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São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 2003

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Liderança brasileira é fato, admitem argentinos

MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES

Os argentinos avaliam que o Brasil deverá ser o protagonista da América Latina na próxima década e que, nesse cenário, a estratégia da Argentina deveria ser aliar-se aos países da região, aceitar a liderança brasileira, fortalecer o Mercosul e integrar-se mais à economia mundial.
A conclusão é de pesquisa feita pelo Cari (Conselho Argentino para as Relações Internacionais), no final de 2002, com 2.600 argentinos, para saber a opinião da população em geral (e de formadores de opinião em particular) sobre o papel internacional do país.
A pesquisa mostra que 44% dos argentinos consideram um fato a liderança do Brasil na América Latina. Entre os formadores de opinião, são 57%.
A certeza da liderança do Brasil contrasta com o pessimismo em relação à Argentina: 7 em cada 10 entrevistados dizem que o papel do país no cenário internacional será de baixa importância -eram 2 entre 10 em 1998.

Mais Mercosul
Questionada sobre quais devem ser as prioridades diplomáticas do país, a maioria dos argentinos aponta para estratégias econômicas de inserção na economia mundial, passando por uma maior integração regional.
Oito em cada dez entrevistados dizem que é importante para o país a participação no Mercosul, ainda que a maioria afirme que, até agora, o bloco trouxe poucas vantagens. Novamente, a aprovação dos formadores de opinião é maior: 90% apóiam o Mercosul.
"Os argentinos sempre tiveram uma imagem muito boa do Mercosul. Houve, em alguns momentos, a tentativa de culpar o bloco pelas crises, mas isso partia de setores isolados, protecionistas", diz Julio Burdman, da consultoria Nova Maioria.

Relações carnais
A pesquisa do Cari mostra que na maioria dos temas, tanto na área econômica quanto na política, a avaliação da população converge com a dos formadores de opinião. Há, no entanto, uma exceção: a população parece disposta a enterrar o período de alinhamento do governo argentino com as posições americanas. Já os formadores de opinião continuam apoiando a estratégia.
Na década de 90, o governo Menem (1989-99) estreou um período de alinhamento aos EUA sem restrições, o que o então chanceler argentino, Guido di Tella, classificou de "relações carnais".
Hoje, 54% da população diz que o alinhamento com os EUA prejudicou o país. Apenas 19% acham que a estratégia beneficiou a Argentina. No caso dos formadores de opinião, o quadro se inverte: 54% dos entrevistados diz que o alinhamento com os EUA beneficia o país.

Alinhamento com Brasil
Alguns resultados são contraditórios. Quando questionados sobre com quem a Argentina deveria manter relações mais firmes e estreitas, os argentinos respondem: Europa (24%), EUA (22%) e Brasil (10%). Já no caso dos formadores de opinião, o quadro é um pouco diferente: EUA (38%), Brasil (36%) e Europa (13%). Como a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, o Brasil e os Estados Unidos estão empatados na preferência dos formadores de opinião argentinos.
Contradição? Não, explica Burdman: os argentinos pensam a integração internacional por meio do Mercosul, o que já incluiria o Brasil.
Para o analista da Nova Maioria, há apenas um cenário em que as relações entre Brasil e Argentina não seriam tão estreitas: vitória de Carlos Menem na eleição presidencial, em abril. "A predisposição para fortalecer o Mercosul não diminuiria, mas o desejo de se alinhar aos EUA poderia levar a um maior unilateralismo", diz Burdman.


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