São Paulo, sábado, 16 de novembro de 2002

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Secretário-geral articulou a carreira em silêncio

DA REUTERS

Um morreu na prisão. Outro, num misterioso desastre de avião. Um terceiro ainda vive em prisão domiciliar no centro de Pequim. Ser o principal herdeiro do poder na China comunista é algo perigoso.
Por isso não surpreende que Hu Jintao tenha mantido um perfil discreto após ter sido designado, há dez anos, para suceder ao líder do Partido Comunista Jiang Zemin. Hu, 59, aguardou calado nos bastidores -enquanto os rivais tentavam adivinhar traços de sua personalidade e de sua conduta política- após se tornar, em 1992, o mais jovem membro do Politburo, principal órgão executivo do partido.
A hora de atrair os holofotes chegou ontem, quando assumiu formalmente a liderança do partido, encabeçando a "quarta geração" de líderes após Mao Tsé-tung, Deng Xiaoping e Jiang.
Para observadores estrangeiros, ele é um mistério. Sabe-se que conquistou respeito no espectro político regional por sua capacidade de construir consenso entre grupos de interesses contrários.
E, à medida que a idade de Jiang avançar e o seu poder diminuir, Hu poderá usar as conexões feitas nas Províncias e em cargos anteriores na capital para ampliar a sua autoridade sobre o partido.
Engenheiro hidráulico de formação, ele se lançou na política em regiões periféricas chinesas como Guizhou e depois no Tibete, onde fez a sua fama ao coordenar a repressão dos protestos pró-independência de 1988-89.
"Longos anos de trabalho em áreas remotas e pobres habitadas por minorias étnicas marcaram a personalidade de Hu e fizeram dele um ávido simpatizante das políticas de reforma e da abertura", diz a sua biografia oficial no web site do "Diário do Povo", jornal do Partido Comunista.
O atual chefe do partido no Tibete, Guo Jinlong, afirma que Hu é um homem do povo, um reformista econômico e um político corajoso. "Ele ficava à vontade na companhia do grande público e era muito respeitado", contou. "É claro que, ao manter nossa posição contra o separatismo, ele tinha de ser muito firme."
Segundo um jornalista que encontrou o novo líder chinês em Lhasa (capital tibetana), entretanto, Hu passou pouco tempo na região montanhosa, já que se sentia mal com os efeitos da altitude.
Após se mudar para Pequim, ficou claro que a carreira de Hu ganhara impulso -um de seus primeiros cargos foi no poderoso secretariado do partido, onde ajudou a articular a estrutura do PC.
Em 1993, ele assumiu o controle da Escola do Partido Central, organismo de pesquisa e treinamento que começou a estudar formas de revitalizar o PC chinês para evitar que tivesse o mesmo destino tomado por partidos socialistas do Leste Europeu.
Sua posição como sucessor de Jiang foi consolidada quando se tornou vice-presidente, em 1998, e vice-secretário-geral da Comissão Militar Central, em 1999.
No ano passado, pela primeira vez Hu Jintao se arriscou a projetar sua imagem internacionalmente, com visitas aos EUA -onde manteve dois encontros com o presidente George W. Bush- e à Europa.
Analistas políticos dizem que, em razão da variedade de cargos que ocupou, acumulou uma rede de contatos que permite a ele transitar nas Províncias e entre os militares, embora não os domine.
Poucos detalhes sobre a vida pessoal de Hu são conhecidos, exceto que gosta de dançar, jogar tênis de mesa e que possui uma memória fotográfica.
Quanto à sua orientação política, alguns o classificam como um linha-dura, usando como exemplos o seu papel no Tibete e um discurso em que apoiou protestos contra os EUA após um bombardeio da Otan ter atingido a embaixada chinesa em Belgrado, em 1999. Outros o vêem como um liberal, em razão do seu passado na direção da escola do partido.


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