São Paulo, Quarta-feira, 15 de Setembro de 1999
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ALERTA

Soldados, que já estiveram em Angola, têm treinamento especial

Batalhão gaúcho se prepara para atuar em missão de paz


LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em São Leopoldo

O 19º Batalhão de Infantaria Motorizada de São Leopoldo (RS), no Vale do Sinos, está extra-oficialmente de "sobreaviso" para a eventualidade do envio de seus soldados a uma missão de paz em Timor Leste.
O "sobreaviso", palavra utilizada por uma pessoa ligada ao Exército e que não quis se identificar, significa que já há uma orientação prévia para o batalhão.
Formalmente, o Exército não se manifesta sobre a possível atuação do batalhão gaúcho em Timor Leste.
Com a permissão da Indonésia para que a força de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) entre em ação, os gaúchos já receberam orientação para estarem preparados.
O 19º Batalhão de Infantaria Motorizada é, no jargão militar, uma "unidade de pronto-emprego".
Desde 1993, quando houve uma operação de paz em Angola com a presença de soldados brasileiros, o batalhão de São Leopoldo está avisado que, em uma próxima eventualidade no exterior, seus soldados seriam designados para a missão.
A Agência Folha esteve no treinamento da unidade e constatou que há uma bandeira das Nações Unidas guardada no almoxarifado. Ela é utilizada somente em alguns treinamentos específicos.
"É normal que as pessoas se sintam na iminência de participar da força de paz, mas ainda não houve uma determinação oficial para ficarmos de sobreaviso, porque tudo depende de uma série de condicionantes", disse o tenente Jeferson Wilson, responsável pelo setor de comunicação do Exército.
"Temos de ver se o Brasil vai a Timor Leste e para que tipo de operação. É claro que a unidade de São Leopoldo é uma das mais bem preparadas, mas não houve um ato formal", afirmou o tenente.
Duas semanas atrás, por exemplo, os 800 integrantes da unidade participaram de um treinamento específico para missões de paz, uma atividade para a qual o batalhão está permanentemente preparado.
Uma das preocupações manifestadas pelo tenente é que os soldados criem falsas expectativas em relação à possibilidade de ir para o exterior em missão de paz.
Está marcado para o próximo dia 27, em Rosário do Sul (383 km de Porto Alegre), um treinamento conjunto com a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. Ou seja, dentro da agenda do batalhão, há uma série de atividades internacionais.
No Exército, sabe-se que, atualmente, o 19º Batalhão é o mais preparado para uma missão de paz.
Entre outros equipamentos, conta com aparelhos de comunicação sofisticados que são conectados a satélites, armas que permitem a visão noturna e mísseis de última geração.
Caso seja confirmado o envio da tropa gaúcha, ela não deve executar trabalho de combate.
Entre outras tarefas possíveis, para as quais a unidade tem treinado, está a montagem de um posto de observação, o controle de trânsito para evitar o tráfego de material militar, o transporte e a distribuição de alimentos e a retirada de minas.
O batalhão espera instruções específicas da ONU, com as diretrizes para a tarefa, caso seja aprovada a participação brasileira na tropa.
"O que mais atrai é a possibilidade de usarmos o que treinamos para uma tarefa nobre, de paz. Quanto a uma operação de guerra, eu prefiro nunca precisar colocar nossa aprendizagem em prática", disse um integrante da unidade, que não pôde se identificar.


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