São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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MISSÃO NO CARIBE

General diz que passou "tempo suficiente" no país; notícia coincide com aumento da violência; Brasil já indicou substituto

Heleno pede para deixar comando no Haiti

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Após um ano na função e em meio a mais uma onda de críticas pela violência em Porto Príncipe, o general brasileiro Augusto Heleno Pereira solicitou a sua substituição do posto de comandante militar da missão de paz da ONU no Haiti (Minustah). O Brasil já indicou um novo comandante, mas a sua efetivação depende agora das Nações Unidas.
O governo brasileiro escolheu como substituto o general Luiz Guilherme Terra Amaral, sediado em Brasília. A ONU, porém, quer que Heleno permaneça no comando por pelo menos três meses, informaram fontes militares brasileiras à Folha. A decisão deve sair nos próximos dias.
Ontem o general Heleno afirmou que pediu para ser substituído. "Estou aguardando decisões, mas o meu contrato com as Nações Unidas terminou no dia 30 de maio e gostaria de ser substituído. Eu sou militar, cumpro missão. Mas estou há um ano no Haiti, acho que é tempo suficiente. Aqui não tem domingo, tem primeira-feira", disse o general a jornalistas brasileiros, durante um tour por Porto Príncipe.
Criticado pelo aumento da violência -sobretudo uma onda de seqüestros- na capital haitiana, Heleno admitiu o problema, mas disse que, "com a exceção de Porto Príncipe, todo o país está calmo há mais de cinco meses".
"Há cerca de dois meses, nós temos, em Porto Príncipe, o crescimento enorme de seqüestros. É um crime com repercussão enorme, porque ameaça o pessoal que tem recursos. Quando ameaça esse pessoal, tem uma repercussão muito grande não só nos formadores de opinião mas também naqueles que detêm a mídia", disse. "Mas até agora ninguém foi morto. Não posso dizer que é um final feliz, mas é um final sem vítimas."
Na semana passada, durante visita ao Haiti, o secretário-assistente de Estado para a América Latina, Roger Noriega, exortou a Minustah a ter uma ação mais "pró-ativa" no combate à criminalidade. O governo provisório haitiano chegou a dizer que seria "bem-vindo" o envio de marines americano para reforçar a segurança.
Com o respaldo do Ministério da Defesa, o general Heleno tem resistido às pressões para aumentar o uso da violência e cobrado o US$ 1 bilhão prometido por doadores internacionais para projetos sociais e de infra-estrutura. Apenas cerca de 20% desse valor chegou até agora.
Ontem, o ministro-chefe do Gabinete da Segurança Institucional, general Jorge Armando Felix, encerrou uma visita de dois dias ao Haiti, em viagem para demonstrar apoio ao comandante da Minustah e para recolher informações sobre a situação do país. O general Felix se reuniu com o primeiro-ministro interino haitiano, Gérard Latortue.

Terceiro contingente
Também ontem, foi realizada a cerimônia de passagem de comando do segundo para o terceiro contingente brasileiro, que mantém 1.200 homens no país. A maioria dos recém-chegados é do Rio de Janeiro; os que estão voltando são quase todos de Caçapava (SP). O comando será do coronel Adilson Mangiavvachi.
A novidade do terceiro contingente é o envio de 150 homens de uma companhia de engenharia. O grupo estará encarregado de realizar obras de infra-estrutura, como perfuração de poços artesianos reparação de estradas.


Parte das despesas da viagem de Fabiano Maisonnave ao Haiti foi custeada pelo Ministério da Defesa.

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