São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004

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Opositor cubano ataca Fidel, EUA e governo Lula

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Os dissidentes cubanos têm de defender-se da repressão do regime totalitário do ditador Fidel Castro e dos erros cometidos pelos EUA, como as medidas para acelerar a transição.
A afirmação é do dissidente Elizardo Sánchez, presidente da Comissão Cubana de Direitos Humanos, que também criticou o governo brasileiro.
 

Folha - Fidel disse que "morrerá combatendo" se os EUA invadirem Cuba. O que o sr. pensa?
Elizardo Sánchez -
O governo sempre insiste em que a agressão militar dos EUA é iminente. Com isso, tenta exagerar a ameaça representada por um inimigo externo e repete a velha máxima de que a pátria está em perigo. Ultimamente, todavia, Washington vinha facilitando a entrada de alimentos e remédios em Cuba, o que minava o argumento oficial.

Folha - Contudo as novas medidas de Washington dão força à retórica de Fidel, não é?
Sánchez -
As novas medidas tomadas pelos EUA são bastante ruins, constituindo algo totalmente inadequado e torpe. As medidas americanas são contraproducentes, pois são um ato claro de ingerência americana nos assuntos cubanos, o que dá munição a Fidel para continuar a atacar o governo dos EUA e a culpá-lo por todos os problemas de Cuba.
Além disso, as relações entre os dois países são tão ruins que o governo cubano utiliza a ação americana para endurecer ainda mais suas posições.
Uma das medidas, a que visa limitar a uma em cada três anos as viagens a Cuba de cubanos emigrados, é uma violação aos direitos civis. Trabalhamos com direitos humanos e, há anos, exigimos que Havana respeite esses direitos. Ora, se os EUA dão o mau exemplo, a situação fica inaceitável.
Os milhares de dissidentes cubanos têm de defender-se da repressão do regime totalitário e dos erros cometidos pelos EUA no que tange a Cuba.

Folha - Grupos cubano-americanos dizem que o sr. é agente de Fidel. Como o sr. reage a isso?
Sánchez -
Trata-se do preço que uma pessoa tem de pagar quando mantém uma posição independente, equilibrada e distante das posições mais radicais. Os que me acusam buscam apenas minar a credibilidade de minha luta.

Folha - O que fazer, então, para pôr fim à ditadura?
Sánchez -
O fim não está distante, pois o regime já tem 45 anos. Devemos apenas continuar a fazer o que nossos amigos do Leste Europeu faziam sob o jugo soviético: resistir e defender a democracia e o respeito aos direitos humanos.
Os cubanos esperavam uma maior solidariedade dos brasileiros. Para mim, é uma grande frustração que o presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva], que foi um líder sindical, não tenha falado com Fidel sobre as péssimas condições de trabalho impostas pelo governo aos cubanos. O governo do Brasil lavou as mãos e finge que não vê o que ocorre em Cuba.


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