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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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Crescem disputas internas e rejeição aos EUA

PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os iraquianos tomaram alguns passos em relação à formação de um novo governo, mas, apesar do consenso de que "a violência deve ser rechaçada", a reunião perto da cidade natal de Abraão (Ur) demonstrou que a rejeição à intervenção de Washington na política local e as disputas pelo poder só se intensificaram nos últimos dias.
Principal grupo oposicionista xiita, o Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque, com base em Teerã, boicotou o encontro e movimentos islâmicos xiitas promovem protestos em todo o país.
Como grupo majoritário no Iraque (cerca de 60% da população), os xiitas apóiam um regime democrático, que teoricamente os beneficiaria, mas temem não ter representatividade expressiva no governo. Embora possuam divergências entre si, os xiitas rejeitam uma administração interina liderada pelo general reformado norte-americano Jay Garner e um papel de relevo para Ahmad Chalabi, que preside o Congresso Nacional Iraquiano (CNI, um dos principais grupos de oposição).
Chalabi foi um dos primeiros líderes oposicionistas a retornar ao Iraque (de Londres), com apoio militar norte-americano. Além dos xiitas, diversos líderes oposicionistas temem que Washington queira impor um governo com Chalabi na liderança.
Condenado a 22 anos de prisão na Jordânia, por fraude, Chalabi enfrenta resistência até mesmo de membros do governo norte-americano. O Departamento de Estado já declarou que não o considera confiável nem apto para um cargo-chave. Nas últimas quatro décadas, ele passou quase todo o tempo fora do Iraque e já não contaria mais com apoio no país.
Além de Chalabi, nomes cogitados para o governo incluem Massud Barzani, líder do Partido Democrático do Curdistão, Jalal Talabani, chefe da União Patriótica do Curdistão, Adnan Pachachi, ex-chanceler do Iraque nos anos 60, Abdul Aziz al Hakim, representante do Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque, e Iyad al Alaui, do Acordo Nacional Iraquiano.
Esses são apenas alguns dos líderes que disputam um posto-chave no governo. Há mais de 65 grupos iraquianos de oposição. Entre eles, o Movimento Democrático Assírio, o Congresso Nacional Assírio (baseado na Califórnia), o Partido Democrático BetNahrain, o Partido Patriótico Assírio, o Movimento da Monarquia Constitucional, a Tendência Centrista Democrática (grupo rival ao Conselho Nacional Iraquiano, com base nos EUA) e o Movimento dos Oficiais Livres.
Os grupos curdos querem a ampliação de sua área autônoma no norte do Iraque para incluir Kirkuk e Mossul.
O Partido Comunista Iraquiano é razoavelmente bem-organizado e conta com apoio dentro do Iraque, ao contrário de diversos outros grupos sem nenhum respaldo doméstico. Sua desvantagem é que se opõe à presença dos EUA no Iraque e defende "uma mudança de regime sem intervenção estrangeira", como afirma Hamid Majid Mussa, secretário do Comitê Central do PCI.


Paulo Daniel Farah é professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP


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