São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pressão internacional sobre Cuba não resolve, afirma Marco Aurélio

DA REDAÇÃO

Marco Aurélio Garcia, assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos internacionais, falou à Folha sobre direitos humanos em Cuba. (FM)

 

Folha - Por que o governo decidiu repetir o voto e se abster na Comissão de Direitos Humanos da ONU em relação a Cuba?
Marco Aurélio Garcia -
Não há nenhum fato novo que nos aconselhe a mudar o voto com relação ao ano passado.

Folha - Cuba recusou a entrada da enviada especial da ONU.
Garcia -
Esse problema já estava colocado anteriormente. O fundamento do voto brasileiro você sabe qual é. [A resolução anti-Cuba] é um ato que tende a isolar o caso cubano, politizá-lo unilateralmente, e tem se revelado absolutamente ineficaz, só contribui para o isolamento de Cuba. Não acreditamos que o melhor sistema que existe para resolver os problemas do país de um modo geral seja tentar isolá-lo internacionalmente por meio de sanções.

Folha - Em setembro, Lula visitou Cuba, onde, conversou com Fidel sobre as prisões políticas. Houve algum resultado dessa conversa?
Garcia -
Eu tenho a impressão de que as coisas estão caminhando. Agora, isso não nos cabe... Nesse tipo de iniciativa, nesse tipo de conversa, quanto menos ruído se fizer, melhor. Nós entendemos muito bem que Cuba, como qualquer outro país, queira preservar sua soberania nacional. Não nos parece que o sistema de pressões internacionais seja um bom sistema. No ano passado, nós fizemos uma observação na declaração de voto lamentando as execuções etc., mas acreditamos que, na situação dos direitos humanos, tenha havido um progresso.

Folha - O sr. poderia ser mais específico com respeito ao "estão caminhando"?
Garcia -
Não, não... Evidentemente, não posso ser mais específico. Acho que nós vamos ter bons resultados, seja na votação seja na solução do problema.

Folha - Mas o Brasil reconhece que há repressão em Cuba?
Garcia -
Não, o Brasil não reconhece. Cuba tem condenações feitas em tribunais, você pode dizer que as condenações são severas, não são severas, isso é outra coisa. É a mesma coisa que você dizer, em outros países do mundo, que há repressão porque há condenações que você possa considerar severas. Mas não reconhecemos nem deixamos de reconhecer. Não opinamos sobre o assunto.

Folha - O governo tem várias pessoas com ligações pessoais com Cuba. Qual é o peso disso?
Garcia -
Nenhum. A posição brasileira é a mesma que atravessou todo o governo FHC. Não estamos votando contra a moção, estamos nos abstendo dessa votação por razões que constam no voto do ano passado e que seguramente serão reiteradas neste ano.

Folha - Mas não é um fato novo a prisão de 75 dissidentes com relação ao governo FHC?
Garcia -
Não, já tinha havido processos durante o governo FHC. Não quero ser mais explícito: se formos adotar o critério de problemas de direitos humanos, você sabe onde vamos parar.


Texto Anterior: País estuda relaxar críticas à China sobre direitos humanos
Próximo Texto: ONU questionada: Mãe pode pedir exumação de Vieira de Mello
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.