|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VENEZUELA
Grupo é "equilibrado", diz entidade que havia pedido exclusão do Brasil de negociações; para presidente, é "muito positivo"
Oposição e Chávez elogiam criação de grupo
DA REDAÇÃO
A criação do Grupo de Amigos
da Venezuela, anteontem, em
Quito, foi elogiada por representantes do governo venezuelano e
da oposição, numa rara demonstração de concordância entre as
duas partes. O grupo, formado
por Brasil, EUA, Espanha, Chile,
México e Portugal, tem o objetivo
de ajudar o trabalho de mediação
da OEA (Organização dos Estados Americanos) na mesa de diálogo entre governo e oposição. A
mesa, formada há meses, teve
poucos resultados até agora.
O presidente Hugo Chávez chamou a decisão de "muito positiva" ontem, em visita à sede da
ONU em Nova York, mas disse
que queria que o grupo fosse ampliado para incluir países que
mostraram interesse em ajudar a
Venezuela a sair da crise, mencionando Rússia, China e França. Os
EUA se opõem a participação
desses países. "É embrionário
ainda, mas temos um começo",
afirmou o presidente.
"Consideramos muito positiva
a criação do Grupo de Amigos",
disse à Folha Agustín Berríos, secretário-geral da CD (Coordenação Democrática), grupo que reúne os principais partidos e organizações de oposição a Chávez. "Os
venezuelanos precisamos conseguir resolver o problema sozinhos, mas para isso também é importante o apoio da comunidade
internacional", disse Berríos.
O vice-presidente da Venezuela,
José Vicente Rangel, qualificou a
formação do grupo como "excelente". "Isso confirma que a Venezuela tem muitos amigos e
poucos inimigos", disse. Segundo
ele, o fato é favorável "não somente para o governo, mas para a nação". "Não podemos ser sectários
com isso. É favorável para o país,
para todos os venezuelanos", afirmou. "Tudo o que for para colaborar com o entendimento e o
diálogo entre os venezuelanos é
altamente positivo", disse.
Os elogios da oposição marcam
uma mudança de posição. Inicialmente, a CD havia se manifestado
contra a proposta brasileira para a
formação do grupo.
"A proposta inicial era de criar
um grupo paralelo, que ignorava
a mesa de diálogo [da OEA]. Mas
ele seria inútil se tivesse a mesma
função que a mesa, e, se fosse para
contradizê-la, acabaria liquidando com a possibilidade de uma
mediação", disse a advogada Rosario Orellana, assessora da CD e
vice-chanceler entre 1989 e 1991.
Para ela, Chávez pode ter manipulado a proposta brasileira para
passar uma imagem de que o grupo apoiaria ele, não o diálogo.
"Agradecemos ao governo brasileiro por ter situado sua proposta
dentro do marco da mesa de diálogo", afirmou.
Para Berríos, as críticas à postura brasileira teriam se originado a
partir da visita a Caracas, em dezembro, de Marco Aurélio Garcia,
assessor internacional de Lula.
Em sua opinião, Garcia teve uma
"atuação errática e parcial". Ele
critica também o envio, posterior
à visita, de um navio brasileiro
com gasolina para a Venezuela,
que enfrenta falta do produto por
causa da greve da oposição, iniciada em 2 de dezembro.
"Esses fatos geraram insatisfação na população, o que gerou
manifestações espontâneas de repúdio ao Brasil. A Coordenação
Democrática não convocou nenhuma manifestação contra o governo brasileiro", afirmou.
Ele também elogiou a conformação "equilibrada" do Grupo de
Amigos. Na segunda-feira, o deputado Timoteo Zambrano,
membro da CD, havia pedido aos
EUA, que tinham proposta paralela para a formação de um grupo
de amigos, que excluísse o Brasil.
"O grupo foi constituído de maneira balanceada, de acordo com
a proposta feita pela Coordenação
Democrática", disse Berríos. "Cada um dos países pode fazer um
aporte valioso, porque o grupo é
um conjunto representativo da
comunidade internacional com
interesses econômicos, políticos e
culturais na Venezuela", afirmou.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Liderança brasileira é fato, admitem argentinos Próximo Texto: Multimídia: Jornais venezuelanos dão pouco destaque à negociação Índice
|