São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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ÁSIA

Diante do fracasso econômico, país comunista caminha rumo ao livre mercado de preços e salários e avança no diálogo com Seul

Coréia do Norte introduz medidas liberais

DO LE MONDE

O último país stalinista do mundo, a Coréia do Norte, está tentando resgatar a sua economia fracassada com mecanismos de livre mercado.
O regime de Pyongyang lançou duas ofensivas paralelas: uma econômica, com a reforma na política de controle de preços e salários e de subsídios estatais, e outra diplomática, marcada pelo avanço do diálogo de reconciliação com a Coréia do Sul. As duas Coréias continuam tecnicamente em estado de guerra desde o fim do conflito na península, em 1953.
Na prática, as mudanças no plano doméstico representam uma admissão implícita de falência econômica do governo da Coréia do Norte. Esse é o sentido de uma desvalorização monetária de cerca de 7.000%. O won norte-coreano, fixado oficialmente antes a 2,15 por dólar, agora é trocado a 150 por dólar -uma taxa mais próxima daquela vigente no mercado paralelo, que variava entre 200 e 500 wons por dólar.
A Coréia do Norte anunciou ter adotado, no início de julho, alguns princípios de economia de mercado, liberalizando preços e salários -que também receberam aumentos para acompanhar a desvalorização da moeda.
O discurso das autoridades é inédito -especialistas observam que a Coréia do Norte estaria emulando a liberalização econômica acompanhada de controles políticos praticada pela China.
Um comunicado oficial explica que "se trata de uma reforma para se livrar daquilo que é soviético no sistema de gestão do país". E prossegue: "Os trabalhadores serão pagos com o justo valor por seu trabalho, uma vez que não demonstravam suficiente ardor pelo trabalho em razão da gratuidade e das medidas sociais".
Essas reformas devem agir sobre uma economia abandonada por seus trabalhadores, desestimulados pelo sistema e preocupados em sobreviver ao dia-a-dia de um país com racionamento de alimentos e graves problemas de infra-estrutura básica.
O regime já vinha avançando a passos pequenos rumo a uma liberalização econômica. "No auge da fome, em 1998, o regime passou a tolerar os mercados livres e movimentos da população", explica Lee Young-hwa, da ONG RENK (sigla em inglês para Resgatem o Povo Norte-Coreano). "Observamos uma tentativa de fechamento em 2000, mas o mercado paralelo se expandiu. A atual reforma busca tomar conta dessa situação de mercado."
Resta saber se, em seu estado de avançada decomposição econômica, a Coréia do Norte pode suportar o choque de uma abertura de mercado sem cair no caminho da hiperinflação.
Para garantir o controle, Pyongyang precisa de abertura exterior e de investimentos estrangeiros. Suas manobras diplomáticas nas últimas semanas -após nove meses de impasse- seriam resultado dessa necessidade.
As duas Coréias concluíram ontem nova rodada de negociações em Seul. Prometeram levar adiante o diálogo para a cooperação econômica e promover reencontros entre famílias que ficaram separadas pelas fronteiras militarizadas que separam o norte do sul.
Pyongyang tem dado indícios de que deseja também melhorar suas relações com o Japão e os EUA. Apesar da reaproximação com Seul, o regime norte-coreano ainda diverge de seus vizinhos no que se refere ao diálogo sobre assuntos militares e sobre a adoção de medidas de segurança para a construção de uma ferrovia ligando os dois países.
"Não estamos 100% satisfeitos com o resultado", declarou ontem o vice-chanceler sul-coreano, Lee Tae-sik, reclamando da recusa dos delegados norte-coreanos em estabelecer uma data para o diálogo de cunho militar.


Com agências internacionais

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