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Palestinos se dirigem para guerra civil, diz analista árabe
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Se o presidente da Autoridade
Nacional Palestina, Mahmoud
Abbas, mantiver uma política de
confronto com o grupo terrorista
Hamas para evitar o recrudescimento da violência contra Israel,
estará aberto o caminho para uma
guerra civil entre os palestinos.
A análise é do árabe Shukri
Abed, diretor do Instituto do
Oriente Médio (EUA), especialista em relações israelo-palestinas e
co-autor de, entre outros, "Democracy, Peace and the Israeli-Palestinian Conflict" (democracia, paz
e o conflito israelo-palestino).
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.
Folha - Até que ponto o governo
palestino pode enfrentar o Hamas?
Shukri Abed - Há alguns meses,
Abbas vem sendo pressionado,
pelos EUA e por Israel, a agir duramente contra os militantes islâmicos. O problema é que a situação política nos territórios palestinos não permite que ele aja dessa
forma. Com isso, os palestinos se
encaminham para a guerra civil.
Em razão da atual configuração
sociopolítica dos territórios palestinos, a manutenção de uma dura
política de contenção por parte de
Abbas abrirá caminho para um
conflito, uma guerra civil, já que
uma parcela considerável da população apóia o Hamas -sobretudo em Gaza-, como mostram
seus últimos resultados eleitorais.
Folha - Como o sr. analisa a posição de Israel num contexto de possível degradação da violência?
Abed - A lua-de-mel entre as autoridades israelenses e Abbas chegou a seu fim, e a "Realpolitik"
voltou à cena. Houve alguns meses de calmaria, mas, como se esperava, isso não durou muito.
A verdade é que será muito difícil chegar a um acordo de paz
com um governo liderado por
Ariel Sharon [premiê de Israel] e
por seu partido, o Likud. Afinal,
para a maioria dos israelenses que
os apóiam, não existe real motivo
para fechar um acordo de paz
abrangente com os palestinos.
Não acredito que as atuais autoridades israelenses queiram realmente conceder aos palestinos a
criação de um Estado viável, visto
que isso incluiria a retirada das
colônias judaicas não somente da
faixa de Gaza mas também de boa
parte da Cisjordânia.
Folha - E quanto à retirada dos assentamento judaicos de Gaza? Trata-se de um sinal de boa vontade?
Abed - Ainda tenho dúvidas em
relação às verdadeiras intenções
israelenses. Todavia, mesmo que
os israelenses saiam da faixa de
Gaza, ainda levará décadas para
que eles aceitem deixar certas regiões da Cisjordânia, o que é crucial para os palestinos.
É claro que a retirada tem como
objetivo unir os israelenses contra
um inimigo comum, evitando o
aprofundamento das diferenças
existentes entre os colonos, que
são mais radicais, e o establishment, que sabe que uma solução
moderada será necessária.
Por outro lado, o Hamas busca
ter uma posição de força para futuras negociações, mostrando
que desempenha um papel importante na decisão israelense de
deixar Gaza, como fez o Hizbollah
no Líbano há alguns anos.
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