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São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2003

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Líder sindical promete revolta até renúncia

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O sindicalista boliviano Felipe Quispe, 61, presidente da Confederação Sindical Única de Trabalhadores Camponeses da Bolívia, condicionou o fim dos protestos no país à renúncia do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada. Caso contrário, diz o líder sindical, as manifestações continuarão por prazo indefinido.
Quispe admite também a possibilidade de o país ser administrado por um governo sindicalista, cujo presidente poderia ser ele, o líder cocaleiro Evo Morales (de quem é adversário) ou o presidente da Central Obrera, Jaime Solares. As outras possibilidades seriam a posse do vice-presidente do país ou do presidente da Câmara.
""Está na hora de nós, os índios, tomarmos conta do nosso destino. Não queremos mais o gringo", disse, em entrevista para a Agência Folha, por telefone, de La Paz. A referência ao presidente como "gringo" se deve ao fato de ele ter morado e estudado nos EUA.
Além de líder sindical, Quispe é deputado pelo Movimento Indígena Pachacuti e fundador do Exército Guerrilheiro Tupac Katari. Já passou cinco anos preso.

Agência Folha - Como está a situação hoje na Bolívia?
Felipe Quispe -
Outros sindicatos se juntam a nós. A situação só vai mudar se o "gringo" se for. Não há diálogo. As mobilizações estão gigantescas. Apesar das mortes, estamos contentes. O povo está lutando pelo que é seu.

Agência Folha - Mas se o presidente quiser reabrir o diálogo, não pode haver um acordo? Se ele não renunciar, o que vocês farão?
Quispe -
Ninguém acredita em Sánchez de Lozada. Já não é possível negociar. Se não renunciar, vamos continuar cortando estradas e realizando bloqueios. Não será possível entrar com produtos agropecuários em La Paz. Estamos mobilizados. Ele só tem o apoio dos EUA e das Forças Armadas.

Agência Folha - Qual seria a alternativa de poder?
Quispe -
Há três opções. Pode assumir o vice-presidente ou o presidente da Câmara dos Deputados. A terceira somos nós: eu, o Evo Morales ou o Jaime Solares. Seria transitório, até nova eleição. O povo decidirá.

Agência Folha - A Bolívia seria uma República sindical?
Quispe -
Está mesmo na hora de assumirmos o país. Nós, os índios, somos uma nação, quase 90% da população. Somos 6 milhões. Estamos preparados e não venderíamos o país como ele vem sendo vendido. Vamos tomar conta do nosso destino. Ninguém quer o gringo.

Agência Folha - Não bastou o governo suspender a exportação de gás aos EUA?
Quispe -
Brigamos por nossas terras. Queremos respeito ao trabalho honesto que é o plantio de folha de coca, que não se transforma em cocaína facilmente. Para nós, ela é sagrada. Muitos, a partir dela, alimentam-se, estudam e vivem. O governo ameaça erradicá-la [com apoio financeiro dos EUA].

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