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A LONGA NOITE ARGENTINA
Durante o dia, porém, cartazes no chão de comitê do candidato indicavam desânimo
Menemistas fiéis fizeram vigília em hotel
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
São 2h da madrugada de quarta-feira, e Maria Amati, 48, continua em frente ao hotel Presidente, em Buenos Aires, onde
Carlos Menem passou o dia e a
noite reunido com assessores
para decidir se renunciaria ou
não à disputa do segundo turno
da eleição presidencial da Argentina.
Bandeira em mãos e vestindo
uma camiseta que estampava:
"Com Menem vencemos todos",
Maria era apenas mais uma das
centenas de pessoas que invadiram a calçada e fecharam a rua
em frente ao hotel para pedir
que Menem não abandonasse a
candidatura.
"Menem não vai desistir. O
povo só tem a ele. Tudo isso [rumor de renúncia" é uma manobra política do [presidente Eduardo] Duhalde", afirmava
Maria que, na madrugada de ontem, não ousava pensar na possibilidade de renúncia.
Seu pedido, igual ao da centena de menemistas que cantava
"que volte Menem" na rua Cerrito -onde fica o hotel em que
se hospedou durante toda a campanha-, não foi atendido.
Às 16h30 da quarta-feira, os rumores foram confirmados e o
ex-presidente retirou sua candidatura presidencial.
Medo
Maria tem seis filhos e está desempregada há quatro anos. Seu
marido perdeu o emprego há
dois anos e hoje vive de bicos
"aqui e ali". "A minha sorte é
que um dos meus filhos trabalha
num laboratório. Mas tenho medo. Do jeito que as coisas vão, o
meu filho também pode perder
o emprego. Só Menem pode evitar que isso aconteça", disse.
Maria Amati, como a maioria
dos 4,7 milhões de eleitores de
Menem, não entende a atual crise econômica vivida no país como consequência da política
macroeconômica praticada pelo
ex-presidente nos dez anos em
que esteve à frente da Casa Rosada (sede do governo), entre 1989
e 1999.
Para essas pessoas, Menem é o
único representante genuíno do
difuso peronismo, coração do PJ
(Partido Justicialista) e do qual
Néstor Kirchner também faz
parte.
"Menem é hoje a única alternativa do peronismo. Com sua
renúncia, a esperança de melhora some", afirmou outro simpatizante, Oscar Pettinato. "O peronismo não é um partido. É um
estilo de vida, e os peronistas que
estão aí no poder não representam nada do que o peronismo
prega."
Desânimo
O clima de euforia que contagiou os corredores do hotel Presidente na madrugada, no entanto, não se estendeu às ruas
durante o dia de ontem. Às
13h40, quando ainda se aguardava a resposta do ex-presidente
sobre sua candidatura, a sede do
partido de La Matanza, grupo
político estreitamente ligado ao
menemismo e que organizou
parte da mobilização de ontem,
estava vazia.
Os poucos cartazes, dizendo
"estamos com Menem para que
a Argentina cresça", estavam jogados pelo chão e sinalizavam o
desânimo de quem, poucas horas antes, alimentava a esperança de ir às urnas no próximo domingo.
"Menem perdeu porque não
mentiu. Devia ter feito o que
sempre fez: mentir. Mas, com 72
anos, a gente já está cansado e
não tem tanta disposição para
lutar", afirmou Pettinato.
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