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NO VERMELHO
Estudo do Fórum Econômico Mundial avalia que dificilmente serão cumpridas as metas da ONU para 2015
Mundo tira nota 3 em programas sociais
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O mundo caminha com excessiva lentidão para resolver seus
problemas sociais. Numa avaliação de 0 a 10, ficaram com nota 3 o
combate à fome, a paz, a segurança, a educação, o ambiente e os direitos humanos. Mereceram nota
4 a eliminação da pobreza e a melhoria da saúde.
A avaliação está em relatório divulgado ontem, em Genebra, pelo
Fórum Econômico Mundial. Ele
criou um organismo sobre a governabilidade em escala planetária, que leva em conta os esforços
dos governos, da sociedade civil,
das empresas e dos organismos
internacionais.
A avaliação sobre as sete áreas
sociais partiu de um grupo de 40
especialistas. Eles tomaram por
base as metas que 189 países fixaram em setembro de 2000 na chamada Cúpula do Milênio, conferência da ONU entre chefes de governo e de Estado.
Se determinada área merecesse
nota 10, ela poderia facilmente
atingir as metas definidas para
2015. Mas o resultado é decepcionante. O mundo foi reprovado.
Recebeu, na média, nota 3.
O Fórum Econômico Mundial
decidiu mergulhar na avaliação
de políticas sociais como forma
de neutralizar a imagem, que os
ativistas antiglobalização procuram atribuir a ele, de encontro de
banqueiros e de grandes interesses corporativos.
O estudo divulgado ontem não
leva em conta o quadro de crescimento insuficiente da economia
mundial nos últimos anos e a forma pela qual isso afetou a capacidade de intervenção social de governos e empresas.
Com relação à paz e à segurança, o relatório diz "haver um evidente enfraquecimento do apoio
a regras internacionais que limitam o uso da força". A ONU perde
credibilidade, e sem ela perdem
força as regras de convívio.
O Iraque é citado. A comunidade internacional "não conseguiu
prevenir ou punir" a guerra promovida naquele país. Atentados
da Al Qaeda e de grupos associados "continuam a provocar perda
de vidas". Elogio para o Reino
Unido, pelo sucesso das discretas
negociações que levaram a Líbia a
desmontar seu programa nuclear.
Quanto ao combate à pobreza, o
problema é simples: dos 6 bilhões
de humanos, 2,8 bilhões vivem
com menos de US$ 2 por dia e 1,2
bilhão com menos da metade disso. Três quartos da pobreza e da
miséria se concentram em área
rural. Favorecer o livre comércio,
emperrado pelo sistema de subsídios nos países ricos, levaria a
uma maior produção e exportação agrícolas. O que seria sinônimo de combate à pobreza.
A pobreza diminuiu na Índia,
mas cresceu em Bangladesh, no
Sri Lanka e no Nepal. Na China, a
pobreza rural caiu de 31% para
11% em oito anos. Elogio ao Brasil
pelos 3,6 milhões de domicílios
que deveriam, no final de 2003,
estar recebendo alguma forma de
suplementação de renda.
Os números da fome são eloqüentes. Cerca de 90% de suas vítimas concentram-se em 34 países. A China e a Nigéria conseguiram reduzi-las pela metade.
A América Latina tende a atingir o objetivo de acabar com a fome em 2015. Mas a fome cresce
em cinco países, entre os quais o
Congo e a Coréia do Norte. Novo
elogio ao Brasil, com menção ao
programa Fome Zero.
A universalização do ensino
fundamental é problemática. Em
2000, último ano com estatísticas
globais, 648 milhões de crianças
estavam matriculadas, mas não
era o caso de outras 104 milhões.
"A América Latina atingiu o objetivo [da universalização do ensino], mas a qualidade do ensino
continua a ser tão baixa que são
necessárias grandes mudanças."
O país elogiado é Honduras, um
dos 18 problemáticos que aceitaram um programa do Banco
Mundial, pelo qual receberiam
ajuda maior e mais rápida, em
troca de um aumento substancial
em seus gastos com educação.
O quadro na saúde é desencorajador. Segundo o relatório, 11 milhões de crianças morrem anualmente antes de completar 5 anos.
A malária imobiliza por ano 300
milhões e mata 1 milhão. Dentro
de seis anos, 45 milhões estarão
infectados com o HIV, e 70 milhões morrerão até 2020. Mas, ao
menos quanto a esse grupo, há
uma crescente consciência de governos africanos e ainda o fato de,
em sete anos, os países pobres terem multiplicado por 24 seus gastos no combate à epidemia.
Meio ambiente é um problema
agudo. Desde a Rio-92, conferência ambiental da ONU, os países
pobres se mobilizaram para programas que os ricos deveriam financiar. Não o fizeram, o que deixou os mais pobres desmotivados. Menção negativa aos EUA e à
Rússia, que deixaram o Protocolo
de Kyoto sobre a emissão de poluentes e aquecimento global.
Quanto aos direitos humanos, o
documento se preocupa com o
enfraquecimento da ONU e com
os prisioneiros dos EUA em
Guantánamo. Também menciona a ineficiência do Judiciário e o
alcance reduzido de formas de
transparência que inibam a corrupção dos governantes.
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