UOL


São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VENEZUELA

Grupo é "equilibrado", diz entidade que havia pedido exclusão do Brasil de negociações; para presidente, é "muito positivo"

Oposição e Chávez elogiam criação de grupo

DA REDAÇÃO

A criação do Grupo de Amigos da Venezuela, anteontem, em Quito, foi elogiada por representantes do governo venezuelano e da oposição, numa rara demonstração de concordância entre as duas partes. O grupo, formado por Brasil, EUA, Espanha, Chile, México e Portugal, tem o objetivo de ajudar o trabalho de mediação da OEA (Organização dos Estados Americanos) na mesa de diálogo entre governo e oposição. A mesa, formada há meses, teve poucos resultados até agora.
O presidente Hugo Chávez chamou a decisão de "muito positiva" ontem, em visita à sede da ONU em Nova York, mas disse que queria que o grupo fosse ampliado para incluir países que mostraram interesse em ajudar a Venezuela a sair da crise, mencionando Rússia, China e França. Os EUA se opõem a participação desses países. "É embrionário ainda, mas temos um começo", afirmou o presidente.
"Consideramos muito positiva a criação do Grupo de Amigos", disse à Folha Agustín Berríos, secretário-geral da CD (Coordenação Democrática), grupo que reúne os principais partidos e organizações de oposição a Chávez. "Os venezuelanos precisamos conseguir resolver o problema sozinhos, mas para isso também é importante o apoio da comunidade internacional", disse Berríos.
O vice-presidente da Venezuela, José Vicente Rangel, qualificou a formação do grupo como "excelente". "Isso confirma que a Venezuela tem muitos amigos e poucos inimigos", disse. Segundo ele, o fato é favorável "não somente para o governo, mas para a nação". "Não podemos ser sectários com isso. É favorável para o país, para todos os venezuelanos", afirmou. "Tudo o que for para colaborar com o entendimento e o diálogo entre os venezuelanos é altamente positivo", disse.
Os elogios da oposição marcam uma mudança de posição. Inicialmente, a CD havia se manifestado contra a proposta brasileira para a formação do grupo.
"A proposta inicial era de criar um grupo paralelo, que ignorava a mesa de diálogo [da OEA]. Mas ele seria inútil se tivesse a mesma função que a mesa, e, se fosse para contradizê-la, acabaria liquidando com a possibilidade de uma mediação", disse a advogada Rosario Orellana, assessora da CD e vice-chanceler entre 1989 e 1991.
Para ela, Chávez pode ter manipulado a proposta brasileira para passar uma imagem de que o grupo apoiaria ele, não o diálogo. "Agradecemos ao governo brasileiro por ter situado sua proposta dentro do marco da mesa de diálogo", afirmou.
Para Berríos, as críticas à postura brasileira teriam se originado a partir da visita a Caracas, em dezembro, de Marco Aurélio Garcia, assessor internacional de Lula. Em sua opinião, Garcia teve uma "atuação errática e parcial". Ele critica também o envio, posterior à visita, de um navio brasileiro com gasolina para a Venezuela, que enfrenta falta do produto por causa da greve da oposição, iniciada em 2 de dezembro.
"Esses fatos geraram insatisfação na população, o que gerou manifestações espontâneas de repúdio ao Brasil. A Coordenação Democrática não convocou nenhuma manifestação contra o governo brasileiro", afirmou.
Ele também elogiou a conformação "equilibrada" do Grupo de Amigos. Na segunda-feira, o deputado Timoteo Zambrano, membro da CD, havia pedido aos EUA, que tinham proposta paralela para a formação de um grupo de amigos, que excluísse o Brasil.
"O grupo foi constituído de maneira balanceada, de acordo com a proposta feita pela Coordenação Democrática", disse Berríos. "Cada um dos países pode fazer um aporte valioso, porque o grupo é um conjunto representativo da comunidade internacional com interesses econômicos, políticos e culturais na Venezuela", afirmou.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Liderança brasileira é fato, admitem argentinos
Próximo Texto: Multimídia: Jornais venezuelanos dão pouco destaque à negociação
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.