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ÁSIA
Diante do fracasso econômico, país comunista caminha rumo ao livre mercado de preços e salários e avança no diálogo com Seul
Coréia do Norte introduz medidas liberais
DO LE MONDE
O último país stalinista do
mundo, a Coréia do Norte, está
tentando resgatar a sua economia
fracassada com mecanismos de livre mercado.
O regime de Pyongyang lançou
duas ofensivas paralelas: uma
econômica, com a reforma na política de controle de preços e salários e de subsídios estatais, e outra
diplomática, marcada pelo avanço do diálogo de reconciliação
com a Coréia do Sul. As duas Coréias continuam tecnicamente em
estado de guerra desde o fim do
conflito na península, em 1953.
Na prática, as mudanças no plano doméstico representam uma
admissão implícita de falência
econômica do governo da Coréia
do Norte. Esse é o sentido de uma
desvalorização monetária de cerca de 7.000%. O won norte-coreano, fixado oficialmente antes a
2,15 por dólar, agora é trocado a
150 por dólar -uma taxa mais
próxima daquela vigente no mercado paralelo, que variava entre
200 e 500 wons por dólar.
A Coréia do Norte anunciou ter
adotado, no início de julho, alguns princípios de economia de
mercado, liberalizando preços e
salários -que também receberam aumentos para acompanhar
a desvalorização da moeda.
O discurso das autoridades é
inédito -especialistas observam
que a Coréia do Norte estaria
emulando a liberalização econômica acompanhada de controles
políticos praticada pela China.
Um comunicado oficial explica
que "se trata de uma reforma para
se livrar daquilo que é soviético
no sistema de gestão do país". E
prossegue: "Os trabalhadores serão pagos com o justo valor por
seu trabalho, uma vez que não demonstravam suficiente ardor pelo
trabalho em razão da gratuidade e
das medidas sociais".
Essas reformas devem agir sobre uma economia abandonada
por seus trabalhadores, desestimulados pelo sistema e preocupados em sobreviver ao dia-a-dia de
um país com racionamento de alimentos e graves problemas de infra-estrutura básica.
O regime já vinha avançando a
passos pequenos rumo a uma liberalização econômica. "No auge
da fome, em 1998, o regime passou a tolerar os mercados livres e
movimentos da população", explica Lee Young-hwa, da ONG
RENK (sigla em inglês para Resgatem o Povo Norte-Coreano).
"Observamos uma tentativa de
fechamento em 2000, mas o mercado paralelo se expandiu. A atual
reforma busca tomar conta dessa
situação de mercado."
Resta saber se, em seu estado de
avançada decomposição econômica, a Coréia do Norte pode suportar o choque de uma abertura
de mercado sem cair no caminho
da hiperinflação.
Para garantir o controle, Pyongyang precisa de abertura exterior
e de investimentos estrangeiros.
Suas manobras diplomáticas nas
últimas semanas -após nove
meses de impasse- seriam resultado dessa necessidade.
As duas Coréias concluíram ontem nova rodada de negociações
em Seul. Prometeram levar adiante o diálogo para a cooperação
econômica e promover reencontros entre famílias que ficaram separadas pelas fronteiras militarizadas que separam o norte do sul.
Pyongyang tem dado indícios
de que deseja também melhorar
suas relações com o Japão e os
EUA. Apesar da reaproximação
com Seul, o regime norte-coreano
ainda diverge de seus vizinhos no
que se refere ao diálogo sobre assuntos militares e sobre a adoção
de medidas de segurança para a
construção de uma ferrovia ligando os dois países.
"Não estamos 100% satisfeitos
com o resultado", declarou ontem o vice-chanceler sul-coreano,
Lee Tae-sik, reclamando da recusa dos delegados norte-coreanos
em estabelecer uma data para o
diálogo de cunho militar.
Com agências internacionais
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