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Menem contaminou a eleição, diz historiador
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
Ao renunciar à disputa do segundo turno, o ex-presidente
Carlos Menem contaminou o
processo político. É o que diz o
historiador Felix Luna, 75, ex-professor da Faculdade de Direito
da Universidade de Buenos Aires,
autor de vários livros sobre a história do país e um de seus intelectuais mais respeitados. "Um processo que poderia ter sido limpo e
transparente termina com uma
frustração", disse à Folha, em entrevista por telefone.
Folha - A renúncia de Menem prejudica o processo eleitoral?
Felix Luna - Sim, há uma grande
frustração porque Menem impediu um segundo turno que teria
legitimado Néstor Kirchner de
uma maneira mais sólida. Um
processo que poderia ter sido limpo e transparente termina com
uma frustração. Kirchner será
presidente com cerca de 22% dos
votos, o que é pouco. Menem será
lembrado como um político que
não respeitou as instituições, colocou seus interesses pessoais sobre os interesses do país e permitiu que eles contaminassem o
processo político.
Folha - Na história recente da Argentina, os presidentes terminam
totalmente desprestigiados. Por
motivos diferentes, aconteceu com
os militares, com Raúl Alfonsin,
com Fernando de la Rúa e com Menem, como ficou claro agora. É como se houvesse uma tendência destrutiva na política argentina?
Luna - Esse é um país difícil.
Lembro-me de um verso de um
romancista espanhol que diz que
a Espanha "é um país que faz e
desfaz os homens". A Argentina
também é assim. Faz e desfaz os
homens com muita rapidez.
Folha - E por quê?
Luna - Há diversos fatores: a impaciência das pessoas, uma idéia
de que a política pode solucionar
tudo, de que um homem pode solucionar tudo. Acho que é uma
questão de imaturidade.
Folha - A vitória de Kirchner, o
preferido do presidente Eduardo
Duhalde, significa que a classe política, tão vilipendiada no auge da
crise em 2001 e 2002, soube fazer
uma transição bem sucedida ou representa uma frustração das expectativas de mudança?
Luna - A renovação de toda uma
classe dirigente é um processo
longo, que pode levar anos.
Kirchner encontrará um país melhor do que há um ano e meio, o
processo econômico começa a reverter a situação crítica. Mas seu
governo dependerá de uma série
de eleições nas quais serão eleitos
novos governadores, deputados
etc. Agora, não há dúvida de que
ocorreram fenômenos interessantes. Por exemplo, um grande
movimento de solidariedade com
os que têm menos. Lentamente,
estão sendo construídas algumas
bases que fazem com que haja
uma maior sensibilidade das lideranças políticas e de outros setores. As instituições e a democracia vão se afirmando com o tempo.
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