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Líder sindical promete revolta até renúncia
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
O sindicalista boliviano
Felipe Quispe, 61, presidente
da Confederação Sindical
Única de Trabalhadores
Camponeses da Bolívia,
condicionou o fim dos protestos no país à renúncia do
presidente Gonzalo Sánchez
de Lozada. Caso contrário,
diz o líder sindical, as manifestações continuarão por
prazo indefinido.
Quispe admite também a
possibilidade de o país ser
administrado por um governo sindicalista, cujo presidente poderia ser ele, o líder
cocaleiro Evo Morales (de
quem é adversário) ou o presidente da Central Obrera,
Jaime Solares. As outras possibilidades seriam a posse do
vice-presidente do país ou
do presidente da Câmara.
""Está na hora de nós, os índios, tomarmos conta do
nosso destino. Não queremos mais o gringo", disse,
em entrevista para a Agência
Folha, por telefone, de La
Paz. A referência ao presidente como "gringo" se deve
ao fato de ele ter morado e
estudado nos EUA.
Além de líder sindical,
Quispe é deputado pelo Movimento Indígena Pachacuti
e fundador do Exército
Guerrilheiro Tupac Katari.
Já passou cinco anos preso.
Agência Folha - Como está a
situação hoje na Bolívia?
Felipe Quispe - Outros sindicatos se juntam a nós. A situação só vai mudar se o
"gringo" se for. Não há diálogo. As mobilizações estão
gigantescas. Apesar das
mortes, estamos contentes.
O povo está lutando pelo
que é seu.
Agência Folha - Mas se o
presidente quiser reabrir o
diálogo, não pode haver um
acordo? Se ele não renunciar,
o que vocês farão?
Quispe - Ninguém acredita
em Sánchez de Lozada. Já
não é possível negociar. Se
não renunciar, vamos continuar cortando estradas e
realizando bloqueios. Não
será possível entrar com
produtos agropecuários em
La Paz. Estamos mobilizados. Ele só tem o apoio dos
EUA e das Forças Armadas.
Agência Folha - Qual seria a
alternativa de poder?
Quispe - Há três opções.
Pode assumir o vice-presidente ou o presidente da Câmara dos Deputados. A terceira somos nós: eu, o Evo
Morales ou o Jaime Solares.
Seria transitório, até nova
eleição. O povo decidirá.
Agência Folha - A Bolívia seria uma República sindical?
Quispe - Está mesmo na
hora de assumirmos o país.
Nós, os índios, somos uma
nação, quase 90% da população. Somos 6 milhões. Estamos preparados e não
venderíamos o país como ele
vem sendo vendido. Vamos
tomar conta do nosso destino. Ninguém quer o gringo.
Agência Folha - Não bastou
o governo suspender a exportação de gás aos EUA?
Quispe - Brigamos por nossas terras. Queremos respeito ao trabalho honesto que é
o plantio de folha de coca,
que não se transforma em
cocaína facilmente. Para
nós, ela é sagrada. Muitos, a
partir dela, alimentam-se,
estudam e vivem. O governo
ameaça erradicá-la [com
apoio financeiro dos EUA].
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