos principais para os xiitas.
O clérigo, que iniciou o levante após a administração americana fechar seu jornal, no fim de março, exige o fim das atividades militares no país, a retirada americana do Iraque e a libertação de "todos os inocentes detidos".
Os EUA o acusam de assassinato e formaram, junto com tropas polonesas e espanholas, uma zona de exclusão em torno de Najaf. Uma eventual invasão da cidade, principal santuário xiita, poderia provocar uma revolta popular de grandes proporções no país, onde 60% da população pertence a essa corrente muçulmana.
Para negociar, Al Sadr vinha exigindo que os EUA deixassem as áreas residenciais na cidade. Mas, segundo seu porta-voz, Qays al Khazali, Al Sadr aceitou retirar as precondições após receber emissários do aiatolá Ali al Sistani, principal líder xiita iraquiano, e de dois outros aiatolás. Uma delegação iraniana participa das negociações.
O principal comandante militar americano afirmou que a captura de Al Sadr pelos EUA poderia piorar a onda de violência no país, "mas temporariamente". O chefe do Estado-Maior dos EUA, general Richard Myers, chegou ontem ao Iraque para sua primeira visita ao país desde dezembro, a fim de avaliar a situação de segurança.
Diante da violência, os EUA estão revisando seus planos para dispensar parte das tropas no Iraque. Cerca de 20 mil homens da 1ª Divisão Blindada e do 2º Regimento de Cavalaria que deixariam o país em maio devem ter as licenças adiadas, segundo funcionários do Pentágono que pediram para não ser identificados.

ONU
A piora da segurança também prejudica o processo político que começa em 30 de junho, com a devolução da soberania aos iraquianos, e culmina em janeiro de 2005, com eleições gerais.
O chefe da missão da ONU no Iraque, Lakhdar Brahimi, defendeu a convocação de uma conferência nacional de líderes políticos e religiosos nos moldes da Loya Jirga, a assembléia afegã.
A conferência debateria o governo provisório, que deve ser encabeçado por um premiê e contar com um presidente e dois vices, e estabeleceria as condições para a eleição. Mas esse organismo não teria o papel de uma legislatura -ou seja, não faria leis-, mas sim o de uma assembléia consultiva. "O mais importante é fomentar o diálogo nacional e o consenso para promover a reconciliação nacional", disse Brahimi.


Com agências internacionais

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