São Paulo, sábado, 16 de julho de 2005

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TRAGÉDIA

Dana Galkovitch foi morta anteontem em ataque lançado de Gaza por terroristas palestinos

Vítima de foguete era filha de brasileiro

DA REPORTAGEM LOCAL

Dana Galkovitch e seu namorado estacionaram o automóvel diante da casa em que moravam havia um ano, em Netiv Haasara, comunidade israelense encostada na fronteira com a faixa de Gaza. Eram 18h (14h, em Brasília) de anteontem, quinta-feira.
Três foguetes lançados por terroristas palestinos caíram quase simultaneamente a poucos metros de onde eles estavam.
Amir Rugolsky, o namorado, berrou para que se refugiassem bem rápido dentro de casa. Ele saiu na frente, para abrir a porta. Ela corria alguns passos atrás quando um quarto foguete caiu sobre ela e a matou de imediato.
Nascida em Israel, Dana estava com 22 anos e sentia-se também brasileira. Falava português em casa. Gostava da música de Egberto Gismonti. Esteve em São Paulo aos cinco anos e pretendia voltar no ano que vem para passar três ou quatro meses.
Seu pai, Natan Galkovitch, é de São Paulo. Formou-se em estatística pela Unicamp e emigrou em 1979 com sua mulher. É técnico em computação.
A Embaixada de Israel em Brasília publicou comunicado em que lamenta a morte de Dana e diz que o Exército defenderá os cidadãos contra os terroristas.
A Federação Israelita do Estado de São Paulo, em outro comunicado, considera Dana uma brasileira. Seu presidente, Jayme Blay, condenou o terrorismo e disse que os terroristas procuram comprometer a paz.
O Itamaraty também divulgou nota. Refere-se a Dana como cidadã brasileira-israelense e exorta as partes envolvidas a não acelerar a escalada da violência.
Para o pai dela, ontem à noite não foi o momento mais propício para uma avaliação sobre a mudança de país ocorrida há 26 anos. Ele sepultou a filha às 13h.
"Mas hoje eu não sei mais dizer se viria para cá. Acho que é importante vivermos no lugar em que nascemos", disse à Folha. Não emigrou para ficar rico. Ele faz parte da minoria israelenses instalada num kibutz (comunidade rural em que todos os bens são socializados) e que abdica do patrimônio individual.
Seu kibutz é o Bror Chail, criado por judeus brasileiros. Foi lá que ele se instalou e teve três filhos (Dana era a do meio). Sua mulher, Perla, é argentina e especialista em artes gráficas.
A filha saiu do kibutz para fazer o serviço militar. Foi destacada justamente para a faixa de Gaza, de onde foi lançado o foguete que a matou. Trabalhava no policiamento da fronteira.
Dana tinha uma idéia de Israel bem parecida com a de sua família e a de seus amigos de kibutz. Defendia a criação de um Estado palestino. Também era favorável ao desmantelamento dos assentamentos judaicos em Gaza.
"Mas precisaremos esperar mais três gerações para dialogar de verdade. Não temos em Israel lideranças, e, do lado palestino, essa carência de líderes é ainda bem maior", diz Natan.
Ao dar baixa no Exército, Dana passou a trabalhar para a Agência Judaica. Viajou aos Estados Unidos. Gostava de viajar. Em duas semanas embarcaria com Amir para a Índia.
Entrou para uma faculdade de comunicações. Havia terminado o primeiro ano do ciclo básico. Não sabia ainda ao certo que carreira iria seguir.
Instalou-se com o namorado -que conheceu durante o serviço militar- numa casa construída no mesmo terreno em que moravam os pais dele.
Seu enterro foi no kibutz. Dois ministros israelenses estavam presentes, um deles foi Yitzhak Herzog, da Habitação.
(JOÃO BATISTA NATALI)


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