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São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2003

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Menem contaminou a eleição, diz historiador

OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO

Ao renunciar à disputa do segundo turno, o ex-presidente Carlos Menem contaminou o processo político. É o que diz o historiador Felix Luna, 75, ex-professor da Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires, autor de vários livros sobre a história do país e um de seus intelectuais mais respeitados. "Um processo que poderia ter sido limpo e transparente termina com uma frustração", disse à Folha, em entrevista por telefone.
 

Folha - A renúncia de Menem prejudica o processo eleitoral?
Felix Luna -
Sim, há uma grande frustração porque Menem impediu um segundo turno que teria legitimado Néstor Kirchner de uma maneira mais sólida. Um processo que poderia ter sido limpo e transparente termina com uma frustração. Kirchner será presidente com cerca de 22% dos votos, o que é pouco. Menem será lembrado como um político que não respeitou as instituições, colocou seus interesses pessoais sobre os interesses do país e permitiu que eles contaminassem o processo político.

Folha - Na história recente da Argentina, os presidentes terminam totalmente desprestigiados. Por motivos diferentes, aconteceu com os militares, com Raúl Alfonsin, com Fernando de la Rúa e com Menem, como ficou claro agora. É como se houvesse uma tendência destrutiva na política argentina?
Luna -
Esse é um país difícil. Lembro-me de um verso de um romancista espanhol que diz que a Espanha "é um país que faz e desfaz os homens". A Argentina também é assim. Faz e desfaz os homens com muita rapidez.

Folha - E por quê?
Luna -
Há diversos fatores: a impaciência das pessoas, uma idéia de que a política pode solucionar tudo, de que um homem pode solucionar tudo. Acho que é uma questão de imaturidade.

Folha - A vitória de Kirchner, o preferido do presidente Eduardo Duhalde, significa que a classe política, tão vilipendiada no auge da crise em 2001 e 2002, soube fazer uma transição bem sucedida ou representa uma frustração das expectativas de mudança?
Luna -
A renovação de toda uma classe dirigente é um processo longo, que pode levar anos. Kirchner encontrará um país melhor do que há um ano e meio, o processo econômico começa a reverter a situação crítica. Mas seu governo dependerá de uma série de eleições nas quais serão eleitos novos governadores, deputados etc. Agora, não há dúvida de que ocorreram fenômenos interessantes. Por exemplo, um grande movimento de solidariedade com os que têm menos. Lentamente, estão sendo construídas algumas bases que fazem com que haja uma maior sensibilidade das lideranças políticas e de outros setores. As instituições e a democracia vão se afirmando com o tempo.


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