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TRAGÉDIA
Dana Galkovitch foi morta anteontem em ataque lançado de Gaza por terroristas palestinos
Vítima de foguete era filha de brasileiro
DA REPORTAGEM LOCAL
Dana Galkovitch e seu namorado estacionaram o automóvel
diante da casa em que moravam
havia um ano, em Netiv Haasara, comunidade israelense encostada na fronteira com a faixa
de Gaza. Eram 18h (14h, em Brasília) de anteontem, quinta-feira.
Três foguetes lançados por terroristas palestinos caíram quase
simultaneamente a poucos metros de onde eles estavam.
Amir Rugolsky, o namorado,
berrou para que se refugiassem
bem rápido dentro de casa. Ele
saiu na frente, para abrir a porta.
Ela corria alguns passos atrás
quando um quarto foguete caiu
sobre ela e a matou de imediato.
Nascida em Israel, Dana estava
com 22 anos e sentia-se também
brasileira. Falava português em
casa. Gostava da música de Egberto Gismonti. Esteve em São
Paulo aos cinco anos e pretendia
voltar no ano que vem para passar três ou quatro meses.
Seu pai, Natan Galkovitch, é de
São Paulo. Formou-se em estatística pela Unicamp e emigrou
em 1979 com sua mulher. É técnico em computação.
A Embaixada de Israel em Brasília publicou comunicado em
que lamenta a morte de Dana e
diz que o Exército defenderá os
cidadãos contra os terroristas.
A Federação Israelita do Estado de São Paulo, em outro comunicado, considera Dana uma
brasileira. Seu presidente, Jayme
Blay, condenou o terrorismo e
disse que os terroristas procuram comprometer a paz.
O Itamaraty também divulgou
nota. Refere-se a Dana como cidadã brasileira-israelense e
exorta as partes envolvidas a não
acelerar a escalada da violência.
Para o pai dela, ontem à noite
não foi o momento mais propício para uma avaliação sobre a
mudança de país ocorrida há 26
anos. Ele sepultou a filha às 13h.
"Mas hoje eu não sei mais dizer se viria para cá. Acho que é
importante vivermos no lugar
em que nascemos", disse à Folha. Não emigrou para ficar rico.
Ele faz parte da minoria israelenses instalada num kibutz (comunidade rural em que todos os
bens são socializados) e que abdica do patrimônio individual.
Seu kibutz é o Bror Chail, criado por judeus brasileiros. Foi lá
que ele se instalou e teve três filhos (Dana era a do meio). Sua
mulher, Perla, é argentina e especialista em artes gráficas.
A filha saiu do kibutz para fazer o serviço militar. Foi destacada justamente para a faixa de
Gaza, de onde foi lançado o foguete que a matou. Trabalhava
no policiamento da fronteira.
Dana tinha uma idéia de Israel
bem parecida com a de sua família e a de seus amigos de kibutz.
Defendia a criação de um Estado
palestino. Também era favorável
ao desmantelamento dos assentamentos judaicos em Gaza.
"Mas precisaremos esperar
mais três gerações para dialogar
de verdade. Não temos em Israel
lideranças, e, do lado palestino,
essa carência de líderes é ainda
bem maior", diz Natan.
Ao dar baixa no Exército, Dana passou a trabalhar para a
Agência Judaica. Viajou aos Estados Unidos. Gostava de viajar.
Em duas semanas embarcaria
com Amir para a Índia.
Entrou para uma faculdade de
comunicações. Havia terminado
o primeiro ano do ciclo básico.
Não sabia ainda ao certo que
carreira iria seguir.
Instalou-se com o namorado
-que conheceu durante o serviço militar- numa casa construída no mesmo terreno em
que moravam os pais dele.
Seu enterro foi no kibutz. Dois
ministros israelenses estavam
presentes, um deles foi Yitzhak
Herzog, da Habitação.
(JOÃO BATISTA NATALI)
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