São Paulo, sábado, 16 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Palestinos se dirigem para guerra civil, diz analista árabe

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Se o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, mantiver uma política de confronto com o grupo terrorista Hamas para evitar o recrudescimento da violência contra Israel, estará aberto o caminho para uma guerra civil entre os palestinos.
A análise é do árabe Shukri Abed, diretor do Instituto do Oriente Médio (EUA), especialista em relações israelo-palestinas e co-autor de, entre outros, "Democracy, Peace and the Israeli-Palestinian Conflict" (democracia, paz e o conflito israelo-palestino).
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.

 

Folha - Até que ponto o governo palestino pode enfrentar o Hamas?
Shukri Abed -
Há alguns meses, Abbas vem sendo pressionado, pelos EUA e por Israel, a agir duramente contra os militantes islâmicos. O problema é que a situação política nos territórios palestinos não permite que ele aja dessa forma. Com isso, os palestinos se encaminham para a guerra civil.
Em razão da atual configuração sociopolítica dos territórios palestinos, a manutenção de uma dura política de contenção por parte de Abbas abrirá caminho para um conflito, uma guerra civil, já que uma parcela considerável da população apóia o Hamas -sobretudo em Gaza-, como mostram seus últimos resultados eleitorais.

Folha - Como o sr. analisa a posição de Israel num contexto de possível degradação da violência?
Abed -
A lua-de-mel entre as autoridades israelenses e Abbas chegou a seu fim, e a "Realpolitik" voltou à cena. Houve alguns meses de calmaria, mas, como se esperava, isso não durou muito.
A verdade é que será muito difícil chegar a um acordo de paz com um governo liderado por Ariel Sharon [premiê de Israel] e por seu partido, o Likud. Afinal, para a maioria dos israelenses que os apóiam, não existe real motivo para fechar um acordo de paz abrangente com os palestinos.
Não acredito que as atuais autoridades israelenses queiram realmente conceder aos palestinos a criação de um Estado viável, visto que isso incluiria a retirada das colônias judaicas não somente da faixa de Gaza mas também de boa parte da Cisjordânia.

Folha - E quanto à retirada dos assentamento judaicos de Gaza? Trata-se de um sinal de boa vontade?
Abed -
Ainda tenho dúvidas em relação às verdadeiras intenções israelenses. Todavia, mesmo que os israelenses saiam da faixa de Gaza, ainda levará décadas para que eles aceitem deixar certas regiões da Cisjordânia, o que é crucial para os palestinos.
É claro que a retirada tem como objetivo unir os israelenses contra um inimigo comum, evitando o aprofundamento das diferenças existentes entre os colonos, que são mais radicais, e o establishment, que sabe que uma solução moderada será necessária.
Por outro lado, o Hamas busca ter uma posição de força para futuras negociações, mostrando que desempenha um papel importante na decisão israelense de deixar Gaza, como fez o Hizbollah no Líbano há alguns anos.


Texto Anterior: Israel e polícia palestina atacam Hamas
Próximo Texto: Tragédia: Vítima de foguete era filha de brasileiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.