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Aposentadoria
é exceção para
a terceira idade
DA REPORTAGEM LOCAL
O envelhecimento da população latino-americana apenas
acentua o desequilíbrio da Previdência quando há um grande
contingente de idosos beneficiado por pensões.
É o que ocorre na Argentina,
no Brasil, no Chile, no Uruguai
e no Panamá, onde mais de
40% dos que têm mais de 60
anos recebem algum benefício.
Nos demais países latino-americanos eles dependem da família ou de redes filantrópicas.
A afirmação é de José Miguel
Guzmán, da Cepal. Leia a seguir os principais trechos de
sua entrevista.
(JBN)
Folha - A Cepal está estudando
os efeitos do envelhecimento
sobre os sistemas previdenciários?
José Miguel Guzmán - Há uma
área específica de pesquisadores atuando no assunto. Os
efeitos do envelhecimento da
população só provocam mais
desequilíbrio da Previdência
quando os idosos também são
pensionistas. No entanto, na
maioria dos países da América
Latina, a população de terceira
idade não está coberta por um
sistema de seguridade social. É
preciso que ela não permaneça
excluída. Brasil, Chile, Argentina, Uruguai e Panamá são hoje
exceções à regra.
Folha - A situação tende a melhorar ou a piorar?
Guzmán - Os idosos do futuro
serão beneficiados ou prejudicados pelo que ocorrer com os
sistemas de seguridade social
de seus países. O quadro é
complexo. Há países como o
Chile, onde a Previdência foi
privatizada. O ideal é que o sistema seja universal e solidário.
Folha - Mas no Chile o sistema
não é universal nem solidário.
Guzmán - Discute-se hoje
uma nova reforma. Uma parte
dos aposentados recebe de
acordo com as regras que vigoravam quando só havia a Previdência pública. Ou então recebe uma pensão assistencial por
não ter conseguido cotizar para
os fundos de pensão privados.
Folha - Há relação entre a cotização insuficiente e características do mercado de trabalho?
Guzmán - O problema é justamente este. A América Latina
sofre as consequências da existência de um grande mercado
informal de mão-de-obra.
Folha - O Brasil aparece com
uma taxa bastante elevada de
pensionistas rurais. Por que?
Guzmán - Não sei se essa taxa
é a mais elevada da América
Latina, já que Argentina e Uruguai têm estatísticas que não
diferenciam população urbana
e rural. Mas o sistema brasileiro
de seguridade não contributiva
[pensões independentemente
das cotizações] dá ao idoso
mais dignidade. Há impactos
positivos no idoso, nos seus familiares e na comunidade.
Folha - Há alguma recomendação para que se gaste mais com a
saúde dos idosos?
Guzmán - Como há o envelhecimento da população, a repartição do custo da saúde será diferente. Há menos partos, menos cuidados pediátricos e, paralelamente, mais idosos. Há
toda uma reviravolta que precisa ser feita, a começar pela capacitação de recursos humanos na área da saúde.
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