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São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 2003

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Premiê britânico adverte a ONU a agir contra Bagdá e diz que inspetores terão mais tempo para desarmar Saddam

Blair faz discurso ambíguo sobre a crise

DA REDAÇÃO

O premiê britânico, Tony Blair, advertiu as Nações Unidas ontem de que a autoridade da organização seria destruída caso o Iraque não seja desarmado em breve, por meios pacíficos ou violentos.
Adotando uma linha calculadamente ambígua, porém, Blair tentou ganhar apoio dos centenas de milhares de britânicos que protestaram ontem contra a guerra afirmando que os inspetores da ONU terão mais tempo para seguir com seus trabalhos de desarmamento no Iraque.
"Blix apresentou seu relatório ontem [anteontem" e será dado mais tempo aos inspetores", declarou Blair, principal aliado dos EUA em seus planos de ação militar contra Bagdá, em discurso na conferência do Partido Trabalhista em Glasgow (Escócia). "Continuo querendo resolver a questão do Iraque e das armas de destruição em massa por meio da ONU
Em declarações claramente dirigidas às potências mundiais que se opõem às preparações para uma guerra, Blair também desconsiderou as ações de último minuto do presidente iraquiano Saddam Hussein como falsas, ainda que tenha reconhecido que os inspetores de desarmamento da ONU precisam de prazo maior para vasculhar o Iraque.
"Se demonstrarmos fraqueza agora, se permitirmos que o pedido de um novo prazo seja uma desculpa para prevaricação até que o momento de agir passe... a ameaça, e não só de Saddam, crescerá", disse Blair.
"A autoridade da ONU será perdida e o conflito, quando vier, será mais sangrento."
Seu discurso duro representa uma clara rejeição à posição de Rússia, França, China, Alemanha e outros que, em um duelo dramático no Conselho de Segurança na sexta-feira, exigiram mais tempo para as inspeções de armas e para a diplomacia.
Em um revés para os EUA e o Reino Unido, os inspetores de desarmamento da ONU expressaram esperanças de que as inspeções estivessem funcionando, o que levou a maior parte dos países membros do conselho a alegar que seria prematuro iniciar uma guerra.
Os Estados Unidos e o Reino Unido advertiram Saddam de que ele enfrentará ação militar a menos que abandone todas as armas de destruição em massa que o Iraque nega possuir -e concentraram dezenas de milhares de soldados no golfo Pérsico.
Blair desconsiderou os movimentos de última hora de Saddam que, horas antes da reunião de sexta-feira, anunciou que o Iraque estava aprovando uma lei que proíbe todas as armas de destruição em massa.
"Para qualquer pessoa familiarizada com as táticas evasivas e enganosas de Saddam, surge uma sensação desconfortável de deja vu", disse ele. "As concessões são suspeitas. Infelizmente, as armas são reais".

Ceticismo europeu
Blair enfrentará o ceticismo dos europeus em uma conferência de cúpula da União Européia em Bruxelas amanhã. Mas primeiro ele tem de enfrentar oponentes igualmente ferrenhos da guerra em seu próprio partido.
A história política sugere que levar adiante uma ação militar desafiando a opinião pública e os desejos de sua base de poder político representa desastre para qualquer líder. A maior parte dos parlamentares e ativistas políticos trabalhistas é profundamente hostil a uma nova guerra no golfo, especialmente se não for autorizada por uma resolução adicional da ONU. Pesquisas de opinião pública demonstram que a maioria dos britânicos concorda com essa posição.
Blair mudou de curso, tentando apresentar um "argumento moral" em favor da guerra.
Enquanto mais de 500 mil manifestantes contra a guerra se preparavam para uma marcha por Londres, Blair, decidido, dizia que "se houver 500 mil pessoas nessa manifestação, ainda assim é um número menor o que o de mortes pelas quais Saddam é responsável".
"E se houvesse um milhão de manifestantes, seria um número menor que o de mortos nas guerras que ele iniciou".
Blair se reservou o direito de acompanhar os Estados Unidos à guerra sem uma nova resolução da ONU, temendo que um veto de um ou membro ou membros importantes da organização.
Diplomatas britânicos continuam com esperanças de que os demais países aprovem o uso da força, com o tempo, e Blair uma vez mais pressionou por uma nova resolução. Mas com os líderes militares dos EUA sugerindo que as operações de combate precisam acontecer antes da metade de março, é possível que negociações bem sucedidas sejam incapazes de cumprir esse prazo.
Domesticamente, esse cenário pode ser um pesadelo para Blair, e ele parece saber disso. "Não procuro a impopularidade como uma marca de honra", disse. "Mas às vezes ela é o preço da liderança".


Com agências internacionais

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