São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CUBA

Centenas de milhares marcham em Havana e atacam medidas americanas para "acelerar transição democrática" na ilha

Fidel lidera megaprotesto contra os EUA

Reuters
Centenas de milhares de cubanos participam de protesto contra o governo dos EUA, em Havana


DA REUTERS

O ditador cubano, Fidel Castro, 77, liderou ontem uma marcha que contou com a presença de centenas de milhares de pessoas, num ato que constituiu um protesto contra as novas medidas tomadas pelo governo dos EUA para estrangular a economia cubana e, conseqüentemente, buscar depor o governo comunista da ilha.
Trabalhadores e estudantes portando roupas vermelhas e soldados uniformizados marcharam em Havana -agitando bandeiras de Cuba-, passaram pela missão diplomática dos EUA e gritaram frases contrárias ao presidente americano, George W. Bush.
"Bush, seu fascista, não existe uma agressão à qual Cuba não possa resistir", afirmaram os manifestantes durante as seis horas da marcha, que foi organizada pelo governo. Foi uma das maiores manifestações populares ocorridas na ilha nos últimos anos.
Segundo autoridades, 1,2 milhão de pessoas participaram da marcha, mas testemunhas falaram em centenas de milhares.
Para o ativista cubano Elizardo Sánchez, que preside a Comissão Cubana de Direitos Humanos, o protesto mostrou, mais uma vez, "a grande capacidade do regime cubano em mobilizar as massas".
"Mas trata-se de algo comum em Cuba. De tempos em tempos, o governo convoca uma grande manifestação. Aos sábados, há um ato político-popular. O governo norte-coreano também tem essa capacidade de mobilização" (leia entrevista ao lado).
Fidel, que está no poder há 45 anos, classificou de "impiedosas e cruéis" as medidas adotadas na semana passada pela Casa Branca. Estas visam dar mais apoio aos dissidentes cubanos e limitar as remessas de dinheiro de cubanos que vivem nos EUA e suas visitas a seus parentes na ilha.
"As medidas americanas são contraproducentes, pois são um ato claro de ingerência americana nos assuntos cubanos, o que dá munição a Fidel para continuar a atacar o governo dos EUA e a culpá-lo por todos os problemas de Cuba", afirmou Sánchez.
De uniforme do Exército, o ditador pareceu estar cansado e andou apenas 1,5 km, apoiando-se às vezes em outros manifestantes. Seu irmão e provável sucessor, Raúl, também participou do ato.
"Você não tem o direito de ingerir nos assuntos de Cuba nem de fomentar a transição de um sistema para outro. Só poderá fazê-lo se usar a força bruta", afirmou Fidel, aludindo a Bush. O ditador prometeu "morrer combatendo" caso os EUA invadam a ilha.
Ele disse ainda que Bush não tem autoridade moral para falar de democracia nem de direitos humanos, visto que sua eleição foi uma "fraude" e soldados dos EUA torturam e matam iraquianos.
As medidas americanas para "acelerar a transição democrática" em Cuba são as mais recentes em quatro décadas de sanções concebidas com o objetivo de tirar Fidel do poder. A ilha ficou ainda mais isolada no ano passado, após uma onda de prisões de dissidentes, sendo duramente criticada pela União Européia.
Ademais, após sua condenação na Comissão de Direitos Humanos da ONU, Cuba teve uma disputa diplomática com o México e com o Peru, que votaram contra o regime cubano em Genebra e retiraram seus embaixadores da ilha.

Colaborou Márcio Senne de Moraes


Texto Anterior: América Latina: Diplomatas na ONU prevêem atraso em missão no Haiti
Próximo Texto: Opositor cubano ataca Fidel, EUA e governo Lula
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.