São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

23 morrem em ataque suicida; 5 civis são mortos pela coalizão

Violência mata mais 35 no Iraque

DA REDAÇÃO

Um ataque suicida na cidade de Kirkuk, no norte do Iraque, deixou ontem 23 mortos e mais de 80 feridos, em um dia em que a violência no país fez ao todo 35 mortos e que outros 24 corpos foram deixados em um hospital.
Entre as vítimas do homem-bomba de Kirkuk estão pensionistas e crianças. "Trata-se do maior crime em Kirkuk desde a queda do regime de Saddam Hussein [em abril de 2003]", disse o chefe de polícia da cidade, um pólo petrolífero situado a 290 km ao norte de Bagdá, Sherko Shakir.
O terrorista detonou explosivos presos a um cinto numa rua movimentada, na frente de um banco e perto de um local onde crianças vendem utensílios de cozinha.
Um comunicado na internet supostamente assinado pelo grupo terrorista Ansar al Sunna, ligado à Al Qaeda, reivindicou o atentado. Com as tensões sectárias no país em ebulição, o grupo acusa as milícias curdas e os xiitas nas forças de segurança de matar membros da minoria sunita.
Em outro atentado reivindicado pelo Ansar al Sunna, um terrorista suicida pilotando um carro-bomba explodiu o veículo em um posto de fiscalização do Exército iraquiano em Kanan, 45 km ao norte de Bagdá. Cinco soldados morreram e dois foram feridos.
Em Ramadi (oeste), marines e soldados iraquianos mataram por engano cinco civis e feriram quatro. Os militares atiraram contra dois carros que aceleraram em uma barreira ao invés de pararem. Segundo o comando americano, que lamentou o ocorrido, um terrorista suicida usando essa tática havia matado um soldado naquela barreira horas antes.
Na capital, um soldado americano morreu quando uma bomba caseira explodiu perto do comboio em que ele estava, elevando para 1.704 as baixas militares americanas no Iraque desde o início da guerra, em março de 2003.
Apesar da presença de 138 mil soldados americanos no país e da posse de um governo eleito, a violência no Iraque não dá sinais de arrefecimento. Desde a posse do novo governo -uma coalizão dominada pelos xiitas, que perfazem 60% da população do país-, mais de mil pessoas morreram.
Ontem, as forças de segurança anunciaram a prisão de um importante membro da Ansar al Sunna, Yassim Hazan Hamadi al Bazi, acusado de construir e vender esse tipo de artefato.
Além dos ataques, os corpos de 24 homens mortos em emboscadas na região oeste do país foram deixados no fim da noite de anteontem no hospital Yarmouk, na capital. Acredita-se que eles fossem integrantes de um comboio iraquiano que iria entregar suprimentos aos militares americanos operando na região, desaparecidos desde a semana passada.
Segundo o chefe do necrotério, Ali Chijan, os corpos foram trazidos em duas levas. Dezessete deles -alguns decapitados, outros com marcas de tiros na cabeça- foram encontrados em Khaldiyah, 120 km a oeste de Bagdá. Os outros sete estavam em estado avançado de decomposição e traziam marcas de tiros no rosto. Seis deles têm traços asiáticos, e o sétimo era de um iraquiano.

Espancamento
A jornalista francesa Florence Aubenas, 44, refém por 157 dias no Iraque, disse ontem que foi espancada por seus carcereiros ao tentar conversar com um deles ou se mexer "em excesso" sobre o colchão em que era obrigada a ficar dia e noite deitada.
Enviada do jornal "Libération", ela detalhou o cativeiro em entrevista coletiva em Paris. Aubenas foi solta sábado e levada domingo à França. Afirmou que seus captores não falaram com ela sobre dinheiro nem negociações.
Na longa entrevista, Aubenas disse também que o porão onde ficou, sem janelas, media 4 metros por 2, e que o pé direito era de 1,5 metro. Ela podia dar só 24 passos por dia, para usar duas vezes o banheiro. Vestia um blusão e podia tomar banho uma vez por mês.
Teve os olhos vendados e foi amarrada. Comia um ovo cozido de manhã, arroz no almoço e chá à noite. Perdeu 14 quilos no cativeiro. Apenas a dez dias de ser solta, soube que a pessoa a 90 centímetros dela era Hussein Hanoun, seu guia e tradutor, seqüestrado e libertado com ela.


Com agências internacionais

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