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ANÁLISE
O profeta nuclear
RAYMOND WHITAKER
DO "INDEPENDENT"
Se alguém encarna a razão pela
qual a crise nuclear com o Irã dá
arrepios em líderes ocidentais, essa pessoa é o presidente do Irã,
Mahmoud Ahmadinejad, 49.
Sua eleição no ano passado surpreendeu milhões de iranianos,
além do restante do planeta. Desde então, ele atraiu duras críticas
por afirmar que Israel deveria ser
"apagado do mapa" e questionar
a existência do Holocausto.
Palavras estarrecedoras de um
líder cujo país parece estar disposto a um confronto com a comunidade internacional por conta de
seu programa nuclear. Ele adota a
linha oficial ao afirmar que seu
programa tem fins pacíficos (embora o Irã, grande produtor de petróleo e detentor da segunda
maior reserva de gás natural do
planeta, nunca tenha explicado
por que precisa de energia nuclear) e classifica as críticas internacionais de "ruído". As potências ocidentais, segundo disse Ahmadinejad na semana passada,
são um "grupo de déspotas".
A preocupação causada por sua
retórica é ainda maior porque
pouco se sabe sobre Ahmadinejad. Alguns reféns americanos
que ficaram 444 dias, entre 79 e 81,
na Embaixada dos EUA em Teerã
dizem que ele estava entre os seqüestradores. E ele foi acusado de
elo com o assassinato de políticos
curdos exilados na Áustria.
George W. Bush ordenou investigação sobre a tomada de reféns
na embaixada, mas alguns líderes
da ação já disseram que Ahmadinejad não teve nada a ver com ela.
Para Teerã, trata-se de uma campanha dos EUA e da "mídia sionista" para desacreditá-lo.
Mais preocupante é sua identificação com o culto do "imã escondido", o 12º e último dos imãs reverenciados pelos xiitas. Estes
crêem que o imã voltará num momento de grande agitação para
derrotar as forças do mal.
Seria possível dizer que se trata
de uma teoria da conspiração.
Mas um DVD que circula no Irã o
mostra numa conversa reveladora com um aiatolá conservador,
no qual ele fala de seu discurso desafiador na ONU no ano passado.
"Alguém de nosso grupo me
disse ter visto, quando saudei o
profeta Muhammad, uma luz verde à minha volta, fiquei num tipo
de aura. Eu cheguei a senti-la, a atmosfera mudou, e, naqueles 27 ou
28 minutos, todos os líderes do
mundo deixaram de piscar.
Quando digo que eles não mexeram uma pálpebra, não exagero.
Eles ficaram de um modo que parecia que uma mão os segurava."
Ahmadinejad era desconhecido
quando foi eleito prefeito de Teerã em 2003 -só 12% dos eleitores
votaram. Embora tenha doutorado em engenharia, sua aparência
é a de um trabalhador. Sua posses
se resumem a um carro de 30 anos
e a uma pequena casa.
Mas as realidades do poder são
outra história. Ele tem de lidar
com clérigos poderosos no trato
de temas como o desenvolvimento nuclear. Além disso, seu plano
de dar aos pobres parte da renda
do petróleo desagrada à elite econômica, que teme a inflação.
"Ahmadinejad prometeu muito, mas não conseguirá cumprir.
Muitos pensam que seus atos sobre o Holocausto e a questão nuclear se devem ao fato de ele ter
pouco controle sobre políticas
domésticas", disse Ali Granmayeh, ex-diplomata iraniano -hoje baseado em Londres.
Há quem diga que o Parlamento
poderá usar seus poderes constitucionais para tirá-lo do poder
antes do primeiro aniversário de
seu mandato. Mas isso será difícil,
pois o presidente tem um mandato popular forte. Embora boa parte do mundo queira que os iranianos se livrem de seu turbulento líder, talvez tenhamos de agüentar
seus factóides por algum tempo.
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