São Paulo, quarta, 16 de dezembro de 1998

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ORIENTE MÉDIO
Presidente dos EUA encerra visita à região enquanto israelenses e palestinos seguem trocando acusações
Fracassa cúpula de Clinton, Arafat e "Bibi'

Com a filha Chelsea, Clinton põe enfeite em árvore de Natal, em Belém das agências internacionais

O presidente dos EUA, Bill Clinton, encerrou ontem sua histórica visita ao Oriente Médio sem conseguir trazer de volta aos trilhos o processo de paz entre palestinos e israelenses.
Na cúpula realizada em Erez (posto de fronteira entre Israel e a faixa de Gaza), com a presença do premiê de Israel, Binyamin "Bibi" Netanyahu, e do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser Arafat, Clinton tentou acalmar o tiroteio verbal.
O presidente norte-americano disse ter conseguido o compromisso das partes de acelerar os termos acertados no memorando de Wye Plantation, assinado nos EUA em outubro.
Mas os fatos e os discursos apontam no sentido contrário. Não houve declaração ou entrevista coletiva conjunta dos três líderes ao final do encontro. Arafat deixou o local pouco antes dos demais.
Netanyahu reafirmou que não fará novas retiradas de tropas da Cisjordânia antes de a ANP cumprir a sua parte no acordo.
A segunda das três retiradas previstas em Wye deveria ser feita até sexta. Mas o premiê israelense, ameaçado por uma moção de desconfiança no Parlamento -a ser votada na segunda-feira- não deve cumprir o cronograma.
Israel levou à cúpula uma lista com 12 compromissos que afirma terem sido desrespeitados pelos palestinos. Entre eles, estão as declarações de Arafat sobre a criação de um Estado em maio de 99, o confisco de armas ilegais nos territórios e o combate às violentas manifestações na Cisjordânia.
"Eles vieram ao encontro com a intenção de destruir essa nova chance de salvar o acordo de paz", rebateu o ministro do Planejamento palestino, Nabil Shaath.
"Após tentar cancelar a cúpula, Netanyahu e Ariel Sharon (chanceler) participaram da reunião para inventar novos pretextos e mentiras e impor novas condições para desrespeitar os compromissos."
A liderança palestina afirma estar cumprindo os acordos. Anteontem, o Conselho Nacional Palestino (o Parlamento da ANP) revogou as cláusulas da Carta da OLP que pregavam a destruição de Israel.
Clinton presenciou a votação, na cidade de Gaza, na primeira visita de um presidente dos EUA aos territórios sob controle palestino. A ANP tenta tirar proveito político da visita, dizendo que ela é um prenúncio da criação de um Estado independente.
Segundo pesquisa de opinião feita por um canal de TV, 62% dos israelenses entrevistados disseram que a viagem de Clinton à região favoreceu os palestinos. Apenas 14% consideraram que a visita trazia mais benefícios a Israel.
² Prisioneiros
Os palestinos presos em cárceres israelenses anunciaram ontem o fim de sua greve de fome, iniciada em 22 de novembro.
Eles reivindicam a libertação, como decorrência do acordo de paz de Wye. Na ocasião, Netanyahu se comprometeu verbalmente a soltar 750 prisioneiros.
Israel já libertou 250. Os palestinos, porém, protestam, afirmando que 150 deles eram criminosos comuns. Um porta-voz dos presos disse que a greve de fome foi suspensa até que sejam esclarecidos os resultados da visita de Clinton.
O presidente dos EUA disse que Israel e ANP concordaram em criar um "canal informal" para debater a situação dos presos.
Israel se nega a pôr em liberdade detidos por "crimes de sangue". A questão foi o principal motivo dos choques da semana passada na Cisjordânia. Os conflitos entre manifestantes, armados de pedras, e soldados do Exército deixaram quatro palestinos mortos e mais de uma centena de feridos.



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