|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crescem disputas internas e rejeição aos EUA
PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os iraquianos tomaram alguns
passos em relação à formação de
um novo governo, mas, apesar do
consenso de que "a violência deve
ser rechaçada", a reunião perto da
cidade natal de Abraão (Ur) demonstrou que a rejeição à intervenção de Washington na política
local e as disputas pelo poder só se
intensificaram nos últimos dias.
Principal grupo oposicionista
xiita, o Conselho Supremo para a
Revolução Islâmica no Iraque,
com base em Teerã, boicotou o
encontro e movimentos islâmicos
xiitas promovem protestos em todo o país.
Como grupo majoritário no Iraque (cerca de 60% da população),
os xiitas apóiam um regime democrático, que teoricamente os
beneficiaria, mas temem não ter
representatividade expressiva no
governo. Embora possuam divergências entre si, os xiitas rejeitam
uma administração interina liderada pelo general reformado norte-americano Jay Garner e um papel de relevo para Ahmad Chalabi, que preside o Congresso Nacional Iraquiano (CNI, um dos
principais grupos de oposição).
Chalabi foi um dos primeiros líderes oposicionistas a retornar ao
Iraque (de Londres), com apoio
militar norte-americano. Além
dos xiitas, diversos líderes oposicionistas temem que Washington
queira impor um governo com
Chalabi na liderança.
Condenado a 22 anos de prisão
na Jordânia, por fraude, Chalabi
enfrenta resistência até mesmo de
membros do governo norte-americano. O Departamento de Estado já declarou que não o considera confiável nem apto para um
cargo-chave. Nas últimas quatro
décadas, ele passou quase todo o
tempo fora do Iraque e já não
contaria mais com apoio no país.
Além de Chalabi, nomes cogitados para o governo incluem Massud Barzani, líder do Partido Democrático do Curdistão, Jalal Talabani, chefe da União Patriótica
do Curdistão, Adnan Pachachi,
ex-chanceler do Iraque nos anos
60, Abdul Aziz al Hakim, representante do Conselho Supremo
para a Revolução Islâmica no Iraque, e Iyad al Alaui, do Acordo
Nacional Iraquiano.
Esses são apenas alguns dos líderes que disputam um posto-chave no governo. Há mais de 65
grupos iraquianos de oposição.
Entre eles, o Movimento Democrático Assírio, o Congresso Nacional Assírio (baseado na Califórnia), o Partido Democrático
BetNahrain, o Partido Patriótico
Assírio, o Movimento da Monarquia Constitucional, a Tendência
Centrista Democrática (grupo rival ao Conselho Nacional Iraquiano, com base nos EUA) e o Movimento dos Oficiais Livres.
Os grupos curdos querem a ampliação de sua área autônoma no
norte do Iraque para incluir Kirkuk e Mossul.
O Partido Comunista Iraquiano
é razoavelmente bem-organizado
e conta com apoio dentro do Iraque, ao contrário de diversos outros grupos sem nenhum respaldo doméstico. Sua desvantagem é
que se opõe à presença dos EUA
no Iraque e defende "uma mudança de regime sem intervenção
estrangeira", como afirma Hamid
Majid Mussa, secretário do Comitê Central do PCI.
Paulo Daniel Farah é professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
Texto Anterior: Xiitas fazem ato contra os americanos Próximo Texto: EUA anunciam prisão de terrorista Índice
|