São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2005

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BOLÍVIA

Presidente, cujo mandato se encerraria em 2007, também retira projeto de lei dos hidrocarbonetos, que dividia o país

Mesa pede antecipação de pleito para agosto

DA REDAÇÃO

O presidente da Bolívia, Carlos Mesa, propôs ontem à noite antecipar as eleições gerais bolivianas para 28 de agosto de 2005, devido à grave crise política e social por que passa o país.
Na declaração, dada em rede nacional, o presidente acrescenta que, em alguns dias, a Bolívia ficará ingovernável se nada for feito.
O projeto de lei com a proposta de Mesa será entregue hoje ao Congresso, disse o presidente. A eleição estava marcada para junho de 2007 -o mandato terminaria em agosto do mesmo ano.
Há dez dias, Mesa apresentou sua renúncia ao Congresso, que decidiu ratificá-lo no cargo em votação na semana passada. O presidente anunciou ainda que o governo vai retirar o polêmico projeto de lei dos hidrocarbonetos, que tem provocado enormes divisões em todo o país.
O presidente não disse se pretende concorrer ou não na disputa presidencial. Porém especialistas afirmam que ele está impedido de participar, segundo as leis eleitorais da Bolívia.
"Eu fiz tudo, absolutamente tudo o que está em minhas mãos para que, por amor à Bolívia, saíamos desse caminho rumo ao desfiladeiro", disse Mesa, em referência às greves, bloqueio de estradas e a impossibilidade de aprovar na Câmara dos Deputados a lei dos hidrocarbonetos.
A proposta de eleição "tenta buscar uma saída que evite a violência, uma saída que evite a destruição, que evite o suicídio coletivo inaceitável para um país que luta todos os dias pela construção de uma sociedade melhor", acrescentou o presidente.
Mesa propõe a eleição do presidente, do vice e dos 157 membros do Congresso bicameral, no momento em que a sua popularidade supera os 60% , segundo ele próprio disse.
A antecipação das eleições implica ainda estabelecer uma nova relação de forças dentro do Parlamento que garanta uma maior governabilidade ao futuro governo. Mesa está na Presidência da Bolívia desde outubro de 2003, quando assumiu o cargo no lugar de Gonzalo Sánchez de Lozada, que foi obrigado a renunciar após um violento levante popular.
"Vamos impedir o suicídio coletivo", afirmou. "Se não levarmos adiante um processo dessa natureza, em alguns dias este país ficará ingovernável.
Mesa disse que tomou a decisão de pedir a antecipação das eleições após fracassar na tentativa de convencer o líder cocaleiro e opositor Evo Morales a suspender os bloqueios de ruas e, além disso, depois de o Congresso não conseguir aprovar a lei dos hidrocarbonetos.
Morales, um parlamentar indígena de esquerda, comanda uma série de bloqueios de estrada para exigir que o governo obrigue as companhias petrolíferas a pagarem 50% em royalties para a Bolívia. Mesa rejeitou a exigência, dizendo que isso viola os contratos com as companhias e prejudica os investimentos externos na economia boliviana.
Os bloqueios, que se intensificaram nas últimas semanas, provocaram escassez de alimentos nas maiores cidades e redução nos investimentos na Bolívia, causando prejuízos de milhões de dólares por dia.
Exportadores do leste, considerada a região mais rica do país, não têm conseguido transportar suas produções para portos chilenos e peruanos no Pacífico. Cerca de 1.500 caminhões estavam parados em estradas ontem.


Com agências internacionais


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